Depois do anúncio feito pela maioria dos compositores do Festival da Canção deste ano, sobre um boicote à Eurovisão 2026 em caso de vitória no certame, o ESC 38N falou com uma das artistas - Rita Dias, que vai ao FC após conquistar uma das vagas da livre submissão - e obteve mais detalhes sobre como todo este posicionamento se processou. Quem se chegou à frente com a iniciativa? Como reuniram para tomar esta decisão? Todos os 16 artistas falaram entre si, ou os 4 que não 'assinaram' o acordo ficaram de fora? Questões cujas respostas encontrará aqui!
Portugal (e aqui a RTP) foi um dos que votou positivamente e que não se opôs à presença e continuidade do país na competição internacional, o que, desde então, tem levantado ondas de algum protesto à escala nacional - entre artistas, opinião pública, e fãs do certame. Havendo quem também, ainda assim, aplauda a atitude da estação pública.
Invariavelmente, o Festival da Canção do próximo ano estará a ser, diretamente, condicionado por toda esta situação, e pouco tempo depois saiu o resultado de um não boicote de Portugal ao ESC (como fizeram Espanha, Irlanda, Eslovénia, Países Baixos e Islândia).
E de que forma? Com um comunicado oficial lançado por 12 dos compositores (em 16) que este ano estarão a concurso na final nacional portuguesa para a Eurovisão - como lhe contámos aqui.
Sabendo o apelo feito por estes compositores (e, no caso, dos intérpretes escolhidos por si, caso não sejam eles a defenderem as respetivas canções), resta saber como tudo começou: ou seja, quem tomou a iniciativa de reunir os artistas e de falar sobre este boicote. Todos reuniram? O que ficou definido? Quem não assinou o coletivo, esteve presente ou quis, de imediato, excluir-se do movimento? E o que opinam depois da RTP não 'arredar pé' e manter-se na Eurovisão?
O ESC 38N conversou com Rita Dias, compositora selecionada para o FC 2026 por livre submissão (já esteve no Festival em 2018) e obteve as respostas a estas questões.
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| Rita Dias (Imagem: Gerador.eu) |
Quem começou a organizar ou foi o primeiro a querer lançar um comunicado?
"Eu vou dizer que isto foi mesmo um movimento coletivo. A mensagem que me chegou veio da Inês Sousa, que por sua vez tinha sido contactada, salvo erro, pelo Francisco Fontes. Mas a primeira manifestação foi a de tentar juntar toda a gente no grupo de WhatsApp, para vermos quem é que conhecia quem. Ainda assim, a vontade do comunicado e de sermos um coletivo nesta ideia [de boicote ao ESC] estava em todos".
"Houve sim foi uma necessidade logística de nos organizarmos e de alguém que ia chamando alguém para começarmos a fazer isto. Mas a ideia de nos posicionarmos em conjunto veio de todos".
Anunciar apenas após saber-se o que a RTP ia decidir em relação ao ESC
"Só queríamos tomar esta iniciativa depois de conhecermos o posicionamento da RTP, que aconteceu na semana passada. Quando percebemos que éramos unânimes em relação à não ida à Eurovisão, aquilo que foi mais discutido foi sobre se anunciaríamos agora ou mais à frente. Mas entendemos em conjunto que faria sentido ser já. Mas a posição de não ir ao Festival era de todos, destes que fizeram parte do comunicado".
Rita Dias já sabia que não queria ir ao ESC quando submeteu um tema para o FC (se Israel não fosse excluído)
"Ao início, e depois de ser selecionada pela RTP para o Festival da Canção, como não havia ainda nenhuma decisão nem sabíamos o posicionamento do canal, não havia ainda a necessidade de também me posicionar publicamente. Também não se sabia ainda se Israel ia, efetivamente, participar ou não".
"Isto para mim, junto, fazia a diferença. E eu confesso que acreditava que ia haver essa votação e que Israel fosse excluído, como aconteceu com a Rússia. Portanto estávamos num espaço ainda cinzento, e sem estas informações não sentia a necessidade de dizer o que fosse. Só senti eu e os que a mim se juntaram depois daquilo que ficou definido pela organização".
"Mas porque é que demorámos tanto tempo a dizer alguma coisa? Porque organizar um coletivo demora, só nos conseguimos reunir online na segunda-feira (8/12), e depois foi organizar para comunicar publicamente".
"Ainda assim, como disse, desde início que já estava em mim que se a decisão fosse esta, ou que se Israel fosse admitido, que eu não iria. E o que houve que me descansou foi o regulamento do Festival da Canção deste ano, que dizia logo que o vencedor não era obrigado a ter de ir à Eurovisão".
Todos os 16 compositores foram incluídos nesta reunião antes do comunicado, mesmo os que não querem boicotar a Eurovisão?
A resposta é sim: "Nós estamos todos no mesmo grupo. Por motivos de indisponibilidade, houve alguns que não estiveram nessa reunião, mas um deles, que não assinou o comunicado, esteve connosco a discutir o assunto".
"Toda a gente está e estava informada do que ia acontecer, tendo sido esta uma ação coordenada entre os 16 compositores a concurso este ano".
"E reitero que existe uma compreensão de ambas as partes, eles compreendem a nossa, e nós a deles".
O sentimento depois de a RTP voltar a reafirmar a sua participação no ESC
"A nossa esperança era a de que a RTP tomasse outra posição. Temos o caso dos próprios trabalhadores, a petição, os próprios artistas do FC... achávamos que iria haver um recuo, o que não aconteceu. Mas o canal diz compreender o nosso posicionamento. Existe esse respeito e é algo que tenho a reconhecer".
No fim, Rita Dias diz ainda: "Por nós gostarmos da Eurovisão entendemos que não faz sentido ignorar o que está a acontecer".
Recorda-se que os compositores do FC 2026 que assinaram o comunicado conjunto e que assumiram um boicote à Eurovisão em caso de vitória foram: Evaya, Cristina Branco, Djodje, Francisco Fontes, Gonçalo Gomes, Inês Sousa, Bateu Matou, Jacaré, Marquise, Nunca Mates o Mandarim, Pedro Fernandes, e Rita Dias.
Os que não assinaram, assumindo-se assim a ida ao ESC caso vençam a final nacional: André Amaro, Bandidos do Cante, AGRIDOCE, Dinis Mota, e Sandrino.


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