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[Crónica] Finalmente, Itália! (E finalmente entendemos o significado de staging)

Ah, a Itália, o melhor país atualmente no concurso, aquele que é incapaz de nos presentear com uma má música. Finalmente fez-se justiça. Chegou com seis anos de atraso, mas chegou. Os Måneskin não eram os meus favoritos (já lá vamos), mas eram o meu segundo lugar e quão bom é ver o meu país preferido vencer com uma música do meu género preferido. Se mereceram? A Itália merece sempre. Merecia o Mengoni, mereciam os Il Volo, merecia o Gabbani, mereciam o Ermal e o Fabrizio e merecia o Mahmood. Aceito como uma vitória de todos eles e de todos os meus votos distribuídos pelos italianos ao longos dos anos.

Como já tive o prazer de falar da organização do concurso, não vos vou maçar. Mas gostava sinceramente que voltássemos aos belos dias de sorteio da ordem de atuação porque é demasiado óbvio que há favorecimento de certas músicas.

Sabem quem é que sempre disse que Portugal ia à final? Deixem-se de coisas e não digam que foram vocês, porque ninguém o dizia. Eu própria disse aos The Black Mamba, no final da entrevista que fizemos com eles, que iam ficar na semifinal. Claro que engoli tudo isso depois de ver as imagens do ensaio, mas estou aqui para o admitir. Se eu quisesse dar numa de Cristina Ferreira, tinha muitos comentários de facebook por onde pegar para provar que ninguém dizia bem da nossa música. É datada? É. É em inglês? É. É a nossa segunda melhor classificação do século? É. Porquê? Porque finalmente Portugal soube aproveitar o palco e fez um staging digno. Há uma primeira vez para tudo. Primeiro ganhámos, agora temos staging. Qualquer diz fazemos um Festival da Canção que não dure uma eternidade. São pequenos passos para grandes conquistas. Parabéns, The Black Mamba. Por serem fiéis a vocês mesmos, por levarem uma música com qualidade e por reconhecerem que havia outras músicas com qualidade.

Por falar em músicas com qualidade, atente nos seguintes versos:

"Quando ela entra no club
Ela é so good, I just can't get enough
Ela passa, eu olho
Ela parte-me o pescoço
Que ela tem aquele corpo que eu digo
What the fuck and so what, so what, so what
Eu não tenho culpa
Que ela tenha aquele butt"

Confesso que foi difícil escolher os melhores versos e foi ainda mais difícil não vomitar enquanto lia isto, mas achei que seria estupidez da minha parte mandar bitaites sem conhecer o trabalho de quem mandou bitaites esquecendo-se que um belo dia decidiu lançar uma música assim. Notem que não coloquei música entre aspas apesar de ter muita vontade. Não o fiz porque aprendi com o tempo que há vários tipos de música e, por muito que consideremos uma música lixo, fica bem respeitar o trabalho dos outros. Mas o compositor desta obra-prima, e apologista de que a música portuguesa era a única real em competição, tem só 5 anos a mais do que eu e, portanto, não terá ainda maturidade suficiente para entender isto. Está provado, num estudo que acabei de inventar, que gente que faz músicas sobre fraturas no pescoço não desenvolve tão rapidamente a parte do cérebro que nos faz estar calados quando não temos nada de jeito para dizer. Podem pensar: "ai, mas que infantil responder a haters e dar-lhes tempo de antena", pois é, mas eu não sou como o Jendrik e, portanto, eu sinto ódio. E notem que a resposta é dirigida a uma pessoa porque foi a que mais me irritou, mas serve para todos os pseudo intelectuais da música que acham que a nossa música é superior a qualquer um do top 3.

A parte que mais me custou este ano foram os zero pontos. Não os da Alemanha que se pôs a jeito (nem os da Espanha porque confesso que me rio sempre) ou os dos Países Baixos, mas sim os do Reino Unido. Aliás, permitam-me corrigir-me a mim própria como se não tivesse um botão para apagar: os zero do James Newman. É que com os zero do Reino Unido eu lidei bem. Não merecem mais que isso pelo nível de esforço que colocaram naquele palco (que é equivalente aos pontos recebidos). Já o James Newman não merecia zero pontos. É certo que a música do ano passado era melhor e provavelmente mais memorável e mais adequada à voz dele. É certo que ele não esteve no seu melhor vocalmente. É certo que não tem a experiência de palco de muitos dos artistas em competição. Mas zero? Alguém que se mostrou tão entusiasmado por participar no concurso e claramente deu tudo de si (com uma música decente), não merecia. Felizmente teremos sempre o álcool para ajudar. Tudo bem, eu continuarei atenta ao seu percurso.

Olhando para o top 10, não há uma música má. Há músicas de vários géneros, várias línguas, cantadas por artistas muito diferentes. É um orgulho olhar para estas músicas e não ter vergonha de dizer que sou fã da Eurovisão. A Eurovisão que nos deu os Måneskin, a Barbara Pravi, o Gjon's Tears, o Dadi, os Go_A, os Blind Channel, a Destiny, os The Roop, a Manizha, a Stefania. E que, fora dos dez primeiros, nos deu também a Victoria, os Hooverphonic, o James Newman e tantos outros. Fica difícil dizer mal do concurso assim.

E a minha preferida? Nunca pensei dizer isto, mas era a França, como era a de muita gente. Eu sabia que "Voilà" ia ser a minha preferida ainda antes de a ouvir por ter o Igit como co-compositor. Não sabia que ia passar a seguir a Barbara e ouvir os seus trabalhos anteriores. "Voilà", além de ser uma obra de arte a nível musical, é-o também a nível poético. A letra, a música, a envolvência, a interpretação são de uma perfeição tremendas. A parte final da atuação é das melhores coisas que já vi naquele palco e, ainda assim, tão simples. Ainda bem que a Eurovisão existe. Ainda bem que a Barbara não desistiu da música. Ainda bem que não quis cantar as músicas que escreviam para ela para ser mais popular. Ainda bem que a europa reconheceu o talento. E agora, amigos franceses, é lidar!

Imagem/Vídeos: Eurovision

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