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[Crónica] Finalmente, Itália! (E finalmente entendemos o significado de staging)

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Ah, a Itália, o melhor país atualmente no concurso, aquele que é incapaz de nos presentear com uma má música. Finalmente fez-se justiça. Chegou com seis anos de atraso, mas chegou. Os Måneskin não eram os meus favoritos (já lá vamos), mas eram o meu segundo lugar e quão bom é ver o meu país preferido vencer com uma música do meu género preferido. Se mereceram? A Itália merece sempre. Merecia o Mengoni, mereciam os Il Volo, merecia o Gabbani, mereciam o Ermal e o Fabrizio e merecia o Mahmood. Aceito como uma vitória de todos eles e de todos os meus votos distribuídos pelos italianos ao longos dos anos.

Como já tive o prazer de falar da organização do concurso, não vos vou maçar. Mas gostava sinceramente que voltássemos aos belos dias de sorteio da ordem de atuação porque é demasiado óbvio que há favorecimento de certas músicas.

Sabem quem é que sempre disse que Portugal ia à final? Deixem-se de coisas e não digam que foram vocês, porque ninguém o dizia. Eu própria disse aos The Black Mamba, no final da entrevista que fizemos com eles, que iam ficar na semifinal. Claro que engoli tudo isso depois de ver as imagens do ensaio, mas estou aqui para o admitir. Se eu quisesse dar numa de Cristina Ferreira, tinha muitos comentários de facebook por onde pegar para provar que ninguém dizia bem da nossa música. É datada? É. É em inglês? É. É a nossa segunda melhor classificação do século? É. Porquê? Porque finalmente Portugal soube aproveitar o palco e fez um staging digno. Há uma primeira vez para tudo. Primeiro ganhámos, agora temos staging. Qualquer diz fazemos um Festival da Canção que não dure uma eternidade. São pequenos passos para grandes conquistas. Parabéns, The Black Mamba. Por serem fiéis a vocês mesmos, por levarem uma música com qualidade e por reconhecerem que havia outras músicas com qualidade.

Por falar em músicas com qualidade, atente nos seguintes versos:

"Quando ela entra no club
Ela é so good, I just can't get enough
Ela passa, eu olho
Ela parte-me o pescoço
Que ela tem aquele corpo que eu digo
What the fuck and so what, so what, so what
Eu não tenho culpa
Que ela tenha aquele butt"

Confesso que foi difícil escolher os melhores versos e foi ainda mais difícil não vomitar enquanto lia isto, mas achei que seria estupidez da minha parte mandar bitaites sem conhecer o trabalho de quem mandou bitaites esquecendo-se que um belo dia decidiu lançar uma música assim. Notem que não coloquei música entre aspas apesar de ter muita vontade. Não o fiz porque aprendi com o tempo que há vários tipos de música e, por muito que consideremos uma música lixo, fica bem respeitar o trabalho dos outros. Mas o compositor desta obra-prima, e apologista de que a música portuguesa era a única real em competição, tem só 5 anos a mais do que eu e, portanto, não terá ainda maturidade suficiente para entender isto. Está provado, num estudo que acabei de inventar, que gente que faz músicas sobre fraturas no pescoço não desenvolve tão rapidamente a parte do cérebro que nos faz estar calados quando não temos nada de jeito para dizer. Podem pensar: "ai, mas que infantil responder a haters e dar-lhes tempo de antena", pois é, mas eu não sou como o Jendrik e, portanto, eu sinto ódio. E notem que a resposta é dirigida a uma pessoa porque foi a que mais me irritou, mas serve para todos os pseudo intelectuais da música que acham que a nossa música é superior a qualquer um do top 3.

A parte que mais me custou este ano foram os zero pontos. Não os da Alemanha que se pôs a jeito (nem os da Espanha porque confesso que me rio sempre) ou os dos Países Baixos, mas sim os do Reino Unido. Aliás, permitam-me corrigir-me a mim própria como se não tivesse um botão para apagar: os zero do James Newman. É que com os zero do Reino Unido eu lidei bem. Não merecem mais que isso pelo nível de esforço que colocaram naquele palco (que é equivalente aos pontos recebidos). Já o James Newman não merecia zero pontos. É certo que a música do ano passado era melhor e provavelmente mais memorável e mais adequada à voz dele. É certo que ele não esteve no seu melhor vocalmente. É certo que não tem a experiência de palco de muitos dos artistas em competição. Mas zero? Alguém que se mostrou tão entusiasmado por participar no concurso e claramente deu tudo de si (com uma música decente), não merecia. Felizmente teremos sempre o álcool para ajudar. Tudo bem, eu continuarei atenta ao seu percurso.

Olhando para o top 10, não há uma música má. Há músicas de vários géneros, várias línguas, cantadas por artistas muito diferentes. É um orgulho olhar para estas músicas e não ter vergonha de dizer que sou fã da Eurovisão. A Eurovisão que nos deu os Måneskin, a Barbara Pravi, o Gjon's Tears, o Dadi, os Go_A, os Blind Channel, a Destiny, os The Roop, a Manizha, a Stefania. E que, fora dos dez primeiros, nos deu também a Victoria, os Hooverphonic, o James Newman e tantos outros. Fica difícil dizer mal do concurso assim.

E a minha preferida? Nunca pensei dizer isto, mas era a França, como era a de muita gente. Eu sabia que "Voilà" ia ser a minha preferida ainda antes de a ouvir por ter o Igit como co-compositor. Não sabia que ia passar a seguir a Barbara e ouvir os seus trabalhos anteriores. "Voilà", além de ser uma obra de arte a nível musical, é-o também a nível poético. A letra, a música, a envolvência, a interpretação são de uma perfeição tremendas. A parte final da atuação é das melhores coisas que já vi naquele palco e, ainda assim, tão simples. Ainda bem que a Eurovisão existe. Ainda bem que a Barbara não desistiu da música. Ainda bem que não quis cantar as músicas que escreviam para ela para ser mais popular. Ainda bem que a europa reconheceu o talento. E agora, amigos franceses, é lidar!

Imagem/Vídeos: Eurovision

[Crónica] Esperámos dois anos. Ainda assim, ninguém nos preparou para o que aí vinha

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Este é um olhar que se pretende atento, mas não demasiadamente exaustivo. Depois de longas semanas de variados assuntos eurovisivos, é uma visão circunscrita apenas às mais de três horas e cinquenta minutos de espetáculo da grande final do Festival. Como se isso fosse por si só pouco, não é? Enfrentámos uma final que, teoricamente, esperávamos há demasiado tempo, mas que ainda assim teve a capacidade de nos atordoar com a quantidade de situações em que fomos testando a nossa capacidade de apneia. Pelo menos, senti assim!


Quando percebi que o Festival Eurovisão da Canção 2021 tinha terminado, recuei por uns momentos, e questionei: onde e como é que o tempo passou tão depressa. E nem tantas horas em frente à TV, durante a final do certame, me deslocou desse pensamento. Acho que é sempre um denominador comum a muita gente, e que ao fim ao cabo acontece todos os anos. 

Quero apenas recuperar alguns pontos mais positivos e outros menos engraçados da grande final do ESC 2021. Vou expô-los, mas não vou catalogá-los. Desde já, acho que vão conseguir compreender, pelo tom de escrita, quando menciono algo mais positivo ou, por outro lado, simpaticamente negativo. Simpaticamente, atenção. Tenho vindo a aprender que mesmo quando queremos criticar alguma coisa, temos de o fazer de forma mansa, para que os mais fervorosos comentaristas nem sequer consigam compreender bem o tom da situação. Caso não entendam se estou a elogiar ou a reclamar com alguma coisa, deixem que seja a vossa imaginação a decidi-lo.

1. Nikkie faz um tutorial sobre apresentação aos restantes companheiros
(Ou a vitória do digital sobre a televisão)

Para a edição de 2020 da Eurovisão, Nikkie de Jager, ou também conhecida pela alcunha de NikkieTutorials, foi introduzida como a online host do ano, quase como moderadora dos conteúdos exclusivos do digital, a serem produzidos com os participantes desse ano. Em verdade, foi a única coisa que ainda assim se conseguiu cumprir, mesmo que à distância. De um ano para o outro, a YouTuber saltou para o papel de apresentadora, e eu não tinha entendido como é que isso tinha sequer acontecido. Mas bastou-me ver os três espetáculos deste ano para compreender. E agora, Nikkie prepara um segundo canal de tutoriais, agora dedicado a "como ser bem disposto à frente de uma câmara". Ainda, a aparição de vários conteúdos digitais na pequena tela televisiva foi igualmente um bom momento para demonstrar que os dois universos têm mais pontos em comum do que a separá-los!

2. Running Orders que não nos impressionam
(Ou o regresso do sorteio a 100%)

Quando em 2013 se consolidou que a ordem de atuações da Eurovisão seria decidida pelos produtores do espetáculo, já sabíamos que chegaríamos a este ponto: reclamações a torto e a direito todos os anos, de forma consecutiva, com alegações de que há sempre uns protegidos, em detrimento de países que são constantemente pior tratados. Também sabemos que essa ordem de atuações (agora falo em específico da final) pode ir buscar razão de ser aos resultados que determinado país teve nas respetivas semifinais. Pode ainda advir de algum posicionamento tido nas casas de apostas, ou com base nas opiniões gerais sobre canção X ou Y. 

Ainda assim, o propósito de "garantir a dinâmica do espetáculo" é o ponto principal. Mas algo não terá batido muito certo este ano. Se fosse só este ano, estávamos nós bem. Mas talvez tenhamos reparado que poderá ter sido das vezes em que ficou mais confuso, acho eu! Mais que não seja quando pensamos na alocação desmedida entregue às posições 16. a 20., com todas as canções desses lugares a terminarem no TOP 10 da final (com exceção da Bulgária, que ainda assim ficou em 11.º lugar). Fala-se em dinâmica de espetáculo, mas são capazes de colocar géneros musicais próximos uns dos outros (até artistas que apresentam a mesma indumentária). Claro que aqui a organização não pode ser sempre culpabilizada, mas gostava que voltassem com o sorteio da posição, só para ver no que daria.

3. As canções da final do ESC 2021
(Ou um ano em que podíamos dizer que até gostávamos de tudo porque estávamos sedentos de competição)

Claro que não gostávamos de tudo. Ainda assim, também não apreciávamos só uma ou duas. Acho que posso assumir que estaríamos um bocadinho assim, e foi o que acabei por ir sentindo... A verdade é que conseguimos compreender que estávamos perante um ano em que a competição era forte, não só em termos de "mas quem é que vai ganhar isto?", mas também quando recuamos ao recap de 2020. Dois anos sem Eurovisão poderá ter ajudado, mas foi sem dúvida uma das finais do ESC mais fortes, com muita coisa em aberto, e muita música a guardar no telele.


4. A saga dos ex-vencedores em Interval Acts
(Ou o porquê de Måns Zelmerlöw não ter encontrado mais nada de jeito para fazer na sua vida)

Eu até gosto que a Eurovisão se lembre e recupere os melhores momentos de antigos vencedores desta competição. Mas, fazê-lo ano sim ano sim, e, para ajudar à festa, com os mesmos cromos repetidos, já começa a ficar difícil de tolerar. Não sei, dá sempre o ar que certas personagens estão à espera das duas semanas de maio para pegarem nas suas roupas mais estilosas, saírem de casa, e aparecerem aos olhos do público. Nos restantes 300 e tal dias do ano, é o voltar à toca. Como disse, são vencedores do ESC por alguma razão, e todos (quase todos) gostamos deles. Mas se ficamos presos ao passado, nunca mais encontramos o caminho rumo ao futuro.

4.2 Não é erro mas sim mais um ponto sobre Interval Acts
(Ou a Davina Michelle ter sido melhor que qualquer outro intervalo da final)

A grande final da Eurovisão é sempre intensa, com muito a acontecer. Como já disse, às vezes aproveito os intervalos para descansar os olhos da televisão (ou então para trabalhar para aqui, qual escrav... não, nada disso!). Enfim. No entanto, se houver algum momento que me chame de imediato à atenção, voltarei a olhar para a TV. Durante a final, acho que não aconteceu. Talvez tenha apreciado a presença e a forte entrega vocal de Glennis Grace, que já não sabia por onde andava, mas estando irrepreensível em palco, como recentemente nos habituou.

Ainda assim, foram momentos que souberam a pouco. Fez-se o que se pôde, podem alegar. Mas quando têm um interval act como o protagonizado pela cantora Davina Michelle, relegado para uma primeira semifinal do evento, penso como teria sido giro se o tivessem projetado novamente na final. Continuaria a fazer um brilharete! PS: chega de sketches em carros. Enough is enough


5. Painéis de jurados que continuam a não perceber a tarefa que devem desempenhar
(Ou a falta de vergonha na cara, a 'política', e os pontos para a Moldávia em três passos)

Este é sempre um ponto muito perigoso de se mencionar, e quase que até tenho medo de o fazer, mas é um apontamento necessário. Claro que não é dedicado a todos os grupos de jurados nacionais, já que felizmente ainda há quem saiba o papel que aqui ocupa. Agora, ainda assim. Continuar a colocar o véu da ignorância sobre certas votações de júri, que seguem um linha de assumir um rol tão falacioso, enganoso, comprado, feito e partilhado entre amigos, comparsas ou vizinhos, e de certa forma desacreditadas, vão continuar a retirar mérito a partes cruciais deste concurso.

Não vou estar a fazer um tintim-por-tintim sobre algumas das votações dos jurados nacionais de países A, B ou C, até porque tenho bem consciência de que sabem a quem me dirijo. São sempre os mesmos. Conhecemo-los de cor e salteado. Claro que o caso da Moldávia é o expoente máximo do ridículo este ano. E relembro, não falo aqui do televoto, que seria outra situação com pano para mangas. Ter jurados que consideram "Sugar" a melhor canção da competição de 2021 é uma frase absurda o suficiente, mas aconteceu. Gostos são gostos, mas há performances e prestações vocais a pesar. E qualquer leigo conseguiria perceber isso!

Mesmo assim, faço por dizer que das duas, uma: ou se mantém tudo como está, mas é introduzida uma distinção entre painéis que se comportam como profissionais, e os outros que claramente fogem a essa regra, ou a EBU que pense (novamente) em ter mão firme sobre os casos que se repetem de forma sucessiva. Tirando as exceções apresentadas, o cômputo geral não foi desastroso, e o TOP 10 do júri terá sido merecido (e não digo isto por Portugal ter ficado em sétimo lugar, apesar de também o merecer).

Resultados finais depois da votação dos jurados dos 39 países em competição

6. Um televoto que nos fez dizer "O QUÊ!?" mais do que quatro ou cinco vezes
(Ou a saga dos nul points e a vitória dos países engolidos pelo jury vote)

É aqui que eu vou fazer alusão ao título desta crónica. Esperámos dois anos pela Eurovisão. Todos estávamos a desejar que o momento acontecesse. Contámos os dias. Ainda assim, podiam ter avisado que a apresentação dos resultados da votação do público iria ser totalmente imprópria para pessoas mais sensíveis. Acho que foi imprópria para qualquer um, ponto. Claaaaaaro, não é novidade nenhuma, e eu quase fui pulseira amarela num hospital, depois do esquema da votação de 2017, mas isso porque estava ali Portugal, não é?

Ainda assim, este ano esteve de tal forma recheado de momentos surpreendentes, que sinto que nem depois de 10 repetições do vídeo da votação vou conseguir compreender tudo ao milímetro. Termos tido quatro países a zeros num televoto do público não é só histórico, como um pouco chocante, e até triste. No reverso da medalha, vermos a ascensão da Lituânia, da Finlândia e da Ucrânia também é de tirar o fôlego. E para não falar da batalha final dos últimos três titãs. Acho que esta parte em específico do Festival já devia ter sido nomeada para um Óscar ou outro qualquer prémio internacional. Querem melhor triller do que os resultados de um televoto??

7. O verdadeiro fair play entre artistas, delegações e a reação do público
(Ou como mandar a Europa para um certo sítio mantendo a educação e o respeito)

Há lá maior reação do que a do James Newman e a da delegação do Reino Unido? Juntando às atitudes do público presente na Rotterdam Ahoy, assim como dos restantes participantes da final? Isto perante a excentricidade de 0 pontos atribuídos. Falo do Reino Unido, porque foi a situação mais tensa da noite, mas ainda houve mais distribuições do estilo. No final, todos se apoiavam uns aos outros, a felicidade reinava em cada rosto (Destiny left the room), e o sabor de viver aquela noite sobrepôs-se. Um espírito louvável, e que merece as nossas exaltações!


8. Itália a vencer o certame
(Ou a dor de cabeça da EBU, que já deve ter discutido com os representantes da RAI)

Era esperado? Não era esperado? Estava em primeiro nas casas de apostas! Mas o júri ia desgraçar-lhes a vida! Aceções que fomos vendo ao longo da última semana. Ainda assim, mais de 300 pontos do televoto vieram para arrasar. E agora, só temos de esperar que a emissora italiana não decida converter estes pontos todos em horas de espetáculo, porque o pessoal trabalha cedo a uma segunda-feira, e mais de 3 dias de Festival e de arraial não dão lá muito jeito.

"Zitti E Buoni" nunca foi a minha favorita, mas a atuação dos Måneskin prendeu-me ao ecrã. Tinha outras favoritas, mas a canção venceu bem. Siga, e assunto encerrado. Pragmáticos, sempre.

9. O triunfo de um país menosprezado chamado Portugal
(Ou o manual sobre como cantar em inglês na Eurovisão e conseguir o 2.º melhor resultado do século XXI)

Ontem tivemos a publicação de uma primeira crónica que explicou, passo a passo, o sucesso português, e sim, sucesso, já que vínhamos de uma nomeação de "Portugal vai ficar nos últimos lugares". Acho que devíamos manter aquela receita para nós, certamente continuará a ser útil. Ainda assim, só tenho mais isto a mencionar: Ainda bem que o Tatanka não colocou um par de luvas brancas como espécie de adereço a complementar o estilo elegante e soberbo do smoking apresentado. Ia ficar péssimo. Ainda assim, as luvas brancas estavam lá. Estiveram sempre!...

Tatanka, vocalista dos The Black Mamba, na interpretação de "Love Is On My Side"

E foi este o meu momento pós-Eurovisão. Desde já, as minhas desculpas caso tenha roubado muito tempo. Desculpas também caso esta visão tenha tombado para um lado mais satírico e menos convencional, este último tão mais aprazível da minha pessoa. Senti que, depois de duas semanas de análises a ensaios do ESC 2021, precisava de descomprimir de alguma forma. Ainda assim, a minha honestidade manteve-se! E que a Eurovisão nunca se esgote nos nossos pensamentos!

Imagens: BLITZ/Eurovision.tv/ Vídeos: Eurovision.tv

[Crónica] Como passar de besta a bestial na Eurovisão - The Black Mamba tutorial

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Os The Black Mamba e a sua canção "Love Is On My Side" foram dados como derrotados desde o momento em que venceram o Festival da Canção 2021. Muito poucos eram aqueles que apostariam na passagem da banda à final (eu inclusive) e, como sempre, as redes sociais foram inundadas de críticas à RTP: 
"Vergonha de ser representado por uma canção em inglês." 

"É com isto que vamos lá fora?!", 

"Nem 1 ponto vamos receber!"

Alguns dias após a Grande Final da Eurovisão, a narrativa é outra:

"Portugal devia ter ganho!"

"A Eurovisão é só música com esteroides! O nosso tema era a única canção a sério!"

"Fomos roubados pelo público!"

Analisando este contraste de opiniões, a questão que surge é simples: que raio se passou para "Love is On My Side" se tornar na música do século, de acordo com os críticos do Facebook?

Se acham que este fenómeno científico e inexplicável aconteceu apenas com Portugal, estão bastante enganados, ora vejam:

a) Eurovisão 2012 - Albânia (Rona Nishliu - "Suus")

 

b) Eurovisão 2014 - Holanda (The Common Linnets - "Calm After The Storm")

 

c) Eurovisão 2018 - Irlanda (Ryan O'Shaughnessy - "Together")

 


Todas estas canções passaram de terríveis, chatas e pouco eurovisivas a potenciais vencedoras do concurso. 




Mas o que é que "Love Is On My Side" tem em comum com estas e outras canções pouco apreciadas durante o período de tempo que antecede as semifinais da Eurovisão? 

The Black Mamba Tutorial: 5 passos para mudar a opinião dos críticos do Facebook?


1) Mandar uma canção que represente a antítese daquilo que o eurofã acha que a Eurovisão é.

Europa, este ponto é essencial! Se querem irritar um comentador de rede social e serem dados como perdedores em 5 segundos, é enviar uma canção que não seja nem pop nem balada. E se possível, ressuscitar sonoridades do passado para a canção ser logo carimbada com o selo de "DATADA!". Levar uma canção em inglês também é um fator imprescindível para irritar o comentador… se o doutor em "ciência de opinião" for português, claro!


2) Apresentar a canção no respetivo país com uma realização em televisão chata, para depois surpreender mais facilmente o público europeu.

Importantíssimo! Quanto mais baixas as expectativas relativas à atuação no palco da Eurovisão, melhor! É essencial que na final nacional haja imensos problemas de iluminação e  planos de câmara desleixados para que qualquer melhoria na Eurovisão seja logo de deixar o queixo cair. Para mais conselhos dentro desta área, contactem a RTP. 


3) Corrigir todos os problemas da atuação na final nacional e arrasar no palco da Eurovisão.

Obviamente que este ponto é uma consequência do ponto 2! Não vai uma RTP desleixar-se tanto numa final nacional para depois apresentar a mesma atuação na Eurovisão, não é? Portanto, no palco da Eurovisão é para arrasar: bom jogo de luzes, planos de câmara certeiros e projeções fantásticas.


4) Estar mal colocado nas casas da apostas antes do início dos ensaios da Eurovisão.

Muito importante! Toda a gente adora ver o renascer das cinzas. É preciso que o país esteja muito mal classificado nas casas de apostas, para que depois dos ensaios, após apresentar a melhor atuação da história da Eurovisão, subir por ali fora, criando o buzz necessário antes da semifinal!


5) Retratar na canção uma história comovente para emocionar a Europa.

Quanto mais trágica e dramática a história, melhor! A canção deverá ser sobre alguém ou um momento difícil da vida, para que no dia das semifinais os votos de coração partido abundem! Como fator adicional, mas não obrigatório, se a pessoa ou momento retratados na canção forem sobre o país anfitrião da Eurovisão, melhor!




The Black Mamba seguiram todos estes passos à risca e olhem só: um honroso 12.º lugar na final da Eurovisão, rasgando todas as teses minuciosas sobre o porquê de Portugal não ter nenhuma hipótese na edição de 2021. Vale a pena lembrar que todo este texto é sarcástico! Não vá Espanha querer aplicar este método para fugir ao centésimo bottom 5 consecutivo, visto que eles já devem estar por tudo!

Muitos parabéns aos The Black Mamba e à RTP, que fizeram um excelente trabalho em Roterdão! Vemo-nos para o ano!

Vídeos e Imagens: Eurovision Song Contest

[Crónica] Postas de pescada sobre a primeira semifinal

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Devem estar a perguntar-se de onde vem este título extremamente imaginativo, não é verdade? Vem, precisamente, do facto de eu não ter imaginação para um melhor. Assim sendo, achei digno deixar este, porque assim ficam já com as expetativas baixas.

Vamos falar primeira da organização? Vamos. Os postcards são maus. Não sei se alguém lhes disse que um ecrã verde dá para fazer muita coisa ou que é possível fazer postcards sem artistas. Preferimos com eles? Sim, mas umas imagens dos Países Baixos seriam também bastante agradáveis (menos no caso da Estónia, aí preferimos todos ver o Uku aos canais de Amesterdão ou aos campos de tulipas).

Dos quatro apresentadores, a Nikki é claramente a maior, literal e figurativamente. Os restantes parecem tão felizes no palco como eu no meu local de trabalho, o que faz sentido, porque também eles estão a trabalhar. O enchimento de chouriços foi mal praticado. Isto é gente que nunca viu um jogo do Nacional da Madeira em que metade do tempo é gasto a divagar sobre se Dom Sebastião vai ou não aparecer em campo.

Como isto é o que menos importa, passemos às músicas. Começámos com a Lituânia. Nada a dizer aqui. Uma atuação competente e uma passagem mais que merecida. Passamos para a Eslovénia. Lembram-se de quando a Ana disse que a música não era uma balada? Não sei o que ela considera como balada, mas já ouvi músicas de igreja mais animadas que esta. Forte concorrente pelos últimos lugares.


A Rússia foi a primeira grande atuação da noite. Não sou especial fã da música, mas sempre achei que seria top 10 facilmente. A Manizha é uma artista fenomenal, a atuação muito boa e a mensagem ainda melhor. É impossível ficar indiferente ao momento em que a cantora se ajoelha perante as imagens de todas as outras mulheres russas.

A Suécia traz a minha música sueca preferidas dos últimos tempos, mas também um palco muito aquém daquilo a que estamos habituados. Também vai ser facilmente top 10. A Austrália fez um trabalho fenomenal com os recursos que tinha. Notou-se a milhas que a Montaigne não estava em Roterdão e é pena, porque teria conseguido a final. Com o que tinham, fizeram muito. É uma pena o governo australiano ter dualidade de critérios e apenas alguns poderem representar o país internacionalmente. São escolhas. A Montaigne só tem de ficar orgulhosa do que fez. Ouvi pela primeira vez a música da Macedónia do Norte até ao fim e gostava de não ter ouvido. Ele esteve melhor do que eu pensava que iria estar, mas também me aborreceu mais do que eu pensava que ia aborrecer. 


Segue-se a Irlanda, depois de uma pausa enorme e mais uns segundos de enchimento de chouriços. Entre o final da Macedónia e o início da Irlanda passaram-se, ao todo, 6 minutos e 40 segundos. Será "Maps" a atuação mais complexa a alguma vez ter pisado o palco eurovisivo? Já tivemos pessoas espetadas num pau no espaço, por isso, talvez não. Ainda assim, foi preciso o tempo de duas músicas para preparar o palco. Mas não vamos criticar. Afinal, este concurso costuma ser organizado no espaço de um ano. Sabemos lá nós a pressão que é ter um total de dois anos para ficar tudo pronto. Dito isto, bom esforço, Irlanda, o último lugar ninguém vos tirou.

O Chipre tem uma atuação perfeita. Se gosto da música? Não, mas é inegável que o palco, a voz, a interpretação e a coreografia estão impecáveis. Agora, dá para variar um pouco em 2022? Quem pôs a Noruega logo a seguir é o maior. Quem continua a permitir asas de anjo na Eurovisão devia levar um tiro.


Via a Croácia como finalista. É o melhor esforço do país em muitos anos, mas foi totalmente abafado por outras músicas e atuações (melhores) do mesmo género. Aposto que ficou em 11.º lugar. A Bélgica era a minha preferida da semifinal. O nível de esforço que colocaram na atuação foi nenhum, mas é inegável que a Geike é vocalmente perfeita. É bom ver que a música também é importante no concurso.


Seguiu-se Israel e eu tenho duas coisas a dizer sobre o país (ou melhor, sobre a participação do país no concurso). A primeira tem a ver com a gritaria no final. Amiga, sabemos que és muito boa, mas era necessário? Não. Em segundo lugar, vi muitos comentários que diziam que Israel não devia ter passado devido à situação atual do país. Concordo. Primeiro, porque certamente a Eden é culpada da situação e um concurso musical está em tudo relacionado com os ataques à Palestina. Depois, porque era bom tê-los eliminado para eles aprenderem uma lição. É que estas pessoas que bombardeiam outros países são gajos para parar os bombardeamentos e ir ver a Eurovisão. Ficam ali duas horinhas a ver televisão, que bombardear também cansa. No final, viam que tinham sido eliminados e deixavam logo de rebentar outros países porque percebiam o quão chateados os europeus estavam com a situação. Os líderes mundiais reúnem-se tantas vezes para aplicar sanções a vários países, quando podiam simplesmente fabricar resultados eurovisivos para resolver as guerras. Amigos, é falar com o Azerbaijão que eles percebem de compras. (Sim, é ironia e há sempre quem não a perceba.)

A Roménia tinha uma das minhas músicas preferidas. Muita gente diz que não devemos criticar a Roxen porque, hoje em dia, apontar factos é visto como criticar. O facto é que a Roxen esteve mal vocalmente. Não há como negar. A culpa é dela? Não, porque não duvido que tenha dado o seu melhor. A culpa é da emissora (que agora lhe mete as culpas) que a escolheu sabendo da sua inexperiência.


O Azerbaijão esteve muito melhor do que eu imaginava. O mesmo para a Ucrânia. Continuo a não gostar minimamente da música, mas seria impossível e injusto não ir à final. E o que dizer de Malta? A música não é fenomenal, mas a Destiny? A Destiny é incrível (mesmo não tendo estado a 100%) e não há mais nada que possa dizer sobre ela.

Os resultados foram os que tinham de ser. Não podemos falar de injustiças porque todos os finalistas merecem a final. Agora é esperar para os The Black Mamba se juntarem a estes 10 e a França ganhar isto tudo.

Imagem/Vídeos: Eurovision

[Crónica] Um milhão de coisas a dizer sobre o Sanremo 2021

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Meus caros, têm dormido bem? Eu tenho, mas pouco. Dez horas e 26 músicas depois, o que me apraz dizer é que ainda não é este ano que a Itália ganha a Eurovisão. Há algumas boas músicas neste lote, mas confesso-me ligeiramente desiludida no geral. 

O Sanremo é, no entanto, um espetáculo maravilhoso. Se demora tempo a mais? Claro, mas esse tempo é tão bem ocupado. Os apresentadores são os melhores. Não há comparação possível. Espero que saibam falar inglês porque nós merecemos uma eurovisão apresentada pelo Amadeus e o Fiorello. Também espero que adotem o público feito de balões para a Eurovisão. 

Dito isto, se calhar vamos às músicas, certo? Sigamos a ordem da votação do júri revelada ontem para deixar o mais interessante para o fim e tentar captar a vossa atenção (é assim que se faz, não é?).

Aiello ficou no último lugar, possivelmente, por não saber cantar. Tinha visto um comentário sobre a música dele ser muito boa, mas ele ser uma pessoa péssima. Não posso opinar quanto à segunda parte, mas a primeira é certamente verdade. Uma pena ele ter-se esquecido que era importante saber cantar num concurso de música.

Do 25.º ao 21.º classificados não me lembro de uma única parte das músicas. Isto quererá dizer alguma coisa e não é nada de bom.

Madame ficou, injustamente, no 20.º lugar. A música é muito boa, mas suponho que, tal como eu, o júri não seja grande fã de autotune. "Bianca luce nera" é uma canção péssima, mas a atuação, com as máscaras, é, sem dúvida, memorável (pelos piores motivos, mas é). Os Coma Cose estiveram muito mal em palco. Ela estava mais desconfortável do que eu se fosse fazer uma colonoscopia. Colapesce e Dimartino foram, facilmente, dos piores e, ainda assim, conseguiram um 17.º lugar.

Em 16.º ficou Max Gazzè que certamente estará na mente de toda a gente pelo look à Leonardo DaVinci. Se o quero na Eurovisão? Secretamente, sim. É a joke entry que merecemos depois de andarmos a roubar a Itália anos a fio. 

Os Mansekin, uma banda muito famosa lá no sítio, ficaram apenas em 15.º. Pareceu-me propositado para lhes tirar quaisquer hipóteses de um top 3. Há tão pouco rock no Sanremo, que foi refrescante vê-los. A música é muito boa e eles são impecáveis em palco. Uma pena já estarem fora da corrida.

Seguem-se na classificação La Rappresentante Di Lista e Fulminacci. Lembro-me das músicas? Não, mas recordo-me o suficiente para saber que estão em lugares demasiado altos. 

Gaia, cujo grande êxito por terras italianas é cantado em português, ficou de fora do top 10 mesmo tendo uma música diferente e tendo estado muito bem em palco. Não entendo. Arisa continua a ir ao Sanremo, depois de já o ter ganhado, sabendo que não o vai voltar a ganhar. Já sabemos que quer muito ir à Eurovisão, mas não vai dar. Paciência. 

Em 10.º lugar ficou a minha música preferida do concurso, se tivermos em conta exatamente isso: a música. Francesco Renga tem anos disto e é um cantor muito competente. Sucede que, na passada terça-feira, assassinou por completo o seu tema. Ainda assim, é uma música com um instrumental estrondoso. Espero que lhe consiga fazer justiça sexta e sábado.

"Mai dire mai (La Locura)" foi inesperado e muito bom. É o melhor rap deste ano. Os Lo Stato Sociale voltaram, mas com uma música muito inferior à de 2018. O azar deles foi terem concorrido com "Una Vita En Vacanza" logo depois de o Gabbani ganhar. Esta música, apesar de muito boa e com uma atuação maravilhosa, fica aquém.

Francesca Michielin e Fedez eram os grandes favoritos à partida e serão, com toda a certeza, dos mais votados pelo público. Ela, à parte do cabelo, esteve muito bem. Ele foi o oposto. Para piorar a coisa, a música não é impactante. Não é má, mas também não é tudo o que esperávamos. 

Fasma, o 6.º classificado, traz uma música muito bem construída, mas também traz mais autotune que voz, o que tira um pouco o encanto da coisa e me faz não o colocar nos meus favoritos.

Entramos no top 5. Noemi, que me dá a sensação de participar sempre com a mesma música, foi tremendamente apoiada pelo júri. Duvido que o seja também pelo público e, assim sendo, não me parece ter hipóteses de vencer. Não sou grande fã da voz dela, sobretudo nas partes mais agudas, e a música também não me convence.

Malika Ayane com "Ti piaci così" só pode ter sido um erro. Não é possível que as 300 pessoas que fazem parte do júri se lembrassem sequer disto no final de 26 canções e 200 interval acts. Não é.

Irama é, para mim, o melhor representante para Itália na Eurovisão, mas não necessariamente o melhor vencedor do Sanremo tendo em conta o historial do concurso. Eu gosto muito do Irama e esta música é excelente. A única parte que não gosto (odeio mesmo) é a alteração de voz no refrão. Faz-me uma confusão tremenda. De todas as formas, ainda nem é certo que ele consiga competir no sábado. Ontem apresentaram o vídeo do ensaio geral, mas não me parece justo que façam o mesmo no sábado. O nervosismo pode trair uma pessoa e ele não pode ter essa vantagem em relação a todos os outros. Veremos o que vai ser decidido, mas a verdade é que, de acordo com as regras lançadas há bastante tempo, ele devia ter sido desqualificado. Esperemos que não aconteça, mas é uma possibilidade.

Sinto que a Annalisa vai ao Sanremo ano sim, ano não com a mesma música. Soam todas ao mesmo e ela continua a não transmitir nada nas suas atuações. É extremamente afinada e isso ninguém lhe tira, mas falta tudo o resto. Não sei como ficou em 2.º lugar, mas não acho que o vá manter. 

Chegamos ao vencedor (anunciado depois de ver a atuação): Ermal Meta. A música deste ano está muito abaixo de "Vietato Morire" e até de "Non Mi Avete Fato Niente". É, como ele lhe chamou, "uma música simples de amor". Fosse qualquer outro a interpretá-la e não me parece que tivesse ficado em primeiro lugar. Ermal Meta tem o dom da interpretação e da escrita das músicas de amor. Todas as palavras que ele diz são sentidas e levam-nos a sentir (music is feeling, já dizia o nosso amigo Salvador que o próprio Ermal chegou a citar). Foi por isso que ganhou a votação provisória e é por isso que é candidato à vitória final, ainda que a sua música não seja extraordinária. Escrevi, em 2018, depois da Eurovisão, que eu e o Ermal "partilhamos a mesma visão da música". Três anos depois, tudo se mantém. 

Então, e quem vai ganhar? É muito difícil prever. Se nos últimos anos era fácil saber quem ia ter mais votos do público, este ano é muito complicado. Tendo de arriscar, diria que o top 3 do público será Ermal Meta, Irama e Francesca Michielin & Fedez (não necessariamente por esta ordem. O júri parece-me que se manterá (até pela mesma ordem) e a imprensa poderá perfeitamente apostar na Annalisa. Acho que o top 3 geral será o top 3 do júri. Annalisa vence na imprensa, Ermal Meta vence no júri e o público é um incógnita. Diria que se dividirá entre Ermal Meta e Irama, que têm uma fanbase mais propícia ao voto.

Mas eu não sou a Maya e, portanto, poderá acontecer precisamente o oposto. Sábado (ou domingo, vá) já o saberemos, mas se me pedirem para escolher, tem de ser entre o Irama e o Ermal para eu voltar a votar na Itália.

Uma última nota para "Polvere da Sparo" de Gaudiano, que compete na categoria  Nueve Proposte e é uma música absolutamente maravilhosa com uma letra brilhante.

Imagem/Vídeos (que ficarão indisponíveis em poucos dias): RAI

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