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[Crónica] FC 2015: 'o Festival que soluciona tragédias da Grécia Antiga'


Começo por dizer que não vou enumerar os erros que considero terem sido cometidos pela RTP neste Festival (até porque, se o fizesse, passava aqui o dia inteiro) mas antes por destacar as boas decisões. O Convento do Beato, no ano passado, tinha condições péssimas a nível sonoro e foi uma boa aposta "jogar em casa" (ainda que eu tenha a certeza que o dinheiro foi o factor decisivo para tal e não a preocupação com o som). Outro ponto (muito) positivo vai para a aposta na banda. Chamem-me antiquada, mas gosto muito mais de ouvir os instrumentais ao vivo do que em playback
Queria também aproveitar para criticar todos os que dizem que somos antiquados. O FC é antiquado? Porquê? Porque tem os mesmos medleys todos os anos? Porque as músicas parecem ter sido feitas no século passado? Porque não podemos cantar em inglês? Errado. O FC na verdade está na vanguarda da atualidade. É provável que mais ninguém tenha reparado mas, este ano, tivemos uma letra capaz prestar homenagem ao universo da Marvel. Para quem acompanha séries americanas, deve saber que a Marvel está ao rubro. Há cada vez mais séries inspiradas no universo da banda desenhada (desde Arrow, a Flash e tantas outras). Gonçalo Tavares e José Cid viram neste universo um assunto a explorar enquanto encontravam solução para uma das maiores tragédias da Grécia Antiga. Analisemos parte do poema de "Tu tens uma mágica":

"tu tens o poder
tu tens uma mágica
(...)
tens garras de metal
que é fundamental p'ra chegar ao sol".

"Garras de metal"? Conhecem mais alguém com garras de metal que não o Wolverine? Eu não. Então o Wolverine, como tem garras de metal, pode chegar ao sol? Pobre Ícaro que voou alto de mais e acabou queimado pelo sol. Soubessem os gregos o que sabem Gonçalo Tavares e José Cid e, hoje em dia, ninguém me podia vir contar a história de Ícaro de cada vez que eu quisesse "subir na vida". 


Passemos para assuntos mais sérios (e menos interessantes). Comecemos pelo final: a vencedora. Leonor Andrade canta muito bem. Acompanhei o The Voice e  gostei muito do percurso dela. No entanto, não acho que a voz dela seja perfeita para este tema. Via-a mais num estilo soul ou jazz. Viram-se claras melhorias da semifinal para a grande final, mas será música para a Eurovisão? Duvido. Considero que Miguel Gameiro fez um excelente trabalho - juntou rock, pop e ainda uns toques de fado na mesma música (e bem) - mas a música (principalmente o refrão) precisava de ser mais forte para que os europeus não a esquecessem dois minutos depois de a ouvirem. Também a apresentação em palco requer mudanças. Não vamos a lado nenhum só com uma pessoa em cima do palco (mas esqueçam a ideia de pôr um banda). A meu ver, ganhou a segunda melhor, mas ainda não é este ano que regressamos à final.


Simone de Oliveira era o nome mais falado deste Festival. Honestamente (e posso ser criticada), não acho que esta participação tenha acrescentado muito ao Festival. "À espera das canções" tinha um dos melhores instrumentais da prova que acabou esquecido porque Simone já não tem a voz que tinha. Gosto muito do "Sol de inverno" e da "Desfolhada", mas não gostei assim tanto do que vi na quinta e no sábado (sendo que na final, a atuação foi bastante melhor). De qualquer das formas a interpretação foi melhor do que vi muitas pessoas mais novas fazerem e espero que este regresso (e também o de Adelaide Ferreira) possa fazer com que outros tenham também vontade de concorrer no futuro.


José Freitas, para mim, foi o mais injustiçado do Festival. Porquê? Porque aquele vozeirão não merece uma música que não se enquadra no mundo eurovisivo. "Mal menor" nem é uma canção má, mas tendo em conta o panorama eurovisivo atual, nunca poderia sair vencedora. Uma balada de grande nível e tínhamos um representante à altura de um excelente lugar. Espero voltar a ver o cantor a tentar representar-nos na eurovisão porque não duvido que nos daria um grande lugar. E os não-finalistas? Só posso destacar a canção de Augusto Madureira. Prometia tanto e afinal saiu uma mixórdia de 500 em 1. Foi mau, muito mau. 


Resta-me então falar da minha preferida (e daquela que achei ser a preferida dos portugueses). Ainda não me mentalizei que "Outra vez primavera" não ganhou. Mas acima de tudo, continuo revoltada por não ter sequer passado à finalíssima ou super final, ou como quer que a RTP a tenha denominado. Quando foram revelados os nomes dos compositores, choveram comentários a dizer que vinha aí mais uma música "com cheiro a mofo" do Nuno Feist. Não é novidade que eu adoro o Nuno Feist e acho que é dos melhores compositores que temos no país. Depois de ouvir a música na semifinal fiquei convencida que era a vez do Feist ir até à Eurovisão - mas não! Muitos dizem que o instrumental não é suficientemente forte, mas é fácil perceber porquê. Yola Dinis tem uma voz daqui até ao céu e não precisava de uma música com demasiados apetrechos já que o instrumental vive também da sua magnífica voz. Se uma interpretação soberba, um instrumental lindíssimo e com um crescendo fantástico no final e uma letra fenomenal não chegam para ganhar o FC, não sei o que é que é preciso! Como já disse várias vezes, as músicas do Feist são demasiado boas para o Festival!

Já todos sabemos que vamos chegar a janeiro ainda sem informações sobre o nosso método de seleção e, portanto, deixo aqui alguns dos pontos que farão parte do FC2016 (e não é preciso conseguir prever o futuro para saber que isto é verdade):
-Todas as músicas do FC2016 vão conter pelo menos uma das seguintes palavras ao longo da letra: mar, saudade, fado, Portugal ou Lisboa.
-A maioria dos vestidos das cantoras vão ser pretos.
-A melhor música não vai ganhar.
-Não são permitidas músicas animadas na final.
-No geral, as músicas vão ser más.
-Vai haver uma música (ou mais) cuja letra fala do quão bonito é o nosso país ou o nosso fado.
-Os postcards vão ser iguais a todo o sempre com "frase preferida" e afins.
-As músicas vão ser feitas em cima do joelho.
-Vamos ter um medley de músicas vencedoras do Festival.

Vídeo: Tiagobatista39/Jaime Aragão da Rocha
10/03/2015
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  1. Concordo, embora ache que não devemos ter medo de arriscar...e pensar mais no futuro!

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