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Contra o ódio eurovisivo - Décimo texto: isto é um concurso de culturas diferentes, e todos cantam em inglês?




       No texto passado já falei sobre o facto de as músicas não transmitirem a cultura dos países, e é óbvio que a língua é dos fatores culturais mais importantes. Quem me conhece e quem costuma ler aquilo que aqui escrevo, sabe que eu sou aquela antiquada que adora músicas em idiomas diferentes - mesmo que não perceba nada. Ouvir uma música em espanhol na Eurovisão remete-nos imediatamente para a Espanha, da mesma forma que uma em português nos remete para Portugal. O engraçado da Eurovisão é também aprender a identificar idiomas variados. É óbvio que não é por gostar de uma música francesa que, de repente, vou aprender a falar francês, mas digam-me lá quantas não foram já as vezes em que ouviram idiomas estranhos e os ligaram imediatamente a um país por causa das músicas eurovisivas?
       Apesar de ser muito bonito ouvir músicas em várias línguas, também é preciso saber fazer essas músicas. A canção até pode ser na língua mais bonita do mundo, mas, se não tiver qualidade suficiente, não há palavras bonitas que nos façam gostar dela. E, quer queiramos quer não, o inglês é a língua universal e é perfeitamente compreensível que os cantores e autores queiram passar a mensagem da canção, fazendo-a chegar a mais gente (se bem que em alguns dos casos era preferível cantarem em chinês para ninguém perceber a letra desastrosa).
       Não precisamos de ir muito longe já que o nosso país é aquele que mais respeita esta regra. 50 anos a participar no festival e nunca arriscámos em nenhuma música inglesa, por inteiro. Atrevo-me a dizer que essa é a nossa maior falha. Não digo que, com uma música inglesa, ganhássemos, mas também não precisamos de ficar parados no tempo e levar sempre alguma coisa em português, como se mais alguém entendesse o que quer que nós dizemos. A língua portuguesa fica muito bonita em baladas, mas tem dois graves problemas: em músicas mais mexidas faz-nos automaticamente lembrar pimba do mais foleiro possível e é ultra difícil de fazer traduções “à letra” para o inglês e acaba por ficar com construções frásicas super estranhas, que ninguém entende. Se até eu, que defendo com unhas e dentes que se deve cantar na própria língua, acho que está na altura de apostarmos em algo mais “universal”…
       Não acho que deva haver uma regra como antigamente em que só se podia cantar na própria língua, acho sim que isso devia partir dos canais de televisão responsáveis pelas participações. No Melodifestivalen, por exemplo, são mínimas as canções em sueco e cá é tudo em português. Devia haver uma espécie de equilíbrio (se é que é possível) para que não nos cansássemos do inglês. Mas, como já aqui referi, quem participa quer ganhar (menos Portugal, claro) - e, para isso, é preciso chegar ao maior número de pessoas possível -, isso é bem mais difícil com uma letra que poucos percebem.

Há tanto inglês no festival porque é mais fácil. Lembram-se da última música não-inglesa que venceu? Foi em 2007 e era uma obra de arte, e nem todos são capazes de compor e interpretar obras de arte!


07/08/2014

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