Crónicas de Eurofestivais
Crónica sobre as participações de Portugal no ESC: "Deixa-me Sonhar (Só Mais Uma Vez" de Rita Guerra
O Festival Eurovisão da Canção 2003 realizou-se a 24 de Maio em Riga, na Letónia. O local escolhido para acolher o evento foi o
Skonto Hall e os apresentadores foram Marija Naumova e Renārs Kaupers. O número
total de participantes foi de 26. Como não poderia deixar de ser, tivemos uma
estreia absoluta no Festival – a Ucrânia juntou-se pela primeira vez a todos
nós. Tivemos ainda 6 regressos (Islândia, Holanda, Irlanda, Noruega, Polónia,
Portugal), mas em contrapartida também tivemos 5 desistências (Dinamarca,
Finlândia, Lituânia, Macedónia e Suíça).
Portugal, à semelhança de 1976, escolheu o seu cantor internamente.
A felizarda a quem coube o privilégio de nos representar na Letónia foi a
grande Rita Guerra. Num evento em que a artista cantou 3 temas diferentes, e
que foram sujeitos à votação do público para decidir qual nos representaria, a
verdade é que não ouve margem para dúvidas quando se soube que o tema vencedor obteve
75% dos votos. Assim, “Deixa-me sonhar (Só mais uma vez)” saiu vencedora
naquela noite. E foi, sem dúvida alguma, uma boa escolha!
No ESC Rita Guerra apresentou-se absolutamente linda com o
seu vestido dourado (que alguns dizem que a fazia parecer uma autêntica sereia).
A nossa música era muito bonita (tanto o arranjo musical como a letra). Na
minha opinião, esta foi a nossa segunda melhor prestação durante todos estes
anos em que participámos na Eurovisão. E atrevo-me também a dizer que dentro do
género balada, este foi também dos
temas mais bonitos que algum país levou ao maior palco europeu.
O trabalho de câmaras foi perfeito e os elementos do coro
(dos quais destaco o incomparável Beto) ajudaram bastante durante a apresentação
toda. Apesar de defender a ideia de que cada país deve representar a sua nação com a sua língua nativa, achei a ideia da Rita cantar parte da música em inglês
bastante boa. E funcionou muito bem, pois como a própria cantora disse “Achámos que iríamos ficar em desvantagem em relação a todos
os outros, que iriam até mesmo cantar a canção totalmente em inglês.” E em parte
tem razão. Se analisarmos os resultados do ESC, verifica-se claramente que as
canções interpretadas em inglês tem muito mais sucesso… o que não significa
necessariamente que sejam as melhores. De notar que, quando a cantora, na parte
final da música, aguenta o agudo, é possível ver as pessoas na plateia a bater
muitas palmas, o que só prova que realmente gostaram. Acredito que, apesar do resultado obtido, a voz da nossa cantora não passou despercebida na
Europa. Digo isto, porque o resultado obtido foi completamente injusto. Foi-nos
atribuído o 22º lugar com 13 pontos (2 da Irlanda, 2 da Espanha, 3 da Ucrânia e 6 da França). Foi das maiores injustiças que já vi no ESC!
Apesar da brilhante forma como a Rita nos representou, tal
poderia não ter acontecido. Isto porque, na noite em que ocorreu o Festival, o
irmão dela morreu, só que ela não sabia e só lhe foi dito depois. A própria
cantora afirmou que, se tivesse sabido, não subia ao palco. O que realmente iria ser uma pena, pois assim foi possível à Europa ver o que de melhor há em
Portugal.
A vitória do ESC 2003 foi entregue à Turquia que enviou a
cantora Sertab Erener e o tema “Everyway That I Can”. Uma canção bastante
animada e que obteve 167 pontos. A canção “Sanomi” interpretada numa língua
inventada e que representou a Bélgica ficou em 2º lugar (165 pontos). O pódio
ficou completo com o tema “Ne Ver’, Ne Boysia” interpretado pelas t.A.T.u (164
pontos). Portanto foi uma batalha renhida para ver quem ganhava este ano. O
Reino Unido, pela primeira vez, obteve 0 pontos, no qual muita gente associou a
questões políticas (o primeiro ministro britânico apoiou Bush na invasão ao
Iraque). Como castigo a Europa não lhes deu nem um ponto.
Aproveito também para dizer que, este ano, como estamos em
crise e queremos participar na Eurovisão com um boa prestação, uma boa solução
para a RTP ponderar, seria escolher um cantor internamente e mandá-lo ao ESC
com uma boa música (claro…). Mas quem poderia ser esse artista?
Aqui fica um pequeno excerto de uma entrevista feita em 2008
e que encontrei, para que possam ficar com uma ideia de quem nos poderia
representar em Baku 2012:
“Em 2003
pediu para a deixarem Sonhar. Poderá o sonho de voltar um dia à Eurovisão
tornar-se realidade?
Rita Guerra - Sim! Se me convidassem outra vez eu ia à Eurovisão. Não
voltaria ao Festival da Canção porque tenho visto vitórias muito injustas e a
nível de composição está muito fraco.” - Entrevista dada ao site Eurovision Portugal em 2008.
Crónica redigida por Armando Sousa, 02/11/2011
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