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[Crónica] Portugal na Eurovisão: "Madrugada" de Duarte Mendes (1975)



E já lá vão 20 anos desde que esta pequena “brincadeira” começou. O festival, que inicialmente contava apenas com a participação de 7 países, foi posto de lado e a febre alastrou a outros países. Deste modo, é possível ver como o concurso foi crescendo ao longo dos anos com cada vez mais países a demonstrar o seu interesse em participar. 1975 foi um desses maravilhosos anos. No total, na edição que se realizou a 22 de Março de 1975 concorreram 19 países. A Grécia decidiu pôr o FMI, perdão, o FIM na sua participação no festival, não estando presente em Estocolmo (Suécia). Foi uma pena porque afinal de contas, após a sua estreia no ano anterior, as pessoas devem ter ficado curiosas para voltar a ouvir os sons das terras dos deuses. Como países que regressaram este ano ao festival temos a França (ao que parece não tiveram nenhum funeral importante que os impedisse de participar) e Malta (que regressou após 3 anos sem se fazer ouvir). Como estreia absoluta tivemos apenas um país, que confesso gostava muito de um dia vir a visitar: a TURQUIA! 

Por cá, e para eleger o nosso representante realizou-se o Festival RTP da Canção. É curioso que de entre as 10 músicas a concurso, todas (mas mesmo todas) foram interpretadas por homens. Seria para mostra a “força” que os homens portugueses tiveram no ano anterior? Outra coisa, também curiosa, é que todas as músicas se basearam em 3 temas centrais: liberdade, povo e 25 de Abril (porque terá sido J). 

De todas, a que talvez tinha melhor qualidade foi mesmo a canção vencedora. “Madrugada” interpretada por Duarte Mendes acabou por sair vitoriosa ao ter encantado os presentes. É caso para dizer que “à quarta foi de vez”. Digo isto, porque este era o quarto ano consecutivo que o oficial do exército tentava a sua sorte pelos palcos da Europa. Também não deixa de ter a sua piada que, após a revolução, o primeiro cantor a representar-nos tenha sido alguém do exército… 

A música era bastante agradável, e ao contrário de muitas outras não irritava o ouvinte. A voz do cantor era muito doce e, transmitia precisamente aquele sentimento de uma certa tristeza que tão bem caracteriza esta música. 

A letra é um verdadeiro hino! Serve para enaltecer todas aquelas pessoas que “teimaram em silêncio e frio” e que “ morreram sem saber porquê” para que hoje, possamos ter uma sociedade cada vez mais justa (ou que pelo menos deveria sê-lo). A ” força nascida do medo” deu os seus frutos. Nada foi em vão… Penso também que quando se diz “de braço dado e a arma em flor” é mais uma evidencia de que o 25 de Abril ainda estava “fresco”. O povo e os militares deram as mãos e lado a lado lutaram como um só com um objectivo comum. No que diz respeito à “arma em flor” de certeza que se refere aos cravos nas espingardas. O próprio cantor durante a sua apresentação teve um cravo na lapela do casaco. Até parece que estava com o peito inchado tal era o orgulho que sentia pelo nosso país. A censura não deixou também de ser criticada nesta letra. Quando se diz “rompe a canção que não havia” é a ela que o letrista se refere. Pela primeira vez, levamos um tema que não foi proibido (devido ao seu conteúdo político) pelo lápis azul. Somos livres de dizer o que pensamos e o que sentimos sem termos medo da opressão. Por último, o cantor apela a que outros sigam o seu exemplo e cantem o povo português, pois um “canto assim nunca é demais”. 

Sinceramente não percebi porque é que a palavra “Madrugada” e que é o título desta canção nunca aparece. Tudo bem que é apenas para dar a ideia de que depois da noite e da escuridão virá um novo dia e tal, mas teria ficado bem no meio da letra. Mas apesar disto, o trabalho de José Luís Tinoco ao escrever a letra e compor esta música foi esplêndido. 

Novamente voltamos a ser esquecidos pelo excelentíssimo júri do Festival Eurovisão da Canção. Portugal acabou por conquistar apenas o 16º lugar com 16 pontos. Nãos sei porquê mas a Noruega qualificou-se muito perto da nossa canção (com o 18º lugar). Isto não foi a primeira vez que aconteceu e acho muito estranho serem quase sempre os mesmos países no fim da tabela classificativa. Não quero ser injusto mas já naquela altura me parece que os resultados eram um pouco premeditados. Espero bem estar enganado e ter sido só impressão minha (ou talvez de muita gente também). Infelizmente, esta música é talvez das menos lembradas no nosso país. 

Quem acabou por ganhar o festival foi a Holanda que consegui levar a quarta vitória para casa. Também depois desta não levaram mais nenhuma (e dificilmente ganharão nos próximos anos… a julgar pelas músicas que têm levado nos últimos anos). Bom, o intérprete foi novamente uma banda, desta vez os Teach-In que levaram a música “Ding-a-Dong” alcançando os tão invejados 152 pontos. Quem também não teve muita sorte foi a Turquia que logo na sua estreia acabou em último lugar. 

Ainda não foi desta que Portugal brilhou mas continuamos todos a acreditar que um dia chegará a nossa vez. 

Escrito por Armando Sousa, 29/07/2011

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