Novidades

latest

[Crónica] Um milhão de coisas a dizer sobre o Sanremo 2021

Meus caros, têm dormido bem? Eu tenho, mas pouco. Dez horas e 26 músicas depois, o que me apraz dizer é que ainda não é este ano que a Itália ganha a Eurovisão. Há algumas boas músicas neste lote, mas confesso-me ligeiramente desiludida no geral. 

O Sanremo é, no entanto, um espetáculo maravilhoso. Se demora tempo a mais? Claro, mas esse tempo é tão bem ocupado. Os apresentadores são os melhores. Não há comparação possível. Espero que saibam falar inglês porque nós merecemos uma eurovisão apresentada pelo Amadeus e o Fiorello. Também espero que adotem o público feito de balões para a Eurovisão. 

Dito isto, se calhar vamos às músicas, certo? Sigamos a ordem da votação do júri revelada ontem para deixar o mais interessante para o fim e tentar captar a vossa atenção (é assim que se faz, não é?).

Aiello ficou no último lugar, possivelmente, por não saber cantar. Tinha visto um comentário sobre a música dele ser muito boa, mas ele ser uma pessoa péssima. Não posso opinar quanto à segunda parte, mas a primeira é certamente verdade. Uma pena ele ter-se esquecido que era importante saber cantar num concurso de música.

Do 25.º ao 21.º classificados não me lembro de uma única parte das músicas. Isto quererá dizer alguma coisa e não é nada de bom.

Madame ficou, injustamente, no 20.º lugar. A música é muito boa, mas suponho que, tal como eu, o júri não seja grande fã de autotune. "Bianca luce nera" é uma canção péssima, mas a atuação, com as máscaras, é, sem dúvida, memorável (pelos piores motivos, mas é). Os Coma Cose estiveram muito mal em palco. Ela estava mais desconfortável do que eu se fosse fazer uma colonoscopia. Colapesce e Dimartino foram, facilmente, dos piores e, ainda assim, conseguiram um 17.º lugar.

Em 16.º ficou Max Gazzè que certamente estará na mente de toda a gente pelo look à Leonardo DaVinci. Se o quero na Eurovisão? Secretamente, sim. É a joke entry que merecemos depois de andarmos a roubar a Itália anos a fio. 

Os Mansekin, uma banda muito famosa lá no sítio, ficaram apenas em 15.º. Pareceu-me propositado para lhes tirar quaisquer hipóteses de um top 3. Há tão pouco rock no Sanremo, que foi refrescante vê-los. A música é muito boa e eles são impecáveis em palco. Uma pena já estarem fora da corrida.

Seguem-se na classificação La Rappresentante Di Lista e Fulminacci. Lembro-me das músicas? Não, mas recordo-me o suficiente para saber que estão em lugares demasiado altos. 

Gaia, cujo grande êxito por terras italianas é cantado em português, ficou de fora do top 10 mesmo tendo uma música diferente e tendo estado muito bem em palco. Não entendo. Arisa continua a ir ao Sanremo, depois de já o ter ganhado, sabendo que não o vai voltar a ganhar. Já sabemos que quer muito ir à Eurovisão, mas não vai dar. Paciência. 

Em 10.º lugar ficou a minha música preferida do concurso, se tivermos em conta exatamente isso: a música. Francesco Renga tem anos disto e é um cantor muito competente. Sucede que, na passada terça-feira, assassinou por completo o seu tema. Ainda assim, é uma música com um instrumental estrondoso. Espero que lhe consiga fazer justiça sexta e sábado.

"Mai dire mai (La Locura)" foi inesperado e muito bom. É o melhor rap deste ano. Os Lo Stato Sociale voltaram, mas com uma música muito inferior à de 2018. O azar deles foi terem concorrido com "Una Vita En Vacanza" logo depois de o Gabbani ganhar. Esta música, apesar de muito boa e com uma atuação maravilhosa, fica aquém.

Francesca Michielin e Fedez eram os grandes favoritos à partida e serão, com toda a certeza, dos mais votados pelo público. Ela, à parte do cabelo, esteve muito bem. Ele foi o oposto. Para piorar a coisa, a música não é impactante. Não é má, mas também não é tudo o que esperávamos. 

Fasma, o 6.º classificado, traz uma música muito bem construída, mas também traz mais autotune que voz, o que tira um pouco o encanto da coisa e me faz não o colocar nos meus favoritos.

Entramos no top 5. Noemi, que me dá a sensação de participar sempre com a mesma música, foi tremendamente apoiada pelo júri. Duvido que o seja também pelo público e, assim sendo, não me parece ter hipóteses de vencer. Não sou grande fã da voz dela, sobretudo nas partes mais agudas, e a música também não me convence.

Malika Ayane com "Ti piaci così" só pode ter sido um erro. Não é possível que as 300 pessoas que fazem parte do júri se lembrassem sequer disto no final de 26 canções e 200 interval acts. Não é.

Irama é, para mim, o melhor representante para Itália na Eurovisão, mas não necessariamente o melhor vencedor do Sanremo tendo em conta o historial do concurso. Eu gosto muito do Irama e esta música é excelente. A única parte que não gosto (odeio mesmo) é a alteração de voz no refrão. Faz-me uma confusão tremenda. De todas as formas, ainda nem é certo que ele consiga competir no sábado. Ontem apresentaram o vídeo do ensaio geral, mas não me parece justo que façam o mesmo no sábado. O nervosismo pode trair uma pessoa e ele não pode ter essa vantagem em relação a todos os outros. Veremos o que vai ser decidido, mas a verdade é que, de acordo com as regras lançadas há bastante tempo, ele devia ter sido desqualificado. Esperemos que não aconteça, mas é uma possibilidade.

Sinto que a Annalisa vai ao Sanremo ano sim, ano não com a mesma música. Soam todas ao mesmo e ela continua a não transmitir nada nas suas atuações. É extremamente afinada e isso ninguém lhe tira, mas falta tudo o resto. Não sei como ficou em 2.º lugar, mas não acho que o vá manter. 

Chegamos ao vencedor (anunciado depois de ver a atuação): Ermal Meta. A música deste ano está muito abaixo de "Vietato Morire" e até de "Non Mi Avete Fato Niente". É, como ele lhe chamou, "uma música simples de amor". Fosse qualquer outro a interpretá-la e não me parece que tivesse ficado em primeiro lugar. Ermal Meta tem o dom da interpretação e da escrita das músicas de amor. Todas as palavras que ele diz são sentidas e levam-nos a sentir (music is feeling, já dizia o nosso amigo Salvador que o próprio Ermal chegou a citar). Foi por isso que ganhou a votação provisória e é por isso que é candidato à vitória final, ainda que a sua música não seja extraordinária. Escrevi, em 2018, depois da Eurovisão, que eu e o Ermal "partilhamos a mesma visão da música". Três anos depois, tudo se mantém. 

Então, e quem vai ganhar? É muito difícil prever. Se nos últimos anos era fácil saber quem ia ter mais votos do público, este ano é muito complicado. Tendo de arriscar, diria que o top 3 do público será Ermal Meta, Irama e Francesca Michielin & Fedez (não necessariamente por esta ordem. O júri parece-me que se manterá (até pela mesma ordem) e a imprensa poderá perfeitamente apostar na Annalisa. Acho que o top 3 geral será o top 3 do júri. Annalisa vence na imprensa, Ermal Meta vence no júri e o público é um incógnita. Diria que se dividirá entre Ermal Meta e Irama, que têm uma fanbase mais propícia ao voto.

Mas eu não sou a Maya e, portanto, poderá acontecer precisamente o oposto. Sábado (ou domingo, vá) já o saberemos, mas se me pedirem para escolher, tem de ser entre o Irama e o Ermal para eu voltar a votar na Itália.

Uma última nota para "Polvere da Sparo" de Gaudiano, que compete na categoria  Nueve Proposte e é uma música absolutamente maravilhosa com uma letra brilhante.

Imagem/Vídeos (que ficarão indisponíveis em poucos dias): RAI

Sem comentários

Enviar um comentário


Não é permitido:

. Publicar comentários de teor comercial ou enviar spam;

. Publicar ou divulgar conteúdo pornográfico;

. O uso de linguagem ofensiva ou racista, ou a publicação de conteúdo calunioso, abusivo, fraudulento ou que invada a privacidade de outrem;

. Desrespeitar o trabalho realizado pelos colaboradores do presente blogue ou os comentários de outros utilizadores do mesmo - por tal subentende-se, criticar destrutivamente ou satirizar as publicações;

. Divulgar informações sobre atividades ilegais ou que incitem o crime.

Reserva-se o direito de não serem publicados comentários que desrespeitem estas regras.

A não perder
© all rights reserved