Todos os anos se fala do mesmo. E todos os anos as teorias são diferentes, mudam de pessoa para pessoa, e até qualquer um pode ter perspetivas de pensamento que se aglutinam.
Eu sou (sempre) essa última hipótese, ou seja, a de concordar com as duas coisas.
Com isto quero dizer o seguinte: também considero que o Festival RTP da Canção (FC) deva servir o propósito de mostrar ao país o que de melhor se faz a nível musical. Seja isso cumprido na sua totalidade, ou, na realidade, possa ficar longe de tal, como tanta gente o diz.
É bom termos um Festival diverso, como tem vindo a acontecer nos últimos anos, com artistas e estilos de música diferentes que não ficam presos à vertente “concurso”, mas que conseguem a vertente “estou a ser ouvido na rádio, na TV, ou nas salas de estar de vários portugueses”. Isto seria, desde logo, uma vitória. A segunda vitória, depois da verdadeira vitória. Porque é esse o propósito primordial: vencer. Ganhar um certame. Porque é isto o FC – uma competição.
O jornal Público escreveu, recentemente, à base de uma entrevista com Gonçalo Madail, da RTP, e um dos principais responsáveis pelo FC, o seguinte:
“Para que serve o Festival da Canção? O Festival da Canção, este ano na sua 59.ª edição, é o concurso da RTP que apura uma canção para representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, que este ano se realizará pela 69.ª vez”. Primeiro parágrafo do artigo sobre “O que vamos esperar este ano do Festival da Canção”. Explicações dadas.
Mas é aqui que se entra na difícil dicotomia. Nos dois lados de uma moeda que parecem não colar.
Ter uma canção de que gostamos, que assumimos que é boa, e que pode ser igualmente competitiva, acontece. Porém, às vezes, também é um acaso. Até porque, onde está, sequer, a definição de “canção competitiva”? Isto não é, na realidade, tão mais complexo e por vezes aleatório que não deveria ser posto a discussão?
![]() |
iolanda no ESC 2024, na Suécia (Getty Images) |
Ainda que longa, essa discussão pode e, acredito, deve existir. Porque é dessa construção de ideias que se pode querer almejar um certo crescimento – e o que seria de nós se tal não tivesse sido posto em causa de 2016 para 2017.
Num Festival de 2025 que só agora vai começar, quero apenas recordar alguns pontos que deveriam estar sempre em cima da mesa:
- Equilíbrio entre representatividade musical e competitividade no FC: acontece, ou não acontece? Diria que sim, mas só se pode responder quando tivermos uma canção vencedora e escolhida para a Eurovisão; Mas não esquecer – Há músicas que funcionam bem no contexto nacional, mas que podem não ter o mesmo efeito no palco da Eurovisão. Que o FC considere sempre este fator, para evitar ser apenas uma celebração da música portuguesa, sem ambições reais de sucesso internacional.
- O que soa bem numa versão estúdio pode não ter o impacto de uma performance ao vivo, e vice-versa: apesar de já conhecermos as músicas a concurso, não podemos esquecer que as atuações ao vivo podem mudar muita coisa. A interpretação, a presença em palco e a produção visual são elementos cruciais que podem transformar completamente a perceção de uma canção. E possa a RTP ajudar (ou não) neste ponto…
- “Tem muitas visualizações e lidera o Spotify, por isso já ganhou”. Sim, ganhou juízo: Uma canção muito ouvida pode significar que despertou o interesse de mais pessoas, ou que essas pessoas a estão a escutar mais vezes por, realmente, gostarem do tema, e por o acharem uma boa proposta. O sucesso digital é um fator a considerar, mas não deve ser o único critério de seleção. O foco deve ser sempre a escolha da melhor proposta para alcançar um bom resultado internacional. E não preciso de explicitar sobre quem e/ou qual o tema a que refiro, por exemplo.
- As casas de apostas do ESC não interessam quando estamos nos últimos lugares, mas agora que estamos tão bem colocados já devem ser tidas em consideração: ponto fatídico, e nem precisaria de dizer mais nada. Mas acrescento – ao contrário do que geralmente acontece, Portugal tem estado realmente bem cotado, o que indica que há potencial competitivo na edição atual. Ignorar essas previsões pode ser um erro, pois tal reflete tendências e expectativas de quem acompanha a Eurovisão de forma analítica.
![]() |
Identidade gráfica do FC 2025 (RTP) |
Não há fórmulas mágicas e, acima de tudo, sabemos que no ESC pode sempre reinar a imprevisão. Mas também já temos, entre nós, fãs, algumas noções do que é que acontece aqui e lá fora. Por isso, que se possa viver o Festival da Canção como o próprio merece, já que só o temos uma vez, de ano a ano.
Mas que não seja esquecido – às vezes mais do que emocional, o racional também deve entrar nas equações. Não que sejam precisas calculadoras, apenas ouvidos apurados.
Que o FC 2025 possa continuar o caminho que Portugal tem trilhado no ESC nos últimos anos!
Imagens: João Vermelho/Getty Images/RTP
Sem comentários
Enviar um comentário
Não é permitido:
. Publicar comentários de teor comercial ou enviar spam;
. Publicar ou divulgar conteúdo pornográfico;
. O uso de linguagem ofensiva ou racista, ou a publicação de conteúdo calunioso, abusivo, fraudulento ou que invada a privacidade de outrem;
. Desrespeitar o trabalho realizado pelos colaboradores do presente blogue ou os comentários de outros utilizadores do mesmo - por tal subentende-se, criticar destrutivamente ou satirizar as publicações;
. Divulgar informações sobre atividades ilegais ou que incitem o crime.
Reserva-se o direito de não serem publicados comentários que desrespeitem estas regras.