Novidades

latest

[Crónica] ESC 2019: não sei porque é que ainda gosto da Eurovisão


Toda a gente que me conhece sabe o quanto eu adoro este festival. Na verdade, ia escrever que vivo para a Eurovisão, mas a vida adulta é uma chatice, os tempos são outros e as prioridades também. 

Aos que me vão conhecendo, deixo passar algum tempo antes de dizer “olha, eu amo a Eurovisão e estou, inclusivamente, num blogue sobre isso”. A resposta, quase sempre, envolve uma expressão facial confusa e, claro, a inevitável pergunta: “Mas por que razão é que tu gostas da Eurovisão?”

Porque é que eu não haveria de gostar, pergunto. Ora porque “é um circo e não é música”, ou porque “é tudo uma trafulhice política”, ou porque “já ninguém quer saber disso desde 1970”.


A Eurovisão é um circo sem valor musical?

Questiono-me várias vezes se este complexo de superioridade é uma coisa só nossa. Arrisco-me a dizer que sim – até porque o ‘circo’ da Noruega venceu a votação geral do público - e a culpar o Salvador Sobral por isso.


Eu amo o espetáculo, as roupas extravagantes, a overdose de pirotecnia. Sim, a Eurovisão é, muitas vezes um circo, que eu adoro de paixão. E se me pedirem para escolher entre uma ‘Like It’, a minha favorita desta edição, e uma ‘Amar Pelos Dois’, a minha resposta será óbvia, e o que vale é que estes anos todos a acompanhar o festival me deram resistências para aguentar ver as minhas favoritas no fundo da tabela.

Mas nada há para temer, críticos musicais autodidatas por esta internet fora. Duncan Laurence venceu (merecidamente) o festival ao piano, com uma canção simples e especial. Estamos todos em paz e harmonia.

Uma trafulhice política?

Seria estúpido dizer que não, quando temos uma troca de pontos constante entre Grécia e Chipre, entre Sérvia e Montenegro. Quanto temos uma Ucrânia a desistir de participar (e a perder a oportunidade de somar a sua terceira vitória no concurso) porque a representante que o país escolheu se recusa a deixar de ter carreira na Rússia. 


Mas importa relembrar que vivemos num país que é o único que tira a Espanha do fundo da tabela ano após ano. Vivemos num país que votou estrategicamente em 2017 não fossem os nossos pontos atrapalhar uma vitória de Portugal. 

Os portugueses deram 12 pontos a ‘La Venda’ na final . Na semifinal, ‘Telemóveis’ recebeu 12 pontos dos espanhóis. Se não queremos uma Eurovisão política, se calhar devíamos começar a apostar em fazer o nosso papel. 

Já ninguém quer saber da Eurovisão?

Recuando a finais de janeiro, Conan Osíris apareceu para os comuns mortais, ‘Telemóveis’ saiu cá para fora e virou assunto do dia, ao longo de vários dias. Meses? Portugal escolheu uma proposta que em tudo era arriscada, que era tão diferente que até causava desconforto. Que, em todos os aspetos, era incomparável com alguma das mais de mil canções que já passaram por um palco eurovisivo. 


A mal ou a bem, todos os portugueses quiseram saber da Eurovisão. Nem que seja para soltar um “15.º lugar, a ser representados por aquilo, grande surpresa”. No fundo, foi um 15.º lugar injusto, mas previsível, para uma canção que, pela primeira vez, me fez sentir que estava a representar  aquilo que a minha geração quer ouvir em Portugal e aquilo que é, realmente, o futuro da música portuguesa. Nós, os que queremos realmente saber da Eurovisão para além de uma piadinha fácil numa caixa de comentários no Facebook, estamos tristes, mas mais orgulhosos que nunca.


Porque é que eu ainda gosto da Eurovisão? Acho que não sei muito bem responder a essa pergunta, mas diria que é aquela fixação natural do ser humano por coisas que lhes fazem mal, mas sabem tão bem.

Imagens: eurovision.tv, wiwibloggs/Vídeos: eurovision.tv

Sem comentários

Enviar um comentário


Não é permitido:

. Publicar comentários de teor comercial ou enviar spam;

. Publicar ou divulgar conteúdo pornográfico;

. O uso de linguagem ofensiva ou racista, ou a publicação de conteúdo calunioso, abusivo, fraudulento ou que invada a privacidade de outrem;

. Desrespeitar o trabalho realizado pelos colaboradores do presente blogue ou os comentários de outros utilizadores do mesmo - por tal subentende-se, criticar destrutivamente ou satirizar as publicações;

. Divulgar informações sobre atividades ilegais ou que incitem o crime.

Reserva-se o direito de não serem publicados comentários que desrespeitem estas regras.

A não perder
© all rights reserved