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[Crónica] ESC 2018: "o ano em que as galinhas tomaram conta da Eurovisão"


É irónico pensar que nunca fomos para além de um sexto lugar, e que ganhar o Eurovision Song Contest seria impossível, mas, de um momento para o outro, tudo muda… E muda para melhor! Sim, meus amigos, este ano o ESC foi nosso e foi um dos melhores de sempre (e passou num estalar de dedos)!

Acho que só temos que agradecer aos irmãos Sobral o facto de termos alcançado este novo “descobrimento”. Obrigada! Mas tenho a discordar no facto do “Music is not firework”… Ok… A música também é sentimento, sim… Mas imaginem 43 músicas do género “Amar pelos dois”? Já tínhamos todos desistido da vida… Acho eu… E por isso, Eurovisão que é Eurovisão tem que ter fogo, efeitos, confetis, músicas animadas (nem que seja a imitar galinhas) e tudo o resto!


Temos de agradecer aos irmãos Sobral, mas sobretudo à RTP pela excelente organização desta edição! Foi talvez das melhores de sempre, e, para além dos pormenores técnicos, procurou mostrar e promover o nosso país através da fantástica ideia dos postcards… Se bem que acho que foi tudo muito concentrado em Lisboa… Portugal é muito mais do que a capital, gente! (por isso é que eu já arranjei uma cadeirinha para esperar que o ESC seja em Portugal novamente e que eles venham gravar às Pedras Parideiras!)

A edição deste ano, a julgar pelo nosso passado, era praticamente impossível que o festival não estivesse ligado ao mar e, por isso, estivemos “All aboard” sob a imagem, não de uma, mas de doze figuras ligadas ao mar, onde toda a cidade de Lisboa (e talvez o resto de Portugal) se vestiu a rigor para receber o maior evento de televisão mundial. 


O soundtrack escolhido para o evento não poderia ter sido mais típico! Só faltava um excerto da banda sonora de um rancho folclórico e estava o reportório completo! Sinceramente acho que deveria ter sido melhor aproveitado. Não gostei do som do genérico inicial. Para mim, aquilo parecia uma grande “salganhada” onde apenas havia “barulhos” aleatórios e mal davam para perceber o que era. Preferia ouvir os cavaquinhos. 


Adiante! No que toca ao que se passou dentro da arena, Portugal mostrou verdadeiramente que “menos, muitas vezes é mais”. Qual painel de LEDS, qual quê? Não fez falta nenhuma! O cenário estava tão incrível, com um cenário tão “teatral” que fez com que o painel de leds não fosse minimamente necessário, pois estava tudo muito autêntico… Claro que houve algumas delegações que optaram por usar, como a da Alemanha, por exemplo, mas isso ficou ao critério deles. Em vez do dito do painel, optou-se em apostar em planos de camera, mas claro que não se fugiu ao tradicional fogo, vento, e o palco, estava espetacularmente bonito! Se bem que pareceu-me igual ao do Festival da Canção, mas não deixava de ser bonito!


Agora no que toca à nossa representante, apesar de ter gostado da nossa música (coisa rara…), sempre fiquei reticente quanto ao seu sucesso no festival… Não que a canção fosse das piores a concurso, porque não era, mas sim, porque tem havido uma espécie de “tradição” nas últimas edições em que o país organizador normalmente fica em último. Aconteceu na edição da Ucrânia, na da Dinamarca e na da Áustria (acho estranho não ter acontecido aquando à edição da Suécia…) e, por isso, não seria de admirar se Portugal também ficasse… E ficou! Mesmo depois da onda de perucas cor-de-rosa que se formou para apoiar a canção da Cláudia, ou dos gritos que elas conseguiam arrancar ao público presente em cada atuação delas, ou até mesmo depois da cara de felicidade do Jon Ola Sand aquando da vitória delas no Festival RTP da Canção



Antes de começarem os ensaios no Altice Arena, já se falava num possível vencedor… A “chicken song”, ou a "musica da galinha", em português, como já era conhecida, já andava a fazer furor pela Europa, por isso, logo aí as hipóteses de se fazer a tal “dobradinha” já começavam a ser escassas. Para além de que, a edição deste ano estava particularmente riquíssima a nível musical. Não me lembro de mais nenhum ano em que gosto de quase todas as músicas, a não ser este. Músicas de variados estilos, 13 canções cantaram na língua nativa. Fiquei espantada… É que até a Arménia e a Geórgia! (Acho que foi a primeira vez que ouvi músicas cantadas nestas línguas, nesta competição) E, só isso, já levava a crer que a competição deste ano iria ser renhida e que ia haver muita música boa fora de competição na Grande Final de dia 12 de maio. 


Eis que finalmente chega a melhor semana do ano! Domingo, 6 de maio, arranca oficialmente a edição de 2018 do Eurovision Song Contest, com a cerimónia de abertura, em frente ao rio Tejo, no MAAT, na dita da “Blue Carpet”. Só tenho pena que não tenha sido junto ao oceanário… É que assim ficava tudo em sintonia perfeita! 
São apresentadas todas as delegações e apresentadoras do concurso e, “Let the Eurovision Song Contest 2018, begin!”


No entanto, concurso que é concurso, tem que ter apresentadoras, não é? E as nossas quatro, arrasaram! Ok... Não satisfizeram toda a gente... Mas se fôssemos a meter uma pessoa de cada etnia, cada religião e cada tom de pele, seriam precisos alguns palcos como este! Apesar disso, estivemos muito bem representados! Uma Filomena que arrasou por dois Salvadores, (há quem a compare já com Petra Mede, anfitriã do ESC 2013 e 2016 na Suécia, que também fez furor na altura com as suas piadas), uma Daniela Ruah que passou da sua cara séria de Kensi para uma Daniela meia comediante, uma Sílvia Alberto que, ao fim de apresentar quase tantas edições do Festival da Canção, finalmente chegou ao grande palco, e uma Catarina que, pela vasta experiência de apresentação, também lá chegou. 


Assim abrimos a primeira semifinal com as quatro a declamar a frase de abertura "Good evening, Europe, and Good Morning Australia!". Apesar de Portugal não participar em nenhuma das semifinais, eu queria ver quem seriam os nossos adversários na final. Durante a apresentação das canções tudo correu bem, não tive nada a apontar, os meus favoritos passaram quase todos, exceto dois que eu não contava que passassem à Grande final, que foram a Albânia e a Irlanda. Por outro lado, surpreendeu-me o facto de o Azerbaijão não ter passado, pela primeira vez desde que participa, à Grande Final… Ironia das ironias, quase toda a equipa era portuguesa, exceto a Aisel. Esta foi, na minha opinião a semifinal mais forte, com as melhores músicas e, também, onde estavam as duas favoritas a ganhar a edição deste ano (Chipre e Israel) e qualquer um que tivesse ficado de fora, não era por ter cantado mal, mas simplesmente porque não havia lugar para todos na final. 


Quinta-feira, dia 10 de maio, dia da segunda semifinal. Tal como foi dito acima, Portugal não participava, mas desta vez eu estava a torcer pelo responsável que me fez seguir este concurso e ficar “fanática” por ele. Sem ele, provavelmente não estaria aqui a esta hora a escrever-vos este testemunho. Essa pessoa foi Alexander Rybak, que venceu o ESC pela Noruega em 2009, e que agora voltava a representar o mesmo país, desta vez com uma canção bem diferente da “Fairytale”. Rybak trouxe-nos uma espécie de manual de instruções, com o título “That’s how you write a song”. Estava com um bocado de receio, pois tinha medo que, depois da estrondosa vitória em 2009, ele não passasse sequer à final com esta música. Mas a verdade é que também estamos a falar da semifinal menos forte, onde havia poucas favoritas à vitória e, neste caso, senti-me um pouco confortável. 


O desfile das músicas termina, mas antes de avançarmos para a votação, chega-nos o momento pela qual quase que me era preciso dizer: “Fecha a boca que entra mosca!”. De forma completamente inesperada, sai-me uma Mena a imitar na perfeição a Loreen e depois aparecem as quatro apresentadoras a dançar riverdance. Isto é muita dose para o meu coração! Um arraso total! Foi preciso quase fecharem-me a boca de tão pasmada que eu estava! Por mim, se estivessem a competir, o ESC ficaria novamente em Portugal só por este momento espetacular!


Depois de conhecermos todas as músicas, finalmente chegámos à final, e finalmente chega o dia da concretização de um sonho: ver o ESC ao vivo, no meu país!

A entrada para dentro do Altice Arena foi feita sem problemas. A nível de segurança, sem dúvida que havia muita polícia, no entanto, acho que a revista era feita um bocado de forma “descontraída”, não sei se era por haver muita gente junta ou não, o certo é que alguns que entravam, quase que nem tinham que mostrar o que levavam… Chegada lá dentro foi só procurar a entrada para o respetivo balcão e entrar. Bem… É aqui que o sonho vira realidade. Quando cheguei lá dentro quase que vertia uma lágrima. Ao fundo já se via o palco, não que não fosse grande, mas na TV parece maior. Ainda assim, foi muito agradável de se ver. Um ambiente incrível. Sabem quando vão aos jogos de futebol ver a seleção de Portugal? Aqui é quase igual, mas melhor. E depois houve uma outra coisa. Por momentos pensei que tinha entrado em Espanha, ou coisa do género. É que por incrível que pareça, no sítio onde eu estava, Portugueses, éramos poucos, e espanhóis eram “aos montes”!


Durante as atuações já quase que se fazia prever quem iria ganhar esta edição. Cada vez que a música de Israel, Chipre, Hungria, Espanha e Reino Unido passavam, era a loucura! (Estranhei a pontuação atribuída aos últimos três países mencionados… Mas enfim, é a vida!) A primeira até incentivava a fazer a dança da galinha, a segunda era um “intenso fuego” que fazia com que toda a gente dançasse e cantasse. Conclusão: a vitória era para Israel ou Chipre. 


O desfile das canções termina e começam as atuações dos convidados. Novo ponto alto: Salvador Sobral e Caetano Veloso. Confesso que gostei mais da atuação deles no ensaio, aka, Family Show. No live show, o Caetano pareceu-me estar mais “atrapalhado” em conseguir atingir as notas mais agudas, do que no ensaio. Mas isso não invalidou que o público presente não acompanhasse a canção. Toda a gente cantou mais uma vez “Amar pelos dois” e que bem que ficava aquele “eco” de fundo! No entanto, tenho uma coisa a destacar, que é a atitude do Salvador nas últimas semanas. Se não gostava das músicas não precisava de dizer… Isso só fez com que a atitude dele manchasse um pouco a sua imagem, enquanto pessoa, e fez com que tivesse que engolir um grande sapo quando entregou o troféu à Netta!


Começa a votação e aqui revelam-se grandes surpresas. Nunca vi uma votação tão renhida como a deste ano. E, surpresa das surpresas: Aústria ganha a votação dos jurados! Sinceramente fiquei muito contente, pois a canção era uma das minhas favoritas. Por mim, a votação podia acabar já ali! 


Agora, em relação à canção que realmente venceu o ESC (sim, porque o televoto mudou tudo...) Tudo bem, que a canção da “Neta do Toy” (como muitos brincavam) já andava a fazer estragos pela Europa há muito, e há muito tempo que era apontada como vencedora à vitória do ESC 2018 pelos principais sites de apostas relacionados com o evento… Mas daí a ser realidade… A música não é má, e até fica na cabeça… Mas sinceramente, não a consigo associar à mensagem pesada que acarreta. É demasiado “animada” para uma canção que fala de assédio e de atos violentos que as mulheres sofrem hoje em dia. E depois a canção parece o "hino dos galináceos" (perdoem-me aqueles que adoraram a canção, mas eu ainda me encontro em fase de "negação"). Por isso, acho que vou começar a preparar os animais todos que encontrar e começar a prepará-los para o Festival da Canção... Com sorte ainda saímos de lá com alguma vitória, ou assim. Lá se foi o mote "Music is not fireworks"...


Apesar de este ter sido o ano das galinhas tomarem conta do maior evento de música à face do planeta, tenho a certeza de que esta foi uma das melhores edições do ESC de sempre e, por isso, direta ou indiretamente, estamos todos de parabéns! Principalmente a RTP que espetou uma chapada de luva branca àqueles que pensam que o ESC é só usar do material mais caro que há para impressionar...

Sim, arrasamos, mas agora, já que se fala tanto em descentralização, fico à espera que o próximo ESC por terras lusas (se eu ainda estiver por cá, não é?) seja mais descentralizado... Mais um pouco para norte, ah, RTP? 

Fico à espera!

Até lá! 

Imagens: Eurovision / Vídeos: Eurovision; Fonte própria

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