Este ano o Festival RTP da Canção voltou. Muitos foram os meios de comunicação social que falaram sobre toda uma renovação em torno do evento. Falava-se de um “novo ar” assim como de uma inovação demarcada – visto que, em termos de regulamento, poderiam os temas ser apresentados totalmente na língua de sua majestade, o inglês. As expectativas eram altas, o acreditar dos portugueses, daqueles que ainda seguem toda esta festa, pareciam renovados e esfusiantes.
Ver o Festival a surgir, novamente, no panorama e na boca de todos, foi algo bastante positivo, e com certeza trouxe mais pessoas a assistirem, ou a descobrirem, este evento que já deteve uma importância e um relevo tão acentuado no nosso país.

Longe vão os tempos em que Portugal parava para assistir ao Festival RTP da Canção. Longe vão os serões das famílias portuguesas em frente à televisão a vibrarem com as atuações. Simone de Oliveira, Carlos Paião, Madalena Iglésias ou até mesmo António Calvário, tornaram-se uma lenda e nomes que ficarão para sempre perpetuados e associados a este certame.
Com “sangue novo”, assim como era anunciado, vi algumas mudanças em torno da organização e da presença de novos rostos – tão necessários para contribuírem para um renovar do Festival. Porém, esperava um pouco mais, e acredito que todos o esperassem. Muitos artistas vinham de concursos levados a cabo pela própria RTP e ao mesmo tempo, outras figuras por lá permaneceram – ficando sempre aquele sentimento de que voltaríamos a ver tudo de novo. Repetição de velhos hábitos e a presença de antigos costumes.
Destaco que alguns temas, mesmo antes de os conhecer em concreto, despertaram-me algum interesse - preferindo falar deles um pouco mais adiante. Tinha as minhas expetativas controladas, confesso, mas acreditava que poderia assistir a algo inédito no Festival. E tal não foi, em todo, um engano.
Se existiram temas que não primaram pela diferença, e que acabaram por ser mais uma repetição do que se tivera assistido em anos anteriores, surgem outros interpretes e outras composições que marcam muito esta, tão desejada, viragem em torno de Festival. Como se ouviu ontem, segundo o que alguém parafraseou, trata-se de “preservar as memórias, inovando-as”. Penso que é isso que aqui se procura, mas para isso temos de ter jurados que não se prendam tanto ao que assistimos no passado, mas sim ao que se vê no palco da Eurovisão – temas arrojados e comerciais.
O tema composto pelo Nuno Figueiredo e interpretado pelo Pedro Gonçalves é um exemplo claro disso. A inovação e a criatividade foi uma constante. Assumo que conseguiria ver aquela canção no palco da Europa, sem que me sentisse melindrado pelos outros países. Sabendo, contudo, que teria de assumir novos arranjos, e acrescentar um pouco mais de vida, considero que no geral tinha bastante potencial para nos representar “lá fora”.

Por outro lado, ainda hoje me questiono como é possível assistirmos ao tema "Nunca Me Fui Embora", interpretado pela Lena d'Água, numa final. Será que não existiam outras opções melhores? Mas como qualquer Festival tem de ter um pouco de burburinho em torno do mesmo, vou assumir esta passagem como um mote para isso mesmo.
Não poderia, então, deixar de referir outros temas que me agradaram, mas que acabaram por ficar pelas eliminatórias respetivas. Exemplo disso são: a Lisa Garden; a Márcia e a Beatriz Felício – dando primazia a este último nome que considero ter um potencial enorme e um futuro feliz pela frente.
Agora poderia falar do vencedor, e assim rematar toda a minha crónica, mas prefiro ainda falar de outros aspetos e, só depois, tecer a minha opinião acerca do tema que nos representará em Kiev.
Considero que a RTP este ano tentou melhorar. Merece o meu aplauso pela vontade, mas realmente, nem tudo correu bem. Respetivamente às semifinais, a acústica não foi a melhor e o palco não estava bem conseguido, visto que não resultou bem a conjugação entre o público e o local preciso em que os interpretes atuaram. Os grafismos deixaram muito a desejar, e as composições – que tantos pensavam ser um arraso – acabaram por se apresentar medianas.
Destaco, contudo, a organização, que foi incansável na preparação e na organização das pessoas pelo espaço – o que já não aconteceu no Coliseu dos Recreios, aquando da Grande Final do Festival RTP da Canção. Acho que ainda temos um grande caminho por percorrer, se compararmos com outros países que lutam, realmente, por vencer e deixar a sua marca na Eurovisão.
Que tal renovarmos tudo? Reinventarmos o Festival? Largarmos velhos hábitos e estamos mais recetivos à inovação? Que tal olharmos este concurso não só em ponto micro, mas sim em ponto macro? Temos de pensar no que a Europa procura, e não somente no que o público português vota.

Acho que temos de voltar a dar a dignidade que merece o Festival, e quando ela foi reestabelecida, aí sim, podemos voltar a ter grande nomes a concurso – tornando o evento em algo prestigiante e nunca o desvalorizar de um artista. Eu quero acreditar nisto, e penso que todos os que seguem e que são apaixonados por isto também o queiram.
Chegando, assim, à final, destaco os medleys que foram fantásticos, contrariamente aos das semifinais, e às atuações repletas de luzes e efeitos visuais. Também o palco é um ponto positivo que destaco. Para mim, a dupla de apresentadora, assim como a presença da Filomena Cautela, foram um dos pontos altos, sem qualquer margem de dúvida.
A aproveitação do Festival para se proceder à comemoração dos 60 anos da RTP, não foi, de todo, uma boa ideia. Prolongaram de mais o evento, e acabaram levar a alguma dispersão do verdadeiro sentido, pelo qual, as pessoas ali estavam. Pareciam dois eventos num só, e isso não foi bem conseguido.
Finalizando, e rematando esta minha opinião, que vale o que vale, terei de falar do nosso Salvador, e do tema que nos irá representar.
Se há coisa que tudo isto prova é que menos é mais, e que não é preciso grandes misturas de géneros, nem salientes decotes, para se conseguir o que quer que seja. Mais do que uma vitória da simplicidade, eu atrevo-me dizer que a vitória dos irmãos Sobral, é uma vitória da humildade. Gostei de ver que os portugueses valorizaram isso.
Não acredito que estamos mal representados, muito pelo contrário, acredito que vamos com uma das melhores apostas dos últimos anos – comparativamente ao que nos aconteceu no ano de 2008. Saberei que independentemente do resultado, ontem naquela escolha fomos grandes. E grandes continuaremos a ser, sempre que acreditarmos na força que temos, sempre que olharmos para o Festival e vermos neles uma paixão, e o resultado de tantas caras que lutaram para que ele continue vivo.
Viva ao regresso português ao palco eurovisivo!
Viva à paixão que nos unem a uma mesma canção!
Imagens: sol.pt, TVMais.pt e RTP
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