Ainda não quero acreditar que mais uma Eurovisão passou. É
ingrato esperarmos um ano inteiro por esta semana eufórica e ela passar tão
rápido. A Eurovisão é assim, é um evento anual único e apaixonante. E é isso
que nos faz gostar tanto dela.
Devo começar por referir que eu demorei imenso a entrar no
espírito da Eurovisão de 2015. A maioria das canções não me convenceu à
primeira nem nunca chegou aquele tema que me deixasse completamente arrasada.
Apesar de isso ter mudado, a verdade é que todos os que adoram a Eurovisão como
eu irão concordar que o ano pode apenas ter músicas terríveis que não vamos
deixar de ter guilty pleasures, favoritas e, acima de tudo, nunca conseguiremos
deixar de achar que ver a Eurovisão sabe melhor que abrir prendas no Natal!
A Áustria, como país anfitrião, desiludiu bastante. É
preciso perceber que de ano para ano a tarefa de organizar a Eurovisão se torna
cada vez mais ingrata. Parece que tudo já foi feito, que não há grande coisa
para inovar. Ainda assim, não são justificáveis as falhas vistas neste
festival. Grafismo bastante amador para um evento deste calibre, um palco
claramente inferior ao que se tem visto ultimamente, problemas técnicos nas
transmissões durante as votações, postcards paupérrimos a comparar com os do ano
passado, atuações muito prejudicadas devido aos planos de câmara dignos de
estagiários com 5 anos de idade. Para não falar de que nem sei como é que a
Nina Sublatti, da Geórgia, não morreu intoxicada com aquela falha no fumo! Se a
celebração dos 60 anos da Eurovisão fosse verdadeiramente uma festa, seria
daquelas em que os convidados iam dar a desculpa de que tinham de ir para casa
dar banho à avó para ir embora.
Quanto às apresentadoras, fraquinhas e com piadas demasiado
forçadas. Foram as piores dos anos de que me recordo. Chegou a uma altura em
que fiquei sem perceber o que detestei mais: o “insípido”, palavra de que tanto
gosta, Ramon Galarza, ou atitude de “ok, já posso ir para casa?” da loira cujo
nome nem me apeteceu procurar.
Os interval acts e a abertura não nos mostraram
nada de extraordinário nem nunca visto. Contudo, a verdade é que Conchita Wurst
de pouco precisa para nos deixar desmaiados no chão a achar que não somos
dignos desta vida face a alguém tão soberbo. Com as suas intervenções só veio a
sublinhar tudo o que todos sabemos: não é tão cedo que voltaremos a ver um
vencedor da Eurovisão com tanto impacto como ela, quer se goste ou quer se
odeie.
Falando das semifinais, vamos dar início ao meu espaço de
revolta – afinal de contas, qual é o eurofã que não tem vontade de se atirar
da ponte mais próxima de cabeça quando vê as suas favoritas a não passarem à
final?
A primeira semifinal, ainda que a mais fraquinha, tinha dois
países que estavam no meu top10 pessoal e que não seguiram em frente, a
Bielorrússia e a Moldávia. A primeira, simplesmente não dá para entender porque
se ficou por aqui, só consigo culpar o extremo mau gosto do mundo. A segunda,
pode ser um género ultrapassado para quase toda a gente, mas eu defendi desde o
início e continuo a defender o Eduard Romanyuta na medida em que tinha um tema catchy, uma voz que se aguentou do
início ao fim e a atuação mais rebuscada do ano. Um excelente esforço, que se
veio a refletir na quase passagem à final, e uma das maiores injustiças desta edição.
Nota positiva para o falhanço da Finlândia, que prova que a música ainda vai conseguindo prevalecer sobre as circunstâncias da vida dos intérpretes, e da Dinamarca, que
tinha uma música simplesmente pavorosa e o flop foi muito justo.
Quanto à segunda semifinal, sendo esta fortíssima, de uma
maneira ou de outra iria sempre haver injustiças. República Checa e Irlanda
também constavam nas minhas favoritas e sinceramente esperei que passassem. A
primeira, principalmente, pois teve uma dupla muito competente e uma canção que
me foi conquistando com o passar do tempo. Excelente regresso do país ao festival!
Aproveito para falar aqui de Portugal, o país coitadinho da
Eurovisão. Não passou à final e, aceitem ou não, justamente. Sempre achei a
música fraca e milagres não existem. E ainda achei injusto ter sido mais votada
do que a Islândia e a Suíça. Já cansa, de ano para ano, só ler comentários a
dizer que devíamos ser representados por x ou y, que a atuação devia ser isto
ou devia ter aquilo. Que a RTP devia deixar de chamar este ou aquele. Estou
farta desse sentimento de revolta por parte de toda a gente e ninguém fazer
nada. Desistam de uma vez. Não fazemos falta. Apresentamos músicas medíocres,
acendemos uma velinha para que Deus esteja do nosso lado, falhamos e depois
repetimos no ano seguinte. Para isto não vale mesmo a pena gastarem o tão
sagrado dinheirinho.
Num todo, tivemos uma excelente final. Boas vozes,
intérpretes que souberam defender o seu tema, sem finalistas absurdos. Tivemos
momentos de emoção, de diversão e alguns temas ideais para podermos ir à casa
de banho ou levar o cão à rua, como o da Hungria, o do Chipre, a da Polónia e o
do Azerbaijão, que foi, para mim, a proposta mais fraca do país desde a sua
estreia.
A Eslovénia, Israel e a Estónia tiveram performances
absolutamente irrepreensíveis. Os Maraaya, apesar de não gostar muito da
apresentação em palco, com aquele piano e com a bailarina maluquinha,
conquistaram-me muito devido à presença de palco e voz da Marjetka. O Nadav, de Israel, aniquilou-me por apresentar uma proposta completamente eurovisiva e de
um género musical que adoro, aliada a uma excelente atuação em palco. A
Estónia, por ter uma excelente canção, dois intérpretes que a souberam defender
e o melhor cenário do ano – a porta a abrir-se e a Elina a sair. So-co-rro!
A Sérvia, a Bélgica, a Letónia e Grécia, apesar de nunca
terem despertado a minha total atenção, conquistaram-me pela atuação em palco.
A primeira tinha uma música rasca e uma excelente voz, mas o que nos marcou a todos
foi aquela mudança a meio da canção, onde o público ficava completamente louco!
O Lorde da Bélgica, tendo surpreendentemente alcançado o 4º lugar, teve uma
atuação muito original, sabiamente ajudada pelos planos de câmara, aliado a uma
voz muito competente. A Aminata tinha uma canção nada expectável e nada
habitual neste certame e conseguiu defende-la tão bem! E a Grécia, apesar de
não trazer nada de novo ao festival, trouxe uma excelente intérprete e uma das
melhores vozes do ano.
Destaque positivo também para a Geórgia e para Albânia, duas
das melhores propostas do ano, que deram tudo em palco e que mereciam, sem
dúvida, ter entrado nos 10 mais votados.
Não posso deixar de falar aqui de uma das melhores canções
do ano. “Adio”, interpretada por Knez e composta pelo rei das baladas
balcânicas, Zeljko Joksimovic, deu ao Montenegro o seu melhor resultado de
sempre, quando eu muito temi que injustamente não passasse à final. Haja alguma
justiça no meio deste circo!
Este ano os Big 5 e anfitrião tiveram uma visitinha especial
– ou então não, visto que deve voltar para o ano -, a Austrália. Foi uma
excelente estreia, com um tema atual interpretado por um bom profissional. Digamos
que superou, em termos de qualidade das propostas, alguns dos países com
passagem direta para a final, como a França e a Áustria. Apesar de a cantora
francesa ter uma excelente voz, a canção não tinha muito por onde pegar. Era
fraquinha, como têm sido todos os temas franceses dos últimos anos. O grupo
austríaco, para mim, foi uma autêntica vergonha. O país anfitrião, com uma das
piores músicas do ano, com uns intérpretes com uma atitude pretensiosa e um mau cabelo. Nem o piano a
arder os safou dos zero pontos, totalmente merecidos.
Falando em zero pontos… A Alemanha. Quando olhei para o
scoreboard não quis acreditar. Foi triste, nada previsível e totalmente
injusto. Tive mesmo pena, pois a Ann Sophie tinha um bom tema, uma boa voz e
uma atuação sóbria e bonita visualmente. Apesar de admitir que não gostei do
tema à primeira audição, e provavelmente a Europa toda teve a mesma reação que
eu, nada fazia prever os null points.
“Amanecer”, trazido pela Espanha, foi a minha canção do
coração este ano. A minha preferida desde que foi apresentada, ainda que continue a achar
que não é completamente arrebatadora, e o país que mais doeu ver tão baixo na
tabela de classificações, com apenas 15 pontos. Língua materna, uma das
melhores vozes do ano, a atuação mais bem pensada (arruinada pelos planos de
câmara) e nem chegou ao top20. E ainda dizem que a não passagem de Portugal foi
uma grande injustiça.
Deixei o top3 para o fim pois confesso que ainda não
consegui gerir a cambada de nervos e oscilações durante as votações. Ora
ganhava a Rússia, ora ganhava a Suécia, ora a Itália aproximava-se. Um festival
autenticamente impróprio para cardíacos. Acabou por ganhar o que menos gostava
dos três e, destes, o melhor país para organizar o festival em 2016.
Musicalmente falando, “Heroes” não chega aos calcanhares do tema italiano nem
consegue ser tão arrebatador como “A Million Voices”. E já que falamos no tema
russo, ainda espero que um dia o público que assiste à Eurovisão consiga
perceber que nem todos os representantes deste país são amigos ou filhos do
Putin nem contra os gays. A Polina, coitada, quase que tinha um piripaque, e
ainda levou com aqueles apupos todos. Lembrem-se de que a mensagem pela
tolerância não serve só para um lado.
E pronto, lá se foi mais uma Eurovisão. Uma pessoa pensa que
consegue poupar uns tostões para ir à Itália, que nem saia muito caro, e a
Eurovisão troca sempre as voltas. Se não fosse assim, não tinha graça nenhuma.
Agora, voltemos todos para a gruta, para deprimir por ainda faltar 350 e tal
dias para mais um festival!
Vídeos/Imagens: Eurovision.tv
31/05/2015
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