Nos dia 7 de março realizou-se a 50.ª edição do Festival da Canção. Temos que dar o nosso reconhecimento à RTP por querer manter um programa televisivo que já tem tanta história na música portuguesa! A RTP, este ano, quis inovar, apresentando uma solução de semifinais, e com o regresso de música ao vivo - sendo este ponto algo que já não acontecia há diversos anos. O espetáculo decorreu nas próprias instalações da RTP, estúdio 2, e a RTP decidiu convidar 12 compositores nacionais para apresentarem 12 músicas inéditas associadas a intérpretes à sua escolha. Desses convites, foi-nos dada a possibilidade de rever grandes intérpretes, que já passaram pelo Festival e fizeram história do evento - como vencedores e representantes de Portugal no Festival Eurovisão da Canção: a grande Simone de Oliveira, a Adelaide Ferreira (como autora, compositora e interprete) e Sara Tavares (como compositora).
Como sabemos, o Festival da Canção, desde que foi criado serviu sempre o propósito de ser um concurso de canções de forma a seleccionar uma para um grande evento europeu e mundial, chamado o Festival da Eurovisão da Canção. Será que o Festival da Canção acompanhou, ou tem acompanhado, a evolução de outros Festivais que se realizam noutros países europeus? A meu ver, acho que não, e não pondo desmérito na organização do próprio festival da canção com as limitações temporais impostas (quer por orçamento, quer por decisões de conteúdos programáticos da RTP). Penso que o nosso Festival ficou aquém das minhas expetativas como programa em si, e foi pouco apelativo para o grande público, sendo as audiências as que podemos constatar.
Enquanto a RTP decidir continuar a apostar em modelos importados e cujos os direitos de utilização de marca terão que ser pagos ao exterior, e não decidir em a apostar em programas de marca da RTP, como o Festival da Canção, com um orçamento condigno para um programa histórico da televisão portuguesa, penso que RTP não conseguirá dar visibilidade que pretende a este programa televisivo. Fico com esperança que, futuramente, a RTP aposte mais neste último modelo, com apoios necessários para dar visibilidade ao evento e que preste serviço publico à cultura portuguesa, na área da música.
Este ano a RTP decidiu ainda inovar com um novo método de selecção de finalistas, por intermédio do televoto 2 canções para a final e voto de compositores de uma 3 canção. Será que foi uma boa solução?
Tendo em conta o resultado final que conhecemos, penso que não foi uma boa solução, pois tendeu a ser bastante incompreensível a decisão dos compositores a passagem de uma terceira canção que nunca foi do agrado do público televotante. Assim tirou a oportunidade de outras canções que tendiam a ser de preferência do público de casa, e que por acaso tiveram acesso directo pelo televoto à final de 7 de Março. Claro está que esta questão do televoto é um terreno desconhecido e basta ter apoios de cantores de reconhecido valor artístico para que as pessoas decidam votar no nome, e não na canção. O Festival da Canção é, como o próprio nome indica, um festival de canções, não de cançonetistas (por mais que tenham muitos anos de carreira). A canção vive de quem a canta, da expressividade que lhe empresta, da emoção, da sua dedicação.
A apresentação esteve a cargo de Catarina Furtado, a primeira vez que esta apresentadora participou neste certame, e cumpriu o seu papel de debutante com todo o mérito e com todo o brilho que já nos acostumou noutras ocasiões. A acompanhar tivemos o nosso grande Júlio Isidro. Com sua forma calorosa e apresentou o desfile de canções! Foram uns anfitriões dignos da Final do Festival. Um ponto também muito positivo para os outros dois pares de apresentadores Joana Teles/Jorge Gabriel e Sílvia Alberto/José Carlos Malato.
Quanto ao desfile das canções apuradas para a final do Festival da Canção, devo dizer que tivemos grandes interpretações. Aponto as interpretações da grande Simone de Oliveira, Teresa Radamanto,Yola Dinis e Leonor Andrade. De referir ainda as prestações de grande qualidade de Gonçalo Tavares e de José Freitas, que deram grande brilho ao espetáculo e ficarão na memória dos telespectadores.
Quanto à Simone de Oliveira, posso considerar que a interpretação da canção “À Espera das canções” será um marco histórico na sua longa carreira. Cada palavra, cada gesto, cada expressão, e o sentimento transmitido, ficará na memória do público, que assistiu ao vivo no estúdio. Se esse sentimento foi transmitido para telespectador, o tempo o dirá. Mas podemos dizer que a Simone de Oliveira não precisa de provar nada! A Simone já provou o que tinha a provar ao grande público português. Temos de dar o nosso reconhecimento e admiração por termos o privilégio de ter a sua presença, e visualizar uma interpretação sublime, carregada de energia e de sentimento.
Quanto à Teresa Radamanto, foi com surpresa e com agrado que soube da presença dela neste festival. Fiquei muito contente em saber que haveria alguém que se lembrou dela para interpretar uma canção. É com imensa pena minha que não a veja mais vezes no panorama musical português, pois considero-a como uma das melhores vozes portuguesas atualmente. Pode ser que, com esta sua presença, sirva de promoção para novos projectos de música. Gostaria muito.
Quanto à Yola Dinis, para mim foi uma das grandes surpresas deste festival, positiva. Pela voz, pela força de interpretação ao seu tema “Outra vez Primavera”. Para mim um dos melhores temas a concurso. Uma canção étnica composta pelo Nuno Feist com letra de Nuno Marques da Silva, com uma força e com uma carga dramática capaz de prender qualquer pessoa, e com sonoridades bem portuguesas. Uma das minhas preferidas, sem dúvida nenhuma. Sei que a Yola Dinis já tem uma carreira feita, na vertente do Fado, e de certeza que a presença neste festival lhe irá trazer outro reconhecimento e novo público que seguirá o seu percurso musical!
Quanto à Leonor Andrade, devo referir que a sua interpretação e sua jovialidade foi peça fundamental para que a canção “Há um mar que nos separa” ganhasse o Festival da Canção 2015. Era uma das minhas canções preferidas. Uma canção moderna, de influências urbanas, com atmosfera misteriosa e com uma letra que pode ter duplo sentido. Quando falo nesse duplo sentido é no aspecto de ser algo que nos possa identificar com a letra, tanto para o ser interior como noutro aspecto de olharmos para os portugueses que estão fora de Portugal e que, de alguma forma, se revêem no refrão - como saudade da pátria “Se há um mar que nos separa, vou secá-lo de saudade” e segue “apertar-te contra o peito, beijo feito de vontade”. É este o entendimento que faço do refrão, mas poderá haver outro. Considero que a canção insere-se perfeitamente no conceito atual do Festival da Eurovisão da Canção e, facilmente, poderá tornar-se um hit comercial e passar nas rádios nacionais - e, quicá, internacionais.
Como forma de conclusão, posso dizer que vamos bem representados para Viena, pela nossa miúda do rock portuguesa eurovisiva, Leonor Andrade, com o mote: “HÁ UM MAR QUE NOS SEPARA E UMA BANDEIRA QUE NOS UNE”
Vídeo: Tiagobatista39/Jaime Aragão da Rocha
12/03/2015
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