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[Crónica] Festival da Canção 2012 (por Andreia Fonseca)


Mais um excelente Festival da Canção (FC) produzido pela nossa RTP… Mais uma bela soirée despendida em frente ao televisor… Bem, isto teria sido fantástico caso fosse verdade! A realidade (nua e crua!) é a seguinte: apesar da tentativa de inovar, tivemos a oportunidade de assistir a um espetáculo a roçar o amador, com músicas enfadonhas e que de tão idênticas que eram quase pareciam ter “saído do mesmo ventre”! Confesso que fiquei muito contente quando soube da nova forma de seleção aplicada neste FC, mas logo após visionar vídeos amadores com os ensaios, percebi que todo o aparato era, somente, fogo-de-vista! 

Mas acalmem-se as almas mais sofredoras e atormentadas! Nem tudo foi mau! Não por conta do trabalho e dinheiro despendidos pelos diretores da estação pública, mas sim devido aos excelentes músicos que se submeteram à avaliação pública e de jurados (nem sempre qualificados para a função!). Não posso colocar de parte os meus gostos pessoais, pelo que tenho de atribuir especial ênfase à fantástica capacidade vocal de Ricardo Soler… Que bela forma de iniciar um concurso musical, com agudos de fazer inveja a grandes nomes do panorama musical internacional! Ricardo merece um palco maior – aliás, em sentido literal, todos os cantores mereciam um palco maior, aquele quase provocava ataques claustrofóbicos!


Mais um talento “desperdiçado” foi o de Carlos Costa! Sei que este cantor nem sempre reúne consenso, mas algo é inquestionável… O seu carisma e amor pela Eurovisão! Carlos sabe como animar um palco, e o tema “Queres que eu dance?” não permitiu explorar a capacidade vocal do cantor (já confirmada em programas como “Ídolos”), tampouco a sua faceta multifacetada enquanto entertainer. Carlos, certamente, terá o seu lugar reservado enquanto representante português, mas com um europop mais arrojado, bem construído e original – sinceramente, um tema mais “sueco”! 


É certo que nem num Melodifestivalen (menciono tantas vezes a Suécia, porque, para mim, é um exemplo a seguir e, no fundo, espero que Carola me adote!) existem só músicas excelentes e que fazem o nosso coração acelerar… Mas este FC exagerou na fraca qualidade musical! Temas como o de Gerson, Tó Martins, Arménio e Pedro Macedo pareciam estar, a concurso, meramente, para marcar presença. Desde sempre se sabia que não eram candidatos à vitória, dado que apresentavam temas “incompletos”, sem qualquer marca carismática. Isto não significa que a culpa resida nos compositores, dado que a RTP não deve ter fornecido condições suficientes ou fatores motivantes! Muito menos se questiona a competência dos cantores… Com especial destaque para a excelente voz de Arménio, que tornou o seu tema em algo agradável de se ouvir.


Falando em competência dos cantores… Quando soube que Tiago Pais Dias (Amor Electro) ia fazer parte dos compositores do FC, nasceu uma pequena “chama” de esperança no meu peito! O tema por este composto não é nenhuma “Máquina”, mas as suas características peculiares tornam-no em algo interessante que, com algum trabalho, se poderia tornar marcante! Mas nem foi o próprio tema que “afugentou” os votos, mas sim a sua intérprete. Joana Leite não era a pessoa indicada para o tema, e neste sentido notou-se a falta de “diálogo” entre compositor e intérprete. Joana demonstrou-se incapaz de incutir ao tema a força que este exige, muito por culpa do nervosismo que a assolava. Eu sei, eu sei… Joana é nova e inexperiente, mas essas questões deveriam ter sido analisadas aquando da seleção dos cantores – belo trabalho RTP, mais uma vez!


Durante o FC, e apesar de raras exceções, fiquei com a sensação de “desperdício”! Tantas boas vozes, desperdiçadas em temas banais, insossos e despersonalizados. Outro exemplo deste facto é Rui Andrade – cara bem conhecida dos eurofãs portugueses e “justo vencedor” do FC 2011, caso existisse justiça! Rui Andrade, com a sua extraordinária voz e poder interpretativo, fez valer a pena assistir à sua música, que mesmo não sendo uma “Em nome do amor”, estava bem acima da média atendendo à concorrência. Não posso deixar de salientar a excelente capacidade vocal de Vânia Osório que foi, devidamente, recompensada pelos jurados distritais, e a atuação competente de Pamela Salvado que não desiludiu (bem pelo contrário!), tirando o melhor que o seu tema tinha para oferecer.


Por último, os primeiros! O duo Cúmplice’s foi uma das principais surpresas deste FC, tendo sido segundo na votação dos júris distritais. Se concordo? Não! O tema não tinha qualidade para tal… Acredito que este duo possa marcar posição no panorama musical português - aliás espero que tal aconteça – mas não os vejo como “eurovision-material”! 


Filipa Sousa acabou por se tornar na “Rainha da Noite”, vencendo com um tema de uma dupla já nossa conhecida! Foi um resultado previsível, tendo sido das poucas vezes onde podemos assistir a um consenso entre jurados e público. Tal demonstra o impacto que este tema surtiu entre os portugueses – nada como “Euphoria”, mas algo bastante poderoso à nossa escala. “Vida Minha” é um tema pensado e construído para a vitória no FC, que me parece ter condições para acalçar a final eurovisiva. Se esta era a minha música favorita? Não, sinceramente, preferia a música de Ricardo Soler… Mas não estou nada descontente, bem pelo contrário! Sinto-me, dignamente, representada – coisa que não aconteceu na edição anterior. Este ano temos uma boa música (que com alguns retoques se pode tornar muito boa!), com sonoridades portuguesas e muito bem interpretada – Filipa Sousa tem uma ótima presença em palco e alma de fadista! No fundo, e atendendo a tudo de mau, a noite terminou bem! 


Não podia terminar esta crónica sem referir o excelente momento que Yolanda Soares nos proporcionou, pena ter sido tão curto! Dispensavam-se alguns tempos mortos, preenchidos por diálogos irrelevantes dos apresentadores. Eu até gosto de Sílvia Alberto e Pedro Granger, mas por algum motivo a combinação não resultou bem no passado sábado. Penso que tenha sido da tentativa falhada de tapar o nervosismo com falas cómicas, o que levou a momentos bastante deprimentes. Neste sentido, nota-se a falta de experiência de ambos (até mesmo de Sílvia Alberto que já conta com alguns FC no seu currículo), fazendo sobressair a escassez de trabalho pré-festival!


Muito tem de ser melhorado RTP! Eu sei que não há dinheiro, é sempre a mesma “desculpa esfarrapada”. Porque se não há dinheiro público para promover a cultura – cada vez mais em decadência – também não deveriam existir fundos para promover futebol. É tudo uma questão de prioridades, e a televisão é um excelente meio de “hipnotizar” as mentes mais suscetíveis ao escolhe-las. Usem esse poder para formar pessoas, não para iludir crianças com sonhos irrealistas ou ideologias desadequadas! E termino assim esta crónica com um apelo desesperado, a roçar o filosófico, fundamentado num sonho utópico – “Sonhar ainda não paga imposto” portanto temos de aproveitar antes da próxima subida do IVA!


Imagens: Obtidas mediante pesquisa no Google Imagens
Vídeos: Alojados no Youtube 
Reservam-se todos os direitos autorais a quem advido!
12/03/2012

Redigido por: Andreia Fonseca
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  1. Não tem a ver com o dinheiro mas sim quem está á frente desta organização, que faz por lá o Ramon Galarza e o Fernando Martins?
    Outra questão se os cantores foram atribuídos por sorteio como podem explicar a Filipa ter calhado ao compositor Jorge (que depois acabou por desistir?)
    Por fim a musica composta pelos Amor Electro merecia uma boa voz, talvez o Rui, quem sabe?
    Uma Recomendação para a Rtp, comecem a trabalhar no Festival atempadamente e não antes dois meses como tem acontecido...ponham os olhos numa Suécia entre outros...

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  2. Concordo com muito pouco desta crónica.

    Foi um bom festival em termos de espetaculo(palco, videos de apresentação, horáculos, apresentadores, actings extra-concurso), as canções de facto podiam ser melhores, mas já houve anos piores!

    Houve consenso do juri e televoto (25% dos votos para a vencedora demonstra o quanto a musica agradou aos portugueses), foi uma justa vencedora!

    É curioso reparar que por mais que a rtp se esforçe e tente fazer diferente todos os anos só se vêem críticas! Também todos os anos vejo todos os eurofãs portugueses insatisfeitos com a sua canção, só mostra o complexo de inferioridade portugues porque até podemos não passar á final (eu acho que não é de todo impossivel....acho que temos 60% de hipoteses de passar).

    A Suécia tem um espetaculo que é fogo de vista, 99% das canções concorrentes são musicas mexidas (raro haver um balada que seja verdadeiramente boa e candidata) em que todas não passams de schagler camuflado (aqueles hard rock deste ano são os casos mais flagrantes!). E se formos a ver, suecia é sempre espetacular mas analisando os resultados nos ultimos anos dos dois paises se calhar o mais forte ainda somos nós....ironia do destino! Será!?

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  3. Não concordo com a crónica.
    A Sílvia Alberto e o Pedro Granger não combinam bem ? ERRO ! Eles fazem o melhor par de apresentadores desta decada do Festival da Canção.

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