Após a edição de 1974, a fasquia do
Eurofestival da Canção estava bem elevada, não tivessem os ABBA pisado os
palcos eurovisivos e expandido (ainda mais) o seu nome no panorama musical
europeu. O ESC de 1975 realizou-se em Estocolmo (capital sueca) a 22 de Março
desse ano, numa arena recém-construída para outros fins. Este evento ficou
marcado pela suspeita de atentados terroristas contra o mesmo, receio muitas
vezes vivido no decorrer da história deste concurso. No entanto, tal ameaça não
se concretizou, pelo menos contra o ESC, vindo a atingir outro alvo localizado na
Alemanha… apesar de igualmente trágico, não é pertinente para esta crónica.
Mesmo
vindo-se livres de ataques terroristas, a organização teve de enfrentar
manifestações organizadas por habitantes suecos que protestavam contra o
concurso e toda a sua vertente comercial e dispendiosa (esperemos que estes não
vejam actualmente o ESC, caso contrário, uma manifestação já lhes parecerá
insuficiente). Aliás, a Suécia chegou a renunciar à sua posição enquanto país
anfitrião devido aos encargos financeiros que acarretava. No entanto, e com a
generosidade que é inerente à nossa querida Europa, as regras modificaram-se de
modo a dividir as despesas por todos os países participantes – a este ponto pergunto-me
porque Portugal nunca quis vencer, dado que os “vizinhos” ajudam nas despesas,
mas isso são outras conversas…
Esta
edição veio introduzir modificações na forma de pontuação ao implementar, a tão
nossa conhecida, escala dos 1 aos 12 pontos (sem a atribuição dos 9 e 11
pontos) que pontua as dez melhores músicas escolhidas pelos jurados de cada
país. Aparentemente esta modificação confundiu a própria apresentadora que,
várias vezes, interpelou os jurados com questões, no mínimo, curiosas.
A
Grécia não participou nesta edição devido à estreia da delegação Turca nestas
andanças (uma vez que a Turquia invadiu o Chipre em 1974), no entanto neste ano
foi estabelecido um novo recorde de países a concurso, com um total de 19. Outra
“politiquice” remete para a própria interpretação portuguesa, com um tema a
reflectir o período político que se vivia em terras lusas (para mais
informações, pode ler a crónica dedicada exclusivamente a esta participação).
O
ESC de 1975 ficou, também, marcado pela quarta (e última até o presente ano)
vitória da Holanda, curiosamente com uma banda (tal como na edição anterior). Esta
tinha por nome Teach-In e interpretou o tema “Ding-A-Dong”. Aparentemente
os jurados gostam muito de músicas com nomes peculiares (vejam os exemplos de
“La, la, La” ou “Boom Bang-a-Bang”)… Uma prova do apelativo que são as
onomatopeias.
A banda…
Tal
como referido anteriormente, a Holanda levou o troféu para casa com a banda
Teach-In em sua representação. Apesar do nome (Teach = ensinar), este grupo
musical não tem muito a ensinar, uma vez que, apesar do seu mediatismo após a
vitória, não realizaram mais nenhum feito que importe salientar.
A
banda formou-se em 1967, tendo como líder Koos Versteeg (vocalista e teclista).
Com o decorrer dos anos, várias foram as modificações estruturais do grupo, com
várias entradas e saídas. Em 1975, foi-lhes concebida a honra de participar no
ESC, em representação da Holanda, acabando por vencer o concurso com 152 pontos
(mais 14 pontos que o segundo classificado, Reino Unido).
Esta
data marcou a melhor fase dos Teach-In, tendo realizado uma tournée pela Europa
durante dois anos. Este súbito sucesso terminou com uma, também, súbita
separação dos elementos da banda em 1978. A vocalista, Getty Kaspers, tentou
uma carreira a solo, mas, aparentemente, sem grande sucesso. Com o decorrer dos
anos, foram várias as tentativas de relançar a banda para as luzes da ribalta,
mas nenhuma delas foi bem-sucedida (a última já em finais da década de 90).
Pessoalmente, considero que a instabilidade inerente a esta banda (com as
infindáveis entradas e saídas de elementos) ditou o seu fracasso.
A música…
Este
tema apresenta um bom conjunto de sonoridades, com a guitarra a comandar o
ritmo. Uma ressalva positiva à utilização de um xilofone, um instrumento pouco
utilizado nestas lides, mas que deu um toque suave ao tema. Verdade se diga que
esta música sucede numa linha de temas marcantes (“Après Toi”, ”Tu Te
Reconnaîtras” e, claro, “Waterloo”), acabando por passar despercebida (até
mesmo pela sua sucessora, “Save Your Kisses For Me”). Mas não se pode negar que
é um tema adequado ao panorama musical em que se enquadra, beneficiando do seu
refrão que facilmente entra no ouvido – muito por culpa das benditas
onomatopeias, “Ding-Dingue-Dong”.
No
entanto, e gostos pessoais à parte, este tema foi um hit de sucesso, chegando a
entrar no top britânico (13ª posição), tendo a sua importância histórica neste
certame (assim como todas as outras vencedoras).
A interpretação…
Quanto
ao momento eurovisivo propriamente dito, a interpretação esteve a um nível
aceitável, mas nada que marque a história do ESC ou fique enraizado nas mentes
dos espectadores. As roupas são as normais da época, com muita cor e brilho
(demais!) e penteados estilo John Lennon.
O conjunto de vozes revelou-se bastante coeso e até
agradável. Penso que o que mais “salta à vista” desta interpretação é a boa
disposição em palco, sendo essa a principal nota a retirar-se do tema. O
momento final da actuação, com a quebra de um suposto sino, pode parecer um
pormenor um pouco ridículo (porque de facto o é) mas não deixa de ser uma
tentativa de deixar uma marca no público, algo único, daí merecer a minha
consideração.
Crónica redigida por Andreia Fonseca.
08/08/2011
08/08/2011
PS: Esta iniciativa tem por objectivo esclarecer o leitor, para que proceda a um voto mais consciente na nossa sondagem online "Qual foi o melhor vencedor de sempre da Eurovisão?".
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