Eu cresci a ver a Eurovisão. É provável que mais gente tenha crescido a ver a Eurovisão, mas não tenha ficado fã. São as pessoas normais e que, consequentemente, não passaram os últimos dias agarradas ao twitter. Eu passei 4h30 e 6h30 no twitter, na sexta e sábado passados, respetivamente. Isto não contabiliza as horas que passei no site na sexta à tarde. Para vos dar um termo de comparação, eu costumo ter um tempo de ecrã médio de 2h por dia ou menos.
O que se passou nos últimos dias, no mundo eurovisivo, foi vergonhoso e eu, que sou sempre a maior defensora junto daqueles que nada sabem sobre o concurso e só gostam de criticar, sou, como serão muitos de vós, a maior hater eurovisiva do momento. Ninguém odeia a Eurovisão neste momento mais do que os fãs da Eurovisão.
Eu não percebo nada de política. É, aliás, uma das muitas coisas sobre as quais não percebo nada. Pelo contrário, percebo até mais do que devia de Eurovisão e também percebo qualquer coisinha de noção. Assim sendo, o que vos proponho é uma análise apolítica do que aconteceu.
A EBU permitiu que Israel participasse quando muitos contestaram, comparando a situação com a da Rússia. Há, aqui, três pontos fundamentais em que as duas situações divergem:
- A Rússia está em guerra com outro país participante e Israel não;
- As sanções à Rússia foram imediatas e vieram de toda a parte, ao contrário de quaisquer sanções a Israel;
- A Rússia não detém uma marca patrocinadora do concurso, ao contrário de Israel.
- Os países automaticamente classificados para a final passaram a atuar na totalidade nas semifinais, o que provocou, certamente, muita confusão a quem não está familiarizado com as regras do concurso. Isto não teve, claro, nada a ver com o facto de a Suécia estar qualificada para a final;
- A votação começou logo no início do concurso na final. Isto não teve, claro, nada a ver com o facto de a Suécia atuar em 1.º lugar;
- O último recap foi feito na ordem inversa de atuação. Isto não teve, claro, nada a ver com o facto de a Suécia atuar em 1.º lugar;
- Mais metade dos papéis no sorteio das partes eram escolha da produção. Os produtores defenderam-se com o facto de haver muito poucas baladas. Nunca foi um problema até aqui, mas, de repente foi um problema. Isto também é capaz de ter a ver com a Suécia, mas depois de terem posto a Ucrânia a atuar depois deles, já duvido que tenha.
"They shall ensure that no contestant, delegation or country is discriminated and/or ridiculed in any manner."
- Proibir fãs de entrarem com a bandeira não binária na arena e proibir, inclusive, Nemo de usar essa mesma bandeira na flag parade, mas depois aproveitarem-se disso para propaganda é dos golpes mais baixos que já vi;
- Ouvir José Carlos Malato, assumido não-binário, referir-se a Nemo e Bambie Thug repetidamente com os pronomes "ele" e "ela" fez-me uma confusão tremenda. O resto dos comentários também me fez confusão, na verdade. Eu não sou, de todo, grande conhecedora de pronomes, mas uma pessoa assumidamente não-binária não ter a mínima atenção a estas coisas parece-me grave.
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