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Porque é que mema. deveria ir ao Festival da Canção

Se clicaram neste artigo porque conhecem perfeitamente o projeto mema., bem-vindos! Aguardem umas linhas enquanto eu apresento, ao resto de nós, esta artista como deve ser.

Sofia Marques, ou mema., é uma artista portuguesa que, em 2019, brindou o mundo com o seu primeiro single “O Devedor”.  Eu sei que escrevi “artista”, mas é pronunciado “ARTISTA”, não fosse Sofia Marques a compositora, produtora e voz de tudo a que abençoa com o nome. 


Sou sincera: eu e a música portuguesa sempre tivemos uma relação difícil. Talvez eu seja emocionalmente distante, mas ela nunca fez um esforço para mudar os seus vícios. Uma relação unilateral cheia de pop oco ou rock snob, que recusa a evoluir com a atmosfera que a rodeia. Já nem os rapazes de bigodes a tocar as suas Telecasters por cima de uma letra sobre crise existencial me sacia.

Acho que a música portuguesa pode ter a sua identidade sem se amarrar ao existente, ao velho recriado, ou ao novo coberto de mofo. A música portuguesa pode ser recriada em novas molduras que enquadrem alguém com menos de 30 anos, sem ninguém ter de telefonar à Bárbara Bandeira (que tem o seu mérito e contra ela nada levanto!).

Entra mema.

O EP Cidade de Sal está na corrida para um dos meus álbuns favoritos do ano.


 “Perdi o Norte” é uma das canções mais eufóricas que já ouvi, ao ponto de me deixar desconfortável. Engana o meu cérebro a achar que devia correr para algum lado, sem conseguir ter resposta das pernas. É uma canção que existe entre ruas que conheço e universos alienígenas. Não sei se estas analogias farão sentido a alguém, mas talvez esta dificuldade em expressar o que “Perdi o Norte” é seja o seu melhor trunfo.

“Perdi o Norte” não me parece uma comum modernização do som tradicional português. À semelhança do que o grande Conan Osíris faz na sua discografia, esta canção desconstrói o tradicional à procura do que mais o tradicional tem para dizer. É a exploração de alguém que viu o país de fora e que sabe o que Portugal vale, não isolado e em perfeito contexto com a música que se faz além-fronteiras. Por tudo isto, seria perfeita para o Festival da Canção. 

E ainda nem tinha mencionado o Festival da Canção!

Estou confiante de que mema. não só representa tudo o Festival da Canção deveria ser, mas representa também um diagrama de Venn muito saudável entre as pessoas que acham que devíamos levar música tradicional portuguesa à Eurovisão, pessoas que acham que precisamos de apreciar mais a nossa indústria eletrónica (que é formidável) e as pessoas que só querem canções capazes de competir na Eurovisão. A mema. é tudo isso.

Se (ou melhor, quando) a mema. for convidada pela RTP para compor para o Festival da Canção, acho que deve fazê-lo sem medo, apostando em tudo menos no seguro e subindo ao palco com uma visão extravagante (por favor, não mais simplicidade no Festival da Canção!). 

No pior dos casos, toda a audiência será introduzida a uma artista com o potencial de ressuscitar a minha (e a de muitos de nós) relação com a música portuguesa.

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