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[Crónica] A Eurovisão foi cancelada. E agora?


Sim, isto é só um programa de televisão. 

É um dos programas de televisão mais vistos de sempre. É um programa de televisão seguido de perto por milhares de pessoas no mundo inteiro. É um programa de televisão que foi criado para unir os países depois de uma guerra. É um programa de televisão que irá voltar a unir os países depois de uma guerra sem armas, mas só em 2021.

A verdade é que todos os que me conhecem sabem o quão má é a minha opinião sobre a Eurovisão dos dias atuais. Eu acho o conceito do concurso absolutamente incrível, mas a sua execução fica muito aquém das minhas expetativas. Eu queria uma eurovisão com músicas tradicionais, com idiomas nativos, com uma orquestra e com o foco principal na música. Em vez disso, tenho uma eurovisão com músicas fabricadas para agradar às massas. Em suma, eu adoro a Eurovisão, mas não gosto da Eurovisão. 

O cancelamento da Eurovisão junta-se a outros tantos cancelamentos de concertos, de eventos desportivos ou de férias. É uma distração. É uma distração que eu adoro mesmo não concordando com a maneira como os países a abordam. Todos os anos anseio pelo mês de maio. Todos os anos, aquilo que mais me dá gozo neste blogue, é escrever a crónica final sobre a Eurovisão. Não tenho nada disso este ano. Não temos. 

Eu percebo, claro que percebo. Organizar um evento destes numa altura em que morrem centenas de pessoas por dia é impossível. Adiar era uma opção? Não sei. Logisticamente era muito complicado, mas não sei até que ponto houve um esforço. De qualquer das formas, só me resta aceitar a decisão da EBU. Aceito não ter Eurovisão este ano, aceito que Roterdão seja a sede em 2021, mas não aceito que os países não escolham os mesmos intérpretes.

Países como a Suécia ou a Estónia que já confirmaram a final nacional para o próximo ano provaram não querem saber dos seus representantes para nada. Até que ponto é justo impedir um cantor de representar o seu país apenas porque não querem abdicar de um Melodifestivalen ou de um Eesti Laul? A EBU devia ter imposto que, a menos que os concorrentes deste ano recusassem, iriam representar o seu país em 2021. 

Não era um ano particularmente bom. Nas Apreciações Musicais do blogue - que iremos manter apesar de tudo - dei 12 pontos apenas a uma canção. Parece-me ainda assim que perdemos muito:
  • Era a primeira vez que a Ucrânia levava uma música totalmente em ucraniano;
  • Lituânia, Islândia, Roménia e Bulgária eram favoritas à vitória. São países que nunca venceram e, quem sabe se um deles o faria;
  • O Reino Unido finalmente esforçou-se. Se calhar nem ia acabar no bottom 5;
  • A Rússia tinha uma música divertida;
  • A Samantha Tina no palco eurovisivo depois de tentar 7 vezes;
  • Uma despedida em condições do Jon Ola Sand.

A Eurovisão nunca foi cancelada. Está repleta de polémicas e problemas, mas nunca foi cancelada. Esta notícia tirou-nos um pouco a alegria de viver e não há nada de errado com isso. Tirou-nos parte daquilo pelo qual esperávamos. 

A verdade é que, neste momento, ninguém espera por nada. Ninguém espera pela Eurovisão, ninguém espera pelo seu clube campeão, ninguém espera por um concerto, ninguém espera pelo jantar de aniversário de um amigo. Esperamos todos pelo mesmo: pelo fim. Mas esperamos sem ânimo porque não temos uma data. Não temos nada. Só a certeza de que, de um dia para o outro, a situação pode piorar. Estamos num túnel onde não há luz. Não há nada. Só papel higiénico. 

Tirarem-nos uma fonte de felicidade (ainda que passageira) só contribui para nos enterrarmos ainda mais em pensamentos pessimistas. Sim, isto é só um programa de televisão, mas não, isto não é só um programa de televisão!

Respondendo à pergunta do título: e agora? Não sei. 
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  1. "Eu queria uma eurovisão com músicas tradicionais, com idiomas nativos, com uma orquestra e com o foco principal na música." Portanto o que a Jessica queria era uma Eurovisão estilo anos 70? Eu acho que está muito bem como está desde o ano do Salvador. Tudo bem, este ano as músicas apresentadas não primaram muito pela qualidade, mas acredito que 2021 irá trazer grandes inspirações.

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