Novidades

latest

[Crónica] ESC 2019: o 10.º lugar de São Marino, a azia portuguesa e o último jogo do Jonas


Os que já leram comentários e coisas do género que escrevi sabem que tenho um problema grave com inícios e finais. Esclarecido isto, se calhar passamos ao que importa: o comentário extremamente relevante de alguém que nem sequer viu a Eurovisão em directo. Como pessoa que sabe definir as suas prioridades, optei por ir à Luz ver o meu clube sagrar-se campeão nacional e, quando cheguei a casa, comecei a ver o ESC. Foram 3 horas e meia de atraso mas, felizmente, consegui evitar os spoilers e, antes que comecem a dizer que sou péssima fã, ainda me dei ao trabalho de votar (obrigada aos que me avisaram no momento em que abriram as linhas).

Sabia que o meu favorito não tinha hipóteses e, por isso mesmo, vi esta edição com as expectativas muito baixas. O bom disto é que pude passar a piroseira dinamarquesa, os guinchos estónios e a cena (à falta de nome melhor) azeri à frente.


Então e a música vencedora? É boa e ele canta muito bem. O staging é que é mau. Mas há uma coisa em particular que faz com que não consiga ver "Arcade" como uma música vencedora: a falta de sentimento. O Duncan não me transmite absolutamente nada. E o problema podia ser meu e da minha insensibilidade mas já várias pessoas me disseram o mesmo. Felizmente, já lá vão os anos em que me importava com os vencedores ao invés de me focar no que realmente importa: o sucesso dos meus favoritos.


Podemos parar uns minutos para falar no melhor resultado de sempre da Macedónia? Confesso que foi por pouco que não chorei durante a votação do júri apesar de saber desde bem cedo que a Suécia ia acabar por ganhá-la. Tamara Todevska fez uma performance irrepreensível. É uma cantora de enorme qualidade e uma interprete ainda melhor. Foi mais que merecido.

Só gostava de saber porque é que ninguém me avisou que este ano era ano de o júri valorizar o melhor país eurovisivo da década (também conhecido por Itália). "Soldi" está longe de ser das minhas músicas italianas preferidas e até acho que o staging foi miseravelmente feito (a sério, deixem-se de traduções manhosas) mas poder ver um país que manda, ano após ano, música de qualidade no 2.º lugar é impagável. Agora podiam era ter feito esta brincadeira de dar pontos a Itália, sei lá, em 2015 ou em 2018. Tinha sido giro.

Claro que nem tudo são rosas e, por isso mesmo, o meu 2.º lugar (Roménia, portanto) ficou pela semifinal. Injusto? Claro. A música é boa, o staging também e a voz dela ainda melhor. Claro que me chocou bem mais a não passagem da Hungria. A música deste ano era inferior a "Origo" (muito até) e, durante 3 dias, condenei o júri por mais uma vez ter deixado Joci Papai num lugar imerecido. Sucede que desta vez foi o público.


Então e Portugal? Ui, isto é um tema sensível, não é? Se vos disser que fiquei bem mais chateada com a não passagem da Hungria do que com a de Portugal sou deportada, certo? Achei piada a todos os que disseram "Portugal não passou por causa de São Marino" ou "Portugal ficou em 11.º a 2 pontos de São Marino, isto é ridículo". Ora, foi quase isto. Só que São Marino ficou em 8.º e Portugal em 15.º. Nós ficámos atrás da Geórgia (e merecidamente!) que era apontada por todos como candidata ao último lugar. É injusto? Claro. Vamos enviar só baladas a partir de agora? Óbvio. É razão para tanta azia? Diria que não. Há coisas piores na vida? Sim, o Jonas fez o último jogo pelo Benfica ontem.


Por falar em São Marino, eu sou uma daquelas "pessoas cuja opinião sobre a Eurovisão, a música ou a generalidade dos assuntos deixou de ser válida". É assim que as pessoas apelidam todos os que votaram no Serhat, certo? Permitam-me que vos explique o meu voto: além de obviamente não ter amor ao dinheiro, o que fiz foi tratar a Eurovisão da mesma forma que ela se trata a si mesma. Durante anos e anos eu votei baseada em duas coisas: a música e a voz. Interessavam-me grandes instrumentais, boas vozes e boas actuações (não necessariamente com fogos de artifício e mil e um adereços). O que acontecia, na maioria das vezes, era os grandes instrumentais, as boas vozes e as boas actuações serem ignoradas. Dou-vos três exemplos:
  • 2011: votei na Grécia. Uma música que misturava rap e música tradicional com um excelente cantor e um staging simples mas maravilhoso. Acabou assassinada pelo júri;
  • 2015: votei na Itália. Não preciso de dizer nada sobre isto, pois não?
  • 2018: Itália, claro. Uma música com conteúdo, dois dos melhores artistas que já pisaram aquele palco e bam 17.º no júri.
Ora, eu não sou o tipo de pessoa que se chateia por ser gozada (se o fizesse já não tinha amigos) mas depois de anos e anos a ver a Itália ser roubada, a Suécia a ficar sempre no top 3 do júri, as músicas mais tradicionais (não esqueçamos que foi para isso que se criou a Eurovisão) receberem zero crédito e coisas como "Party For Everybody" ficarem muito acima do que mereciam (que era o último lugar) acho que me fartei. Como não consigo deixar de ver a Eurovisão, optei por me começar a rir com isto. É que, entre ficar chateada como fiquei muitas vezes, ou rir-me porque uma pessoa que nem conseguiu cantar no tom certo passou à final, prefiro a segunda opção. Felizmente não estou sozinha porque aquele top 10 do televoto não foi conseguido com os meus 74 cêntimos. Eu vejo o Serhat como o Taarabt da Eurovisão. Ou o Taarabt como o Serhat do Benfica. Ainda estou a decidir qual das hipóteses gosto mais.

Dito isto, permitam-me que vos fale da pior actuação da noite. Uma actuação que quis ser tudo mas que acabou por ser pouco mais que nada. Uma performance vocal absolutamente miserável (até o Serhat e o Victor Crone conseguiram ser menos maus) e algo pelo qual toda a gente esperava (menos eu, vá) e acabou por ser uma desilusão. Parabéns Madonna! Levas o Barbara Dex e o prémio de pior da noite. 

Antes de passar à minha preferida, podemos só falar da organização deste festival? Se calhar não podemos porque não é possível falar de coisas inexistentes. Falemos então dos votos do "júri" bielorrusso. Que palhaçada foi aquela? Se calhar, digo eu, para a próxima substituem-se os júris. Ou faz-se uma média bem feita. Ou, sei lá, olham para as edições passadas e pensam "estes gajos dão sempre 12 à Rússia, não é? Então vamos fazer isso para ninguém desconfiar que isto foi 100% manipulado".


Notaram como introduzi discretamente a Rússia no texto? Nunca na minha vida pensei vir a votar na Rússia. Nunca gostei das músicas deles e, desde o primeiro momento em que anunciaram o cantor, fiquei de pé atrás. A verdade é que assim que ouvi "Scream" apaixonei-me. É um instrumental forte e propositadamente dramático como eu gosto que se junta a uma voz que eu desconhecia existir porque "You are the only one" mostra absolutamente nada das qualidades vocais do Sergey. Fico feliz que ele tenha decidido regressar com uma música que mostrou a todos que ele é um artista brilhante. E fico ainda mais feliz que tenha conseguido um merecido top 3 apesar de ter sido praticamente assassinado na ordem de actuação ao actuar logo em 5.º (recordem-me lá: quando é que o Bjorkman deixar de decidir isto?). A minha música preferida pode não ganhar desde 2007 mas pelo menos todas se têm portado bastante bem (tirando aquele épico último lugar da Estónia em 2016 mas isso é outra conversa). 

Se hoje acordei feliz? Claro. São Marino ficou em 10.º no televoto, a Macedónia teve um top 10, a Rússia ficou em 3.º e sou campeã. Claro que, agora que pensei nisso, deixei de ter razões para viver porque falta um ano para a Eurovisão e meses para o Benfica voltar a jogar. Ainda por cima tenho de ir às compras porque não tenho nada para comer em casa. Mas, novamente, há coisas piores na vida. Imaginem rirem-se quando a Macedónia recebe poucos pontos do público, acharem que vão ganhar e depois perceberem que ficaram em 9.º lugar do televoto e 6.º na votação geral...

Imagens: BBC, Eurovision.tv/Vídeos: Eurovision.tv
( Hide )
  1. Epah o "soldi" é muito bom,percebes pouco disto, mas hás de lá chegar.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O soldi sei que é bom, só não costuma passar-me muito pelas mãos.

      A "Soldi" nunca disse que não era boa. Só disse que não era das minhas músicas italianas preferidas mas tendo em conta que a Itália foi a minha vencedora 4 vezes desde 2013, acho que isso diz muito

      Eliminar
    2. Ainda bem que não tem muito soldi, porque isso era um péssimo sinal para o nosso país. São pessoas como a senhora que fazem com que a nossa nação não avance.

      Eliminar


Não é permitido:

. Publicar comentários de teor comercial ou enviar spam;

. Publicar ou divulgar conteúdo pornográfico;

. O uso de linguagem ofensiva ou racista, ou a publicação de conteúdo calunioso, abusivo, fraudulento ou que invada a privacidade de outrem;

. Desrespeitar o trabalho realizado pelos colaboradores do presente blogue ou os comentários de outros utilizadores do mesmo - por tal subentende-se, criticar destrutivamente ou satirizar as publicações;

. Divulgar informações sobre atividades ilegais ou que incitem o crime.

Reserva-se o direito de não serem publicados comentários que desrespeitem estas regras.

A não perder
© all rights reserved