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[Crónica] Ficámos sem saldo. Ganhou o Conan. O espetáculo cumpriu-se


A grande final do Festival RTP da Canção 2019 ofereceu a todos os seus espectadores uma qualidade de espetáculo que há muito não víamos numa final desta seletiva nacional para a Eurovisão. A experiência de organizarmos o Festival em Lisboa 2018 caiu que nem ginja. A juntar a isto, uma noite que pôde contar também com os oito melhores temas a concurso. No final, foi uma noite perto do 'Perfeito', mas o troféu ficou mesmo com 'Telemóveis'.


Recorde [AQUI] a crónica da primeira semifinal do Festival da Canção 2019
Recorde [AQUI] a crónica da segunda semifinal do Festival da Canção 2019

As Atuações

A abrir as portas da final do festival tivemos os Calema com a sua radiofónica "A Dois". As melhorias relativamente à semifinal foram notórias, com uma maior organização em palco e uma melhor sintonia vocal. Continuámos a notar alguma falta de staging e, talvez, de alguma coreografia. O duo cantou muito bem, atingindo notas astronómicas e o coro no fundo do palco, mais estático que na semifinal, foi uma escolha acertada.


Outra intérprete que se destacou pelas positiva foi Mariana Bragada com a pacífica "Mar Doce". A cantora, compositora e letrista mostrou um à vontade muito maior na final e esteve muito mais segura vocalmente, nomeadamente no refrão. O jogo de luzes e projeções foram os aspetos menos conseguidos da apresentação. Esperamos, sinceramente, ouvir Mariana Bragada brevemente nas rádios portuguesas e a conquistar o país.


No alinhamento, seguiu-se Matay com "Perfeito". Era, pelas reações vindas do público, uma das grandes favoritas a vencer o festival e não era para menos. Apesar da canção ser datada, não deixa de ser um tema bonito e elegante, cantado por uma grande voz. A atuação foi muito bem pensada, simples e equilibrada. Temos a certeza que se estivéssemos na década passada ou no início desta década, Matay seria o vencedor do festival.


Surma veio depois chocar mais uma vez os portugueses com "Pugna". O que se viu em palco é puro requinte. É quase como uma apresentação em um museu de arte contemporânea. Não é uma atuação que chega a todos, mas é algo que elevou o Festival da Canção a um nível que nunca pensámos alcançar. "Pugna" foi o maior risco deste ano e seria um risco ainda maior na Eurovisão, mas uma representação digna ninguém nos roubaria.


O quinto artista a subir ao palco foi NBC com o tema "Igual a Ti". Como era de esperar, o dramatismo do cantor resultou melhor em Portimão, onde o palco era mais grandioso, a combinar com a sua capacidade de interpretação. No entanto, a nível vocal, NBC esteve melhor na semifinal e tal poderá ter prejudicado o resultado na final. Gostámos da inserção de um coro em palco, tendo dado mais textura a este belíssimo tema.


Os Madrepaz vieram de seguida com "Mundo a Mudar". A apresentação foi semelhante à da semifinal. Ao contrário de muitas opiniões, consideramos que este tema mereceu o lugar na final, sendo uma canção que apela à paz e à harmonia. E, finalmente, o significado das pinturas faciais foi revelado pelo grupo: representa as bandeiras dos países que se encontram a atravessar uma frágil situação política, inclusive Israel. Quem diria?


Conan Osíris veio depois arrasar a concorrência com "Telemóveis". Achávamos que a atuação não poderia melhorar e que nem sequer dava para ficar mais excêntrica. Mas eis que estamos a falar de Conan, o rei da criatividade e, na realidade, fomos presenciados com a melhor atuação num Festival da Canção. Ainda agora estamos a recuperar de tanta originalidade, conceito e espanto. Para quê levar uns banais arco e flecha para o palco, quando as nossas mãos podem perfeitamente servir para tal? Foi incrível, desde a canção à atuação, passando pela voz mais segura do que nunca. Estamos perante um potencial top 10 na Eurovisão.


Para fechar o alinhamento, veio Ana Cláudia com "Inércia". Infelizmente, a atuação não resultou tão bem como na semifinal. O coro em palco foi desnecessário. É que neste tema o foco deveria ser unicamente a canção, a cantora e os seus movimentos. Perdeu-se parte da magia, mas mesmo assim, consideramos o tema fantástico e Ana Cláudia uma excelente cantora, com um futuro promissor.


O Espetáculo

Temos de começar obviamente por isto: A Eurovisão fez tão bem à RTP. Fê-la compreender que, afinal de contas, também o Festival da Canção não é apenas um desfile 'chocho' de várias canções, com o intuito de ganhar uns trocos com as chamadas de valor acrescentado. Claro que isso ainda se mantém, mas o real valor de garantir uma noite que agarre algum público, com vários picos de interesse e de grande animação, foram finalmente compreendidos. O alinhamento da edição deste ano esteve bastante acima de médias anteriores, e aplaudimos por isso.

Atrevemos-nos a dizer que o que pudemos ver neste Festival da Canção 2019, senhoras e senhores, era o que estávamos à espera há décadas. Seriamente, sempre considerámos que a renovação interna do conceito do Festival estava a esquecer o pormenor "espetáculo", quando em 2017 se prometeu uma nova roupagem à seletiva. Finalmente, tivemos aberturas épicas, tivemos apresentadores que cantaram e encantaram (eles que fiquem sempre os três, pode ser não pode?), recordámos um passado mais recente, vimos o jogo Jenga na greenroom, e não tivemos apenas medleys que, como se dizia, cheiravam a mofo. E também uma realização que, apesar de alguns percalços, construiu uma emissão televisiva repleta de qualidade.


Deixamos ainda algumas notas sobre o melhor (e o pior) de cerca de 3 horas de espetáculo. Claro que, a começar por aí. Continuamos a compreender a necessidade de prolongar o Festival por algumas horas (a parte final do Festival, depois das 23 horas, foi a que conseguiu reunir maior audiência), mas, para quem segue desde início, chega a ficar (como sempre) bastante moroso, sobretudo quando ansiamos pela votação. Gostámos de recordar a beleza de Margarida Mercês de Mello. Já Júlio Isidro... bem, não o tínhamos visto já vezes suficientes? 

Gostámos também de recordar algumas das caras que venceram a seletiva no passado (Vânia, Vânia, Vânia). Mas ainda estamos desconcertados com os arranjos musicais. Filomena, Inês e Palmeirim a cantarolar foi só um sonho!! Até a "Pressão no Ar" encaixou que nem uma luva. Foi bom ouvir o nosso "Jardim" uma última vez. E pudemos ver um final apoteótico e épico como nunca, onde uma união (como aquela que devemos promover sempre) prevaleceu acima de qualquer coisa (shout out Conan!) Ah, e houve uma tal claque que coiso e tal, não foi? Fica para o ano... 



Os Resultados


Relembrem a votação dos jurados regionais:

12 pontos: Conan Osíris
10 pontos: NBC
8 pontos: Surma
7 pontos: Matay e Madrepaz
5 pontos: Ana Cláudia
4 pontos: Calema
3 pontos: Mariana Bragada 

Recordem agora a votação do público:

12 pontos: Conan Osíris
10 pontos: Matay
8 pontos: NBC
7 pontos: Calema
6 pontos: Madrepaz
5 pontos: Mariana Bragada
4 pontos: Surma
3 pontos: Ana Cláudia

Assim, os resultados finais foram:

Conan Osíris
NBC
 Matay
 Madrepaz
Surma
 Calema
7º Mariana Bragada
Ana Cláudia


Conan Osíris venceu o Festival da Canção 2019, tendo reunido consenso do painel de jurados e do público. Vitória mais do que justa, para um artista que apresentou algo fora do convencional e não veio a público com mais uma cantiga igual a tantas outras em Portugal.

NBC e Matay fecham o pódio do festival, como já seria de esperar. Talvez Surma merecesse um lugar nas três primeiras posições, mas de facto a canção é demasiado "fora da caixa" para ser recebida pelo grande público.

Mariana Bragada em último lugar no painel de jurados foi uma triste surpresa, bem como o último lugar atribuído a Ana Cláudia pelo público.

O que esperar de Portugal na Eurovisão 2019:

O incerto. Achamos que temos de esperar pelo incerto. Não sabemos bem o que podemos esperar agora, na Eurovisão 2019. O que sabemos, sim, é que ganhou quem deveria ter ganho. Ganhou quem o júri (regional) considerou que deveria ganhar. Ganhou quem o público (especial atenção!) achou que deveria ganhar, pela segunda vez após uma maioria conquistada também na primeira semifinal. Dúvidas dissipadas?

Lá fora, temos tido respostas positivas à canção vencedora. Mas sabemos o que é a Eurovisão, e o quão imprevisível pode ser esta competição internacional. Contudo, há um bom indicador a ressalvar: "Telemóveis" é uma canção de opostos. Tanta gente que odeia, crítica, satiriza e que se recusa a compreender. E o pólo contrário. Tanta gente que adora, elogia, aplaude e que se desdobra em tentar compreender melhor a mensagem que a mesma passa. E bem sabemos o que essa emoção significa... quem não gosta ignora, mas quem gosta...

Tal como Conan Osíris disse no final, ele mandou a flecha, mas todos podem também mandar a mesma flecha. Aguardemos pelo tiro certeiro. E pelo melhor que Portugal deva merecer nesta Eurovisão. Estaremos cá para tudo! Vai que é teu, Conan!



Crónica redigida por: Daniel Fidalgo e Pedro Damasceno Lopes
Fonte Imagens: RTP

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