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[Crónica] Quem é que vai dar o próximo top 10 à Itália?


Permitam-me começar este texto com um pequeno aviso: é bastante possível que os parágrafos que se seguem estejam repletos de erros e frases com pouco sentido. A razão é simples: vi todas as quatro horas e meia da primeira noite de Sanremo.

Não sei se alguma vez tiveram o prazer de ver uma noite completa de Sanremo. Eu nunca o tinha feito porque não me odeio assim tanto. Esta terça-feira decidi que estava na hora de o fazer pela primeira vez. Ainda estou a recuperar dessa péssima decisão e a considerar se vale ou não a pena clicar no link da RAI este sábado antes da uma da manhã. Agora que já enchi dois parágrafos de nada, passemos ao que interessa.

Quem me conhece sabe que adoro as músicas italianas (na Eurovisão e no geral) e este ano não é excepção. A Itália tem uma coisa de que gosto muito que é fazer aquele pop capaz de agradar a todos mas sem sons artificiais e a orquestra do Sanremo é tudo o que sonho ter na Eurovisão. Claro que as 24 canções soam todas ao mesmo - violinos - e é impossível julgá-las apenas numa noite. É assim que se justificam as 5 noites de Sanremo que ninguém vê a não ser os loucos italianos que claramente tiram uma semana de férias para o fazer. 

Este ano o Sanremo está repleto de grandes nomes da música italiana e talvez se esperasse mais qualquer coisa. Não diria que existe uma música extraordinária mas há umas quantas bastante boas (a qualidade no geral é claramente superior à do ano passado). 

20 MÚSICAS QUE (PROVAVELMENTE) NÃO VÃO VENCER


Francesco Renga traz-nos a pior música que já ouvi dele. Desinteressante e nada memorável. Nino D'Angelo e Livio Cori, de quem nunca tinha ouvido falar, fizeram-me doer os tímpanos. Foram os piores da primeira noite. Nek vem com uma música ao seu jeito com um instrumental mais eletrónico com toques rock. É uma das minhas músicas preferidas. Destaque para o verso "Estou pronto para nunca mais estar pronto" - ah, a poesia!

"L'amore è una dittatura" tem um instrumental muito interessante e diferente de tudo aquilo que a Itália já enviou à Eurovisão. Falta-lhe qualquer coisa como uma voz menos irritante. Loredana Berté é, chamemos-lhe assim, uma figura peculiar. Não canta especialmente bem, mas traz uma música a fazer lembrar Emma Marrone de que gosto muito. Daniele Silvestre surpreendeu-me muito. Não sou de todo fã mas o instrumental da música conquistou-me. É uma pena não ir a lado nenhum. 

Federica Carta e Shade foram dizer um olá e já ninguém se lembra deles. É uma pena o desperdício do talento dela nesta música. Paola Turci não sabe cantar e acha que ter a mão no bolso durante uma atuação dá estilo. "Dov'è l'Italia" é uma música animadinha cantada pelo irmão perdido do Ermal Meta que claramente não ficou com o talento do irmão. 

"Per un milione" é o mais próximo que temos dos reggaetons foleiros de todas as semifinais. Patty Bravo foi lá dizer que ainda está viva ainda que não consiga cantar. Achille Lauro, seja ele quem for, foi cantar sobre Rolls Royce. Acho digno. Se o Gabbani pode cantar sobre macacos que dançam, este também pode cantar sobre carros. 


Reza a lenda que Arisa é a única do lote que faz questão de ir à Eurovisão (e a única em toda a Itália também). A música da Manuela Azevedo lá do sítio é bem engraçada e tem o melhor videoclip da vida. Tem tudo: ritmo, keychanges, uma boa voz. Só não tem hipóteses mas fica a intenção. 

Os Negrita tinham ficado em casa se era para trazerem isto. São uma banda capaz de bem melhor e trazem uma música que não acrescenta nada. Ghemon foi ao palco do Sanremo mostrar o casaco que comprou por 5€ nos saldos e que é 5 tamanhos acima do seu. Esqueceu-se de trazer uma música boa e uma voz. 

Einar é um dos vencedores do Sanremo Giovani e, portanto, podem imaginar os restantes concorrentes. "Solo una canzone" tem um nome perfeito uma vez que é apenas isso: só mais uma canção de que já ninguém se lembra. Anna Tatangelo canta bem mas não encanta. Traz uma música bem à Sanremo mas que não marca. 

Enrico Nigiotti apresenta-nos uma música onde grita vezes sem fim "Non dormirò" exprimindo assim o desespero de toda a gente que fica até às 2 da manhã a ver o Sanremo. Estou a gozar mas é das melhores letras a concurso. Mahmood, o outro vencedor do Sanremo Giovani de quem nunca tinha ouvido falar antes, vem com a música menos italiana de todo o festival. Pessoalmente odeio mas consigo entender o porquê de muita gente adorar.

QUEM PODE VENCER?


Comecemos pelos Il Volo. No momento em que vi que estavam de regresso ao Sanremo fiquei de pé atrás. Foram os meus vencedores em 2015 e ainda não ultrapassei o roubo. Acontece que, apesar disso, não sou surda. Sempre achei que havia ali qualquer coisa que não funcionava. Acho que estão em níveis muito diferentes (há um deles em particular fraquíssimo quando comparado com os restantes) e não entendo como é que conseguiram alcançar a fama. Uma música dentro do género? Sim senhora. Um álbum inteiro? Não consigo ouvir. Bastaram-me poucos segundos para perceber que esta "Musica che resta" é muito inferior a "Grande Amore". É pop sem qualquer tipo de magia e onde se notam as diferenças vocais dos três. Não há o crescendo maravilhoso de "Grande Amore" nem haverá certamente o 3.º lugar eurovisivo caso ganhem.


Simone Cristicchi apresenta-nos a melhor interpretação da noite. "Abbi cura de me" é "apenas quatro acordes e um punhado de palavras". É uma música simplíssima mas com um poema extraordinário que demorou anos a ser escrito. É uma dedicatória ao seu filho e um momento arrepiante. Simone tem qualquer coisa em si capaz de transformar a mais simples das melodias em magia. Desconfio que, se saísse vencedor do Sanremo, recusaria ir à Eurovisão o que seria uma pena. Não acredito que esteja em competição por querer vencer mas seria justo. Receberia os meus votos em maio.


Irama é um rapaz muito simpático que participou no Sanremo Giovani em 2016 e não conseguiu impôr-se no mundo da música. Podem achar que é por ser difícil singrar saindo-se da competição secundária mas permitam-me que vos dê dois nomes que competiram nesse mesmo ano: Francesco Gabbani e Ermal Meta. Irama não singrou por não ter metade do talento que qualquer um dos anteriores tem. Está no grupo dos favoritos por ter uma fanbase enorme. A sua música é mais moderna que as demais mas falta-lhe sempre algo na interpretação. Como ponto forte tem a letra com uma história absolutamente incrível e capaz de arrepiar qualquer um.


O grande favorito à vitória final (e a previsão da nossa rubrica Destino Israel) é Ultimo que vem com uma música que está longe de ser a melhor dele. Niccolò Moriconi, o nome verdadeiro do rapaz, é um jovem com um talento enorme a nível da composição e da escrita. "I tuoi particolari" vive da interpretação intensa e é uma canção muito menos arriscada que "Il ballo delle incertezze" com que venceu o Sanremo Giovani no ano passado. A canção deste ano é uma balada pura com um final forte e que lhe permite estar confortável nos graves e nos agudos. Isto bem cortado dá top 10 (merecido!) no ESC.

QUEM VAI VENCER?


Ultimo, Irama e Il Volo vão ser o top 3 do público. Diria que o Simone ganha o voto do júri e o Ultimo ganha o voto da imprensa. Tendo em conta que o júri não vai dar lugares cimeiros nem aos Il Volo (se em 2015 não deu, imaginem este ano) nem ao Irama mas vai com certeza premiar o Ultimo, não tenho grandes dúvidas que a Itália vai voltar a enviar quem eu quero pelo 3.º ano consecutivo. Se quiserem saber de antemão quem vai representar a Itália é só perguntarem. Estou a tornar-me perita nisto.

Vídeos: RAI/Imagens: RAI, corrieredellosport.it, affaritaliani.it, oasport.it

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