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[Crónica] ESC 2018: "Parabéns pela fantástica organização, RTP!"

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Não posso começar esta crónica doutra maneira a não ser esta: parabéns pela fantástica organização, RTP! Tenho a agradecer-te por teres concretizado um dos meus sonhos de criança, que é assistir ao Festival Eurovisão da Canção no meu país. Muitos podem falar mal, principalmente os estrangeiros, mas eu estou de coração cheio: mas que organização! Não é que eu tivesse dúvidas que a RTP não fizesse um trabalho bom, porque o faz quando percebe a importância dos eventos, mas penso que todos os portugueses devem estar orgulhosos da maneira como tudo decorreu.

Percebeu-se perfeitamente que Portugal teve bom gosto e preferiu seguir uma linha de um investimento económico mais barato mas igualmente eficaz - e deu uma lição de emissora enquanto estrutura a todos. Fugiu-se aos LED's e aos efeitos especiais, mas os planos de câmara, o fogo, o vento e a magia permaneceram - principalmente, os planos de câmara, que foram completamente geniais e melhoraram em muito algumas das propostas. Também, a construção do palco estava lindíssima - uma das mais bonitas dos últimos anos.

Tenho também orgulho por este ano ter sido apresentado por quatro maravilhosas mulheres. Profissionais, competentes, sempre preocupadas e esforçadas a fazer o melhor que conseguem. O inglês podia não estar perfeito para algumas delas, no entanto já vi bem pior a apresentar o festival (recordo-me dos fantásticos apresentadores azeris em 2012, só de risos). No entanto, não há muito que se possa criticar, sendo que a apresentação foi exemplar. Destaco a presença de Filomena Cautela, que, se for bem aproveitada, ainda vai para o estrangeiro - a melhor apresentadora da nova geração, uma lufada de ar fresco para todas as estações televisivas e ouro em bruto para a área da comunicação.

No entanto, nem tudo é perfeito. Fiquei desiludido com o facto de não ter havido apresentações na entrada e nos intervalos das semifinais - foi, de facto, uma pena e notou-se que o começo foi forçado e seco. No entanto, tudo isso foi colmatado, com a maravilhosa entrada de Ana Moura e Mariza com fado (que bom começar a Eurovisão com fado!), com os intervals acts (a destacar a fantástica presença de Sara Tavares) e com Salvador Sobral.

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Outro ponto negativo foi a falta de segurança que aconteceu na atuação de Reino Unido. Não percebo porque razão Surie não quis voltar a interpretar a música (faz sentido, para mim, sair tudo perfeito, porque ela andou a preparar meses e meses sem fio estes três minutos), mas nem isso está em causa. Como voltou a acontecer isto outra vez? E ainda por cima com o mesmo homem que invadiu a proposta espanhola em 2010? Isto acontece tanta vez que já começo a acreditar que é algo planeado...

Em relação às semifinais, tenho tanta pena de algumas músicas terem ficado pelo caminho. Mas não podemos fazer nada, porque isso é sinónimo de excelentes músicas que estiveram presentes este ano. A semifinal 1 é um bom exemplo disso - nunca vi uma tão forte como esta e já sigo o festival há 13 anos.

Os de leste ficaram quase todos de fora (Rússia, Arménia e Azerbaijão) e fico feliz por saber isso. Não que não merecessem a passagem alguns deles, mas por saber que a Eurovisão está realmente a mudar e cada vez se está a esquecer do imperialismo dos de Leste no concurso.

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A Suíça merecia a passagem, por tudo o que o duo é enquanto artistas e pelo espetáculo que deram. De igual forma, sinto o mesmo pela Malta, que continuo a não entender porque razão foi a menos votada pelo público na segunda semifinal quando foi das melhores apresentações em palco deste ano.

Nunca acreditei que a Eslovénia, a Albânia e até mesmo a Hungria conseguissem passar à final, mas finalmente a justiça está a ser feita. Todas elas têm uma qualidade invejável e são ousadas na forma como transmitem algo para o público. Eu que não gosto nada de rock pesado, fiquei super fã do grupo AWS e foi das que mais vibrei na arena.

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A final foi completamente asfixiante. Era difícil escolher uma canção quando quase 90% das finalistas eram boas. E as dúvidas tornavam-se maiores quando nos perguntávamos quem é que poderia realmente ganhar - Noruega, Chipre, Estónia, Hungria, Israel, França, Itália... Qualquer um destes sete seriam ótimos vencedores, sejamos sinceros.

Tivemos 9 músicas na língua nativa, enquanto que no passado tivemos 7 - e, destas 7, 3 eram em bilingue. Fico contente pela vitória do Salvador Sobral ter trazido mais tradicionalismo e multiculturalismo, em que a importância das línguas nativas e da diversidade torna-se um assunto de importância extrema.

Tudo ficou com mais brilho com a participação de todos. A ousadia dos búlgaros, a irreverência da Ucrânia, a delicadeza da Lituânia, a etnia da Sérvia, a inteligência da Alemanha, o patriotismo da Dinamarca e  a mensagem que a Itália, a França, a Finlândia e a Irlanda trouxeram... tornou tudo ainda mais especial. 

Os resultados em si não me chocam. Não considero a música de Chipre nem da Áustria merecerem um segundo lugar, porque não têm conteúdo nenhum aquilo que apresentaram. Ainda mais o resultado forçado da Suécia, para uma música super ultrapassada. Tentou-se privilegiar mais o visual do que a qualidade musical, mas sem efeito. Houve demasiadas músicas a figurarem entre os 10º e os 20º, mas a Eurovisão é mesmo assim - feita de justiças e de injustiças. Realço o facto da Itália, da Dinamarca e da Estónia estarem no top 10 - não esperava, mas mereceram porque foram das melhores do ano.

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Portugal foi representado por Cláudia Pascoal e Isaura com "O Jardim". Desde a primeira audição sempre achei que esta seria a música certa para nos representar - e continuo com a mesma opinião. A forma sincera como interpretam sentimentos e palavras é encantadora, e a história faz-me pensar muito sobre a vida dos meus familiares e de tudo aquilo que eu penso e acredito. Já no The Voice, a Cláudia Pascoal era a minha favorita, e continuo a achar que temos aqui uma excelente jovem a dar os primeiros passos no mundo na música e que merece ser aplaudida por todos nós. Não podemos perder um talento como este.


Israel foi o grande vencedor da noite. Quando ouvi pela primeira vez "Toy", estranhei a canção e achei toda a proposta ridícula. Mas os dias foram passando e cada vez tudo fazia mais sentido em mim. Netta é uma jovem cantora ousada, com uma excelente voz, um talento em bruto e um exemplo para todos os jovens que querem fazer da música algo diferente. 

De todas as favoritas, Israel era, a meu ver, quem mais fazia sentido ganhar. Para mim, um vencedor tem de ser um ídolo, tem de lutar por uma causa, tem de passar uma mensagem. Nos últimos anos, os vencedores têm seguido isto à risca: Conchita Wurst pela causa LGBT, Mans Zemerlow com a importância da tecnologia nas nossas vidas, a canção histórica-política de Jamala e a autenticidade das instrumentações com Salvador Sobral. Netta, este ano, trouxe também um assunto muito importante. A música "Toy" é inspirada no movimento mundial #MeToo, usada por mulheres que sofreram de violência sexual, pondo em voga temas tão importantes na sociedade atual como a emancipação feminina e a oposição a qualquer forma de assédio. E fico bastante satisfeito por um tema como este ser apresentado de uma forma divertida mas ao mesmo tempo consciencializadora para tantos jovens que acompanham o festival.

Lamento, porém, as atitudes de Salvador Sobral com Netta nas últimas semanas. Já o ano passado tinha criticado o vencedor português  pelas suas atitudes imaturas e de superioridade. Para quem quer perder 10 minutos da sua vida a perceber "Toy", entende que esta proposta não se trata de uma música fast food. Cada um tem os seus gostos, Israel também não era a minha favorita (apesar de gostar imenso), mas fica feio um artista de profissão criticar o seu colega. Nós podemos não gostar de tudo, temos o direito de ouvir ou não ouvir - mas, da mesma forma que ficaria mal algum artista criticar o Salvador aquando do "Amar Pelos Dois", também fica mal o contrário. E também não podemos achar que a nossa verdade é absoluta. É bom sermos decididos e sabermos dizer aquilo que gostamos ou não gostamos, mas não podemos achar que aquilo que ouvimos é a melhor coisa do mundo e o que os outros ouvem é simplesmente merda. Porque qualquer pessoa ouve músicas boas e músicas más. That's life.

E, mais uma vez, para não esquecer: a Eurovisão celebra a diversidade, a Eurovisão celebra a música e a Eurovisão celebra as pessoas. 


Imagens: Eurovision, RTP e RTVE/Vídeos: Eurovision Song Contest

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