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[Crónica] Sanremo: o escândalo que afinal não é assim tão escandaloso


É bastante provável que isto tenha passado ao lado da maioria dos eurofãs mas eu estou cá mesmo para vos trazer as melhores coscuvilhices. Após a primeira noite de Sanremo (que nenhum de nós viu porque temos amor à vida) tornou-se óbvio que Ermal Meta e Fabrizio Moro eram os grandes favoritos à vitória. O share médio de audiência foi de mais ou menos 50% e, quando os dois subiram ao palco, de 60%.

Na manhã seguinte rebenta o escândalo com os órgãos de comunicação italianos a noticiarem um suposto plágio. O meu italiano não é grande coisa mas bastou-me abrir uma destas notícias para perceber a estupidez que se passava. De facto, o refrão de "Non mi avete fatto niente" é exatamente o mesmo de "Silenzio" e ninguém, nem os cantores, o nega. Isto é capaz de ter sido o maior escândalo italiano desde a eliminação da seleção do mundial 2018.



Os créditos de "Non mi avete fatto niente" são dados a três pessoas: os dois cantautores e Andrea Febo (que já colaborou com Fabrizio Moro). Este último é o único autor de "Silenzio", uma música que foi enviada para o Sanremo 2016 e rejeitada. "Silenzio" nunca foi oficialmente lançada nem comercializada e os vídeos que existem no youtube foram publicados depois da revelação de "Non mi avete fatto niente". Um plágio pressupõe roubo. Quanto muito isto foi pedir emprestado. Ermal Meta e Fabrizio Moro viram ali potencial e transformaram a canção com os versos e a letra completamente diferentes. Plágio faz o Tony Carreira por creditar músicas de outros como suas. Plágio fizemos todos nós quando copiámos trabalhos inteiros da wikipédia.

Não fosse isto suficiente, parece que há uma regra no Sanremo que permite que 30% da música não seja inédita. É o caso. Se eu acho esta regra ridícula? Sim, mas também não acho justo que músicas fiquem na gaveta por não serem selecionadas para determinados concursos e não haver meio de as lançar. Aquando do envio da música os cantores avisaram os responsáveis pela seleção disto mesmo e foram aceites. Durante entrevistas referiram novamente este facto. Parece-me bastante óbvio que, se não quisessem realmente usar este refrão, teriam composto uma música sem ele já que ambos andam nisto há muitos anos.

Com tanto falatório sobre desqualificação, eis que o twitter se une e a hashtag #IoStoConMetaMoro chega a trend mundial com vários órgãos de comunicação a usá-la. Ermal Meta e Fabrizio Moro eram para ter regressado ao palco do Sanremo na segunda noite mas a atuação foi suspensa o que não deixa de ser ridículo já que, se os responsáveis aprovaram a música em primeira instância, porque é que tinham dúvidas da sua elegibilidade passados uns meses? Entretanto os cantores continuam na competição e o vídeo da atuação ultrapassou o milhão de visualizações em menos de 24 horas.

E se "Non mi avete fatto niente" chega ao ESC?

O regulamento do ESC está longe de ser claro neste aspeto. "A música não deve ter sido lançada comercialmente antes de 1 de setembro". Até aqui tudo bem. Mas poderá a Itália ter de alterar a sua música? Quem o decide, em última instância, é o supervisor executivo do ESC, com a aprovação do grupo de referência. Diria que, à partida, "Non mi avete fatto niente" está mais que elegível para o ESC se tivermos em conta decisões passadas como a participação de Alyona Lanskaya em 2013 com "Solayoh" que era de 2008 e estava disponível online ao contrário de "Silenzio". Assim sendo, resta-nos esperar por sábado (ou, neste caso, domingo às 3 da manhã). 

Vídeo: RAI e VINCENT / Vincenzo Errico/Imagem: Rockol

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