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[Crónica] ESC 2016: 'não é preciso sermos ridículos, não é verdade?'


Este ano fez exactamente dez anos que eu vi pela primeira vez o Festival Eurovisão da Canção e, se devia ter sido motivo para eu festejar, esta acabou por ser uma das edições que menos me entusiasmou nos últimos anos.

Já é meu hábito começar pelos aspectos técnicos, e este ano não é diferente. A Suécia quis mostrar que era grande na organização, ao ponto de querer organizar o maior festival de todos os tempos, mas creio que a minha falta de entusiasmo se prendeu em parte com a organização. Senti todo um excesso de tecnologia na forma como as coisas nos eram apresentadas (até na música para a entrada dos apresentadores!), como se fosse tudo demasiado frio. Felizmente, mesmo com toda esta tecnologia, gostei bastante do palco, ainda que para algumas actuações fosse demasiado complicado de preencher. Por outro lado, odiei os postcards. Que coisinha mais sem sal, meu Deus! Ainda por cima quando via online e sem comentários, era uma verdadeira luta contra o tédio! Junto a isto os planos de câmara que estragaram algumas actuações (Greta, querida, eu senti essa dor!). E que dizer daquele desfile na final? Por vezes acho que com os meus conhecimentos de organização de eventos (que, para que conste, equivalem a um redondo zero) conseguia fazer melhor que estas pessoas. E claro, estas pessoas não perceberam que estavam a enrolar demasiado o programa ao ponto de eu já bocejar. Eu, obviamente, percebi! Mas claro, não posso terminar esta parte sem dar os parabéns a Petra Mede e Måns Zelmerlöw por terem sido óptimos apresentadores! E já agora, obrigada por terem trazido de volta o meu vencedor preferido, que é como quem diz, o meu querido Alexander Rybak, e o meu pior pesadelo eurovisivo, aka Lordi (e duas vezes! Obrigada, a sério!). 


A minha dor da primeira semifinal chama-se Bósnia. Eu sei, eu sei, não dá para defender aquelas roupas (ou sacos de plástico) que eles têm vestido, mas não achei justo que o país não passasse para a final. Especialmente quando passaram países cujos vocalistas deixaram o coro cantar o refrão ou sorriem tanto que dá vontade de dar duas chapadas (entendedores entenderão!). Não que pessoas felizes me incomodem, mas quando aliado a uma música má, simplesmente não dá para lidar. Então quando essa música acaba à frente de metade dos meus preferidos, conseguem imaginar a minha cara de felicidade. Em relação à primeira semifinal vale ainda a pena falar como o Chipre foi uma desilusão. Esperava tanto daquela prestação e foi tão sem intensidade que fiquei com a sensação de que Chipre e Montenegro podiam ter participado juntos para terem um conjunto música + apresentação perfeito. Ah, e claro, tenho que falar de São Marino! Eu bem sei que a música é péssima, mas é o meu grande guilty pleasure deste ano e sinto que vibro demasiado a ouvir e a dançar (sim, eu danço) aquilo. Desculpem, não nasci perfeita.


Na segunda semifinal a injustiça ganha um nome, e esse nome é Bielorrússia. Quer dizer, a suposta sorte da Bielorrússia nos países nórdicos levou tanta porcaria à final e quando eles fazem realmente algo digno não passam? Tudo bem, IVAN esta bem longe de ter uma voz excelente (também já teve uma voz pior, sejamos justos) mas a música era bastante decente e visualmente o espectáculo foi MUITO bom. Então qual foi o problema? Aposto que ficaram todos com inveja do fantástico cabelo dele e por isso não votaram. Ainda nesta semifinal tenho obviamente que referir aquela fantástica trip de ácidos que a Geórgia nos proporcionou (tentaram abanar a cabeça enquanto viam aquilo? Eu fiz isso e depois não me conseguia levantar para ir à casa de banho - foi claramente má ideia) e a aula de agachamentos oferecida pela Rykka, que me fez sentir vergonha do meu país de nascimento - já que Portugal não estava lá, alguém tinha que me envergonhar, não é verdade? Fica ainda aquela lagrimazita pela Dinamarca, mas nunca esperei que se classificassem, então...





Chega então o dia da final, na qual estava incluído, por muito estranho que pareça, todo o meu top10! E mesmo que o meu entusiasmo não estivesse no auge, eu vibrei, vibrei bastante, especialmente com a prestação de Israel e da Letónia. Com músicas extremamente distintas, têm em comum uma capacidade que se revelou enorme para encher um palco daquele tamanho, sendo que o foco estava todo neles, e uma entrega absoluta ao que estavam a fazer. Hovi mostrou o cantor maravilhoso que é, numa prestação fantástica que quase me fez chorar. Às lágrimas também foi Justs, provavelmente porque depois daquela prestação vibrante rebentou uma corda vocal e teve de ser levado para o hospital. Minha gente, podem não gostar das músicas, mas que eles deram tudo, com certeza deram! Claro que estas músicas têm também em comum o facto de terem ficado em lugares de porcaria.

Na final ressalvo ainda o trabalho da Lituânia, que jamais pensaria ver num top10, e da Bulgária, que eram também das minhas preferidas. A Holanda também me deixou orgulhosa, já que gostei da música desde o início e parecia que era a única. Ah, e claro, vou-me apenas rir da classificação da Suécia, não porque ache errado (quer dizer, talvez um pouquinho, mas não extremamente) mas porque sempre dei crédito à música e só levava com haters. E eu sei o que vocês que são haters me iriam dizer sobre esta classificação, portanto ainda bem que só estou a escrever e vocês a lerem. Fiquei ainda feliz pelo lugar da França, que achava que ia ser o flop do ano, mas fiquei realmente triste pela Alemanha. Uma música tão especial a ocupar o último lugar, quando tanta porcaria ocupou lugares bem melhores. Termino a falar da diva Iveta, pelo qual me apaixonei na primeira semifinal e na qual quis dar duas chapadas na final por ter cantado a música toda fora de tom.



Não é para mim fácil dizer que era pela Rússia que eu torcia. Apesar de eu saber que isto se trata de um concurso de música, é difícil deixar a parte política de lado. O meu pensamento era "quero que o Sergey ganhe, mas não quero que a Rússia ganhe", o que provoca uma grave crise de identidade, acreditem. Tudo ficou, obviamente, mais fácil quando vi ao ponto que chegou o ódio pela Rússia este ano. Tudo bem que eles não são santos, mas não é preciso sermos ridículos, não é verdade? Dizer que se odeia a música só por ser da Rússia só revela que essa pessoa tem algum problema no cérebro. E claro que depois ver as pessoas a pegarem em tudo e mais alguma coisa para denegrir a prestação de Sergey só dava vontade de rir. Porque arranjar uma vida é algo muito complicado para algumas criaturas e eu compreendo isso! Enfim, falando agora de MÚSICA, era sim a minha preferida e sim, gostei da prestação, mesmo que seja baseada na prestação vencedora do ano passado (porque agora obviamente mais ninguém vai poder usar). Acho que aquele aparato todo não tinha de todo a ver com a música, mas foi um bom espectáculo e considero que era uma actuação vencedora. 

Aproveito ainda para falar da Austrália. Não sou contra a participação do país, mas admito que aquela vitória que se desenhava me estava a fazer muita confusão. E porquê? Porque Dami Im tem uma voz fantástica, tem uma música que, não sendo das minhas preferidas, não considero má, mas uma apresentação em palco hor-rí-vel. A sério Austrália, podias ter planeado algo tão melhor! De qualquer forma é óbvio que a Austrália vai ganhar o festival muito em breve.


Falemos agora da música vencedora. Não era das minhas favoritas (apesar de admitir que já há algum tempo que faz parte da minha playlist diária e eu não sei bem porquê) e aliás, foi uma música que odiei mal a ouvi. Mas há que dar o crédito: apesar de o instrumental não ser algo que eu adore, Jamala tem uma voz fantástica e a sua interpretação foi soberba. O meu pai, que odeia todas as músicas que venceram a Eurovisão, gostou desta, portanto isso deve significar alguma coisa. Mais uma vez, esta música estava bem longe das minhas favoritas, mas os meus amigos mais próximos sabem há quanto tempo eu andava a dizer que isto ia ganhar. E falando como pessoa que não é propriamente amante da música: vocês que não têm mais que fazer e por isso ficam a arranjar desculpas para odiarem a música, porque não deixam de ser idiotas? Eu também não gostei de a ver como vencedora, mas não vou andar para aí a apregoar que a música ganhou só porque é uma música política porque sinceramente a minha vida é ocupada demais para eu aziar. Tenho no entanto tempo para rir daquelas pessoas que vão ao youtube deixar o seu dislike no vídeo da música, porque para me rir da estupidez alheia tenho sempre tempo. Se é uma música com cariz político? Ora, ninguém acredita que a música não era para dar aquela patadinha subtil na Rússia. Mas continua a ter a componente histórica e isso era o suficiente para tornar a música válida. Acham que o júri e o público votaram por ódio à Rússia? Bem, nunca saberemos a resposta a isso, mas eu vi a Rússia a ganhar o televoto e sei que há motivos decentes para o júri não gostar da prestação russa, logo os resultados não são espantosos. Mais acrescento que esta é na realidade uma vitória importante para o festival: queixo-me sempre que os países estão a perder identidade, que se focam demasiado no ganhar e portanto apostam no que é comercial, portanto esta vitória veio mudar um pouco essa visão. Uma música com sons étnicos e com parte da música cantada numa língua que não o inglês vem trazer um pouco de esperança musical ao concurso. Sinceramente, é isso que me importa e é isso que tiro de bom desta vitória, porque se isto é político, se é patada na Rússia, se é o que ela quiser, é claramente para o lado que eu durmo melhor.

Não posso terminar sem falar do novo sistema de votação. No início fiquei reticente, mas sinceramente gostei bastante do que vi, apesar de quase me ter parado o coração. Claro que foi como estar a ver o Melodifestivalen de novo, mas foi o suficiente para me atirar ao chão (literalmente) portanto só posso aprovar. É ainda engraçado que este método nos mostre a falta de gosto dos jurados por essa Europa fora, porque em momentos de tensão, vale sempre a pena rir!

Terminou assim mais uma edição do maior concurso de música do mundo, a que me fez festejar os dez anos como fã. Podia ter sido menos polémica, podia ter sido menos triste em relação àquilo que vi da parte de alguns fãs, mas foram de qualquer forma os meus dez anos. Para o ano vamos até à Ucrânia, mas até lá muitas cabeças vão certamente rolar, porque isto já começa a parecer uma novela. Eu, como amante de novelas e boa coscuvilheira que sou, estou aqui para ver!

Vídeos: Eurovision.tv
18/05/2016

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