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[Crónica] ESC 2015: 'Portugal, vamos apostar na mudança?'


Este ano comemoraram-se os 60 anos do Festival Eurovisão da Canção. Por ele já passaram tantos artistas, tantas formas de ser, tantas formas de estar, tantas formas de encarar todo um mundo eurovisivo. Fascina-me a forma como a Eurovisão faz abrir horizontes, como faz com que mentalidades se alterem, com que pessoas se superem (a si mesmas) e como fazem outras tantas sonhar e acreditar nos seus próprios sonhos. Assistir aos 60 anos deste certamente, é assistir à prova viva de uma tradição europeia que, felizmente, Portugal tem o privilégio de estar inserido.

Mais do que um espectáculo de música, aliado a efeitos artísticos e a estímulos visuais, a Eurovisão é um mundo para além das câmaras, um mundo que fascina quem vibra com os artistas, com as mensagens e com o que só ela, só mesmo ela, consegue transmitir. É muito bom quando podemos conhecer, comentar e viver todo o certamente, de uma forma livre e, sobretudo, apaixonada.

Destaco como primeiro ponto positivo a vitória de Conchita Wrust, que levou até à Áustria todo este espectáculo. Somente uma Europa evoluída faz dos seus cidadãos pessoas de valor e conhecedores da sociedade onde se inserem, e onde se movem. A vitória foi um exemplo disso e só por isso, vale um aplauso enorme.


Mas não é para falar sobre a vitória da edição passada que aqui estou. Este ano, foi um ano bastante peculiar, na minha perspectiva, para o certamente. Tínhamos patente, este ano, uma série de estilos diferentes e diferenciadores, que se adaptavam aos mais variados gostos e personalidades. Desde os estilos mais vistos até às novidades, toda esta 60ª edição foi marcada, por um saldo bastante positivo – no que toca a abarcar várias faixas etárias, através dos temas.

O palco este ano não foi do meu agrado. Penso que o mesmo dificultava bastante os planos de filmagem e não era prático e benéfico para alguns temas – que se viram “engolidos” na sua apresentação. Caso disso é a Islândia e até mesmo a Holanda, em que o palco prejudicou, bastante, toda a atuação e todo o desempenho - levando a uma saída dos supracitados países nas eliminatórias respetivas.

Existiram alguns problemas nesta edição, mas qual a edição que não tem os seus problemas? 

Voltando de novo ao palco, destaco também os fracos efeitos visuais que estavam patentes na tela que ficava no centro do “grande olho”. Por momentos, pareciam efeitos tirados do “media player” da Windows e de fraca qualidade. Penso que a comparação com o palco do ano passado é inevitável e, no que toca a isso, considero que regredimos um pouco neste campo.

A vida é feita de vitórias e de derrotas e, na Eurovisão, não é excepção. Por “algo menos” se perde e por “algo mais” se ganha. Basta uma viragem no jogo e tudo altera. Destaco, novamente, a Islândia. Falo neste país porque o tema levado sempre me cativou (desde o primeiro momento). A Maria tinha tudo para passar, as sondagens eram favoráveis o publico rendia-se ao estilo de menina dela mas… como falei anteriormente, tudo altera-se e com a não evolução da atação (muito semelhante à final do seu próprio pais) acabou por deitar tudo a perder, no palco do Festival Eurovisão da Canção.

Mas nem tudo depende apenas da atuação, as mudanças e os ajustes são um risco que muitos se atrevem a incorrer e que, ou trazem frutos ou desgraçam tudo. Eu sou apologista de não mexer quando algo está bem. Esta regra devia ter-se aplicado à Malta, a um pais que tinha uma interpretação extremamente potente e com uma voracidade enorme. Com as ditas alterações, tudo mudou, o que era um tema brutal, passou a ser um tema banal e a “Warrior” acabou por se tornar numa fraca lutadora – apesar da qualidade vocal da intérprete.

Já no caso contrário, destaco a Bielorrússia com o tema “Time”, que sofreu alterações bastante significativas que enriqueceram todo o desempenho – principalmente do vocalista. A sinergia entre ambos era de louvar, o tema ganhou imensa potencialidade (o que a versão primária não tinha). Foi mesmo uma pena ver um tema destes ficar pela semifinal.

Nem sempre as coisas são justas e eu confesso que tenho alguma aversão a injustiças – nem que essas sejam só na minha verdade. Não concordo com alguns resultados e com algumas posições que certos países conquistaram. A Espanha merecia bem mais, bem mais do que aquilo que lhe deram. Pena a Espanha continuar a financiar quem tão pouco lhe dá, pena a Espanha apostar e acreditar em algo, quando esse algo se esquece de valorizar o trabalho desenvolvido por esse país. Se já há anos que gosto das representações espanholas, este ano gostei ainda mais. A Edurne veio trazer uma sonoridade de marcada e uma lufada de ar fresco, a este certame. Foi injusto! Injusto ver a posição que a mesma “ganhou” por não ser de outro pais – digo eu. Será que se a Edurne representasse uma Suécia ou uma Rússia (com o mesmo tema) não teria um desfecho diferente? Acredito, certamente, que sim, que teria conquistado bem mais do que as migalhas que lhe deram e a falta de consideração a que a sujeitaram.

Será que tu, Espanha, não pensas em dar uma lição à EBU?


Deixando agora de parte as coisas menos positivas, o que eu me arrepiei ao ver a interpretação da Grécia. Declaro-vos que antes, não dava muito pelo tema e até mesmo pela própria intérprete. Bastou o segundo ensaio para me render, o sentimento e a intensidade ali colocada, fez-me declarar um acérrimo fã da atuação. Tanto me rendi que, no meu top de preferências, a Grécia passou de um 29º lugar para um 1º - sem qualquer margem para dúvida.


Entretanto houveram outros temas que acabaram por ser uma desilusão em palco. Esperava muito mais da Albânia, um pais que alterou a sua canção e que em tanto me motivou nos últimos temos – aquando da preparação para o certamente. Confesso-vos que aquela música perseguia-me para todo o lado, eu ouvia-a no carro, no metro, no comboio, em casa e até mesmo quando tomava banho. Pode parecer um vício e eu confirmo – era mesmo um vício! Depois em palco, não sei que se passou com a garra e a pujança que tem a Elhaida, ela retraiu-se e tentou-se redimir na final – o que não lhe safou de muito, visto já ter cometido um grave erro na semifinal (ser mediana).

Na Eurovisão esperamos sempre mais, esperamos ser sempre surpreendidos. Não posso deixar de abordar a entrada da Austrália este ano, que na minha perspetiva, só veio enriquecer ainda mais o certamente. O tema trazido era um convide à boa disposição, um tema dinâmico, muito chamativo e que representeou, e muito bem, um pais que sempre adorou o certamente e que sempre o difundiu e divulgou. A Austrália merecia esta entrada e mereceu o lugar em que ficou. Quanto aos outros restantes finalistas, os “Big Five” nem todos foram do meu agrado. O tema levado pelo Reino Unido era um atentado ao bom gosto e ao próprio festival. Questionei-me, por variadíssimas vezes, no caso de uma pessoa (que não conhece o Festival), e estivesse a fazer o seu zapping, passando na altura da atuação do Reino Unido pela RTP, o que pensaria? Certamente, que aquilo era um festival “brega”, de mais gosto musical e além do mais nada evoluído culturalmente. O que não corresponde à realidade – de todo!!!!


Então deixemo-nos de tretas e passem à ação, se são um país que investe e que é “levado” diretamente à final, dignifiquem mais o certame não percam tempo com atuações que vos garantam os últimos lugares da tabela.

Quanto aos outros, apenas destaco a força do tema Francês, que me agradou bastante. Penso que a França não merecia o lugar em que ficou e muito menos o descrédito que teve. A intérprete tem um valor inigualável e só por isso… era merecedora de mais atenção - por parte dos fãs eurovisivos. Já a Áustria, que jogava em casa, trouxe um tema fraco. Na minha perspetiva, poderiam ter apostado em melhor, em algo que marcasse mais a posição de anfitriãs do certame.

Desde o início que me rendi à Itália, o estilo musical trazido pelos Il Volo é soberbo. A conjugação de vozes é feita numa harmonia estrondosa e até ao derradeiro momento, acreditei na vistoria, confesso… acreditei e em muito na vitória.


Resta-me dar os parabéns à Suécia, ao país que irá receber a 61ª Edição dos Festival Eurovisão da Canção. Fico feliz pelo lugar que conseguiram, apesar de não gostar do tema apresentado, reconheço o valor do intérprete. Penso que a Suécia merece, é um dos países que mais investe, que mais luta e que mais inova na indústria musical europeia - e, só por isso, acredito que o certamente fique bem entregue.


Não poderia acabar esta crónica sem dirigir umas palavras à participação portuguesa e ao desempenho da Leonor Andrade, na Eurovisão. Será que não está na hora de pensarmos numa estruturação do Festival RTP da Canção? Será que não nos podemos “livrar” de velhos hábitos e apostar num novo formato? Será que a RTP não deseja levar o nome de Portugal mais longe? Se continuarmos na forma como continuamos, acho bem melhor repensarmos a nossa participação. Poderíamos ser bem melhores, dar bem mais, inovar bem mais, e o que fazemos? Ficamos na imparcialidade, na estagnação intelectual e cultural de um festival que poderia dignificar o nosso pais. Não é de admirar o descrédito que o Festival RTP da Canção tem conseguido alcançar, a desmotivação é crescente – até para os fãs acérrimos, como eu. Está na hora de incrementar uma alteração, uma reinvenção dos moldes – e isso passa muito por afastar “dinossauros” que persistem em permanecer. Vamos ser mais pró-ativos, mais participativos e fazer do festival, um festival para todos e não para alguns.

Quanto à Leonor, muito fez ela pelo tema que tinha, muito conseguiu ela com o que tinha em mãos. Não poderia ter feito melhor, calou muitos na sua prestação e até a mim, até a mim ela consegui calar. Vais longe e disso não duvido!


Já agora um à parte, adorei ver a Mariette, como representante do júri sueco e espero, espero mesmo que esta DIVA volte para o ano a encantar e a lutar pelo lugar que lhe compete.

Imagem/Video: eurovision.tv
28/05/2015

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