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[Crónica] FC 2015: 'soube bem, mas soube a pouco'


Mais um Festival da Canção que se aproximava e, como sempre, a curiosidade era grande. Digo curiosidade, não expectativa, porque a meu ver os fãs portugueses, ou pelo menos a sua maioria, prefere não criar expectativas acerca do Festival da Canção. Eu, pelo menos, sou uma delas. Mas, admito, quando vi a lista de nomes que participariam no concurso, ganhei uma esperança pequenina de que, talvez, este ano soprassem melhores ventos para Portugal. Verdade seja dita, não passou de uma aragem, daquelas que vem nos dias de morrer de calor, que sabe bem mas sabe a pouco.


Em primeiro lugar, tenho a dizer que gostei do local escolhido para a realização do festival. Mais acolhedor, com melhor iluminação, permitiu que as coisas funcionassem bem melhor, na minha opinião. Foi uma mais-valia e uma aposta ganha pela RTP. Mas acho que o deslumbramento parou aí, porque mal acabei de apreciar o cenário, as músicas começaram a aparecer. E oh Deus meu, a sério... que aconteceu a Portugal? Eu juro, não entendo em que década é que nós paramos. Não entendo porque é que não há pessoas capazes de compor algo que não seja Fado, algo que não fale de Lisboa ou da senhora da esquina. É assim tão difícil? Não sou contra o Fado, obviamente (o mesmo já não digo das letrinhas sobre Lisboa, o Tejo e essas coisas), mas será esta a via para conseguir alcançar o gosto dos fãs europeus? Eu acho o Fado algo tão nosso, que não acredito que os estrangeiros o entendem. Seria como mandar Cante Alentejano. É nosso, é da nossa história, faz parte de Portugal e é um orgulho. Iriamos mandar para a Eurovisão? Claro que não.


Analisando as músicas, a Leonor Andrade tornou-se a minha favorita logo desde o início. Não sendo uma música transcendente, era a que mais se aproximava do meu gosto musical e aquela na qual depositei mais esperança. Com o passar da semifinal, fui interiorizando também a música da Yola como uma possível vencedora e na realidade nem me importava se isso acontecesse. Cheguei a mentalizar-me que acabaria por acontecer. E passados aqueles minutos da semifinal, nem achei que tivesse sido assim mau de todo. Ok, tinha músicas que eu gostava, que apoiava e que não envergonhariam o meu país em Viena. Então chegamos à segunda semifinal e tudo ficou estragado. Sabem o que é ter que escolher e não conseguir escolher nenhuma porque para mim é tudo péssimo? Por vezes acho que odeio demasiado as coisas, mas era impossível para mim conceber que alguma daquelas músicas nos pudesse representar. Ok, talvez eu suportasse um “Dança Joana”, a música era na realidade bastante orelhuda, apesar de não ser perfeita, mas eu aceitaria. Aceitaria se, por ventura, os portugueses a tivessem pelo menos colocado na final. Mas não, o Filipe ficou pela semifinal e eu fiquei com o queixo no chão, porque pelos vistos o meu gosto musical vai contra o do resto de Portugal.


Finalmente chegamos ao dia da final. Sabem qual era o meu entusiasmo para a final? Não era nenhum. Crucifiquem-me por parecer uma dessas pessoas que odeia tudo o que é feito em Portugal (não sou, mas entendo que possa parecer) porque realmente depois de ter visto uma selecção nacional em condições (que a maioria de vocês deve saber de qual estou a falar) não estava com o mínimo entusiasmo para a final. Mas vi, como boa fã eurovisiva que sou. Vi como quem olha de vez em quando para a televisão pelo canto do olho, só para saber o que estava a acontecer. Na minha mente já tinha colocado que seria Yola ou Leonor, e qualquer das outras opções faria com que eu fosse de outra nacionalidade qualquer em Maio. Mas qual não foi o meu espanto quando, ao saber os apurados para a finalíssima (que coisa idiota, isto da finalíssima, mas enfim) a Yola não estava lá, mas estava alguém que tinha uma mágica! Bem, que a tinha não duvido, porque de outra maneira ele tinha ficado era na semifinal. Ou em casa. Naquele momento tive vontade de desligar a televisão, mas já que tinha visto tanto, agora saberia quem era o vencedor. Para minha alegria, ganhou a Leonor e eu não precisarei de mudar de nacionalidade. Mesmo assim, esta vitória não muda a visão que tenho deste Festival da Canção, que em termos de qualidade prometeu, prometeu, e não cumpriu. Havia tantos regressos esperados: Sara Tavares, Simone de Oliveira, Adelaide Ferreira, por entre outros e a verdade é que nem assim o festival saiu daquilo a que já nos tem habituado. Se me perguntarem neste momento algo sobre a música da Adelaide Ferreira, só sei que se chamava "Paz" e que a Adelaide pediu pão para as criancinhas na Green Room, o resto foi tão marcante que já tinha se tinha desvanecido do meu cérebro no dia seguinte. A de Rita Seidi, composta por Sara Tavares foi algo... estranho. Não mau, apenas estranho. E completamente desadequado para a Eurovisão. Por fim, em relação à Simone, eu não posso dizer que tenha sido mau, nem que a Simone se tenha envergonhado. Ela defendeu bem uma canção que não tinha muito mais defesa. O problema reside sempre na mesma coisa: a música em si.


Em relação à música vencedora, gosto bastante, mas há muita coisa para fazer ainda. Acredito que o tempo que falta seja mais que suficiente para remodelar o que foi feito e ter uma grande canção em Viena e confio totalmente no Miguel Gameiro para o fazer. A partir do momento que mostro a música a alguém que não liga nenhuma a estas coisas e ela me diz que até se sente orgulhosa de Portugal, considero que foi uma batalha ganha. Venham agora as melhorias, venha um cenário arrojado, um coro decente, e talvez tenhamos aqui a nossa hipótese. Vencer? Não sonho tão alto. Mas vamos mostrar que Portugal não é o país de mau gosto e parado no século passado. 



Vídeo: Tiagobatista39
11/03/2015

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