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Contra o ódio eurovisivo - Nono texto: as músicas nem mostram a cultura do país nem o que é o panorama musical atual





        Podem usar muitos argumentos para “destronar” a Eurovisão, mas certamente este não é um deles. Cada vez mais as músicas apresentadas seguem um de dois caminhos: ou mostram totalmente o que é a cultura do país ou vão de acordo à música comercial atual. Temos visto montes de música eletrónica no festival, a verdade é essa. Sendo ou não fã, é esse o género que vende, e a Eurovisão não pode ficar parada no passado com fados e afins. A Suécia é dos melhores exemplos de inovação nos últimos anos. O próprio Melodifestivalen apresenta músicas que podiam muito bem ser de cantores mundialmente famosos.
       Mas ainda há países que optam sempre por mostrar a sua tradição musical (desde logo o nosso, se bem que nem sempre o faz da melhor maneira). A Sérvia e vizinhos são excelentes exemplos disto mesmo. Ainda este ano vimos Montenegro com uma música que automaticamente nos remete para o pequeno país (e com isso conseguiu uma passagem à final pela primeira vez). Em 2012, Zeljko Joksimovic presenteou-nos com a sua 4ª composição para o festival (todas elas de acordo com os seus próprios países). A própria Polónia este ano levou uma canção com aspetos tradicionais da sua cultura musical.
       É óbvio que os países nem sempre apostam na sua cultura, mas também é certo que nem sempre o público reconhece a música tradicional de cada país. Levar uma música tradicional pode ser muitas vezes vista como um risco. No caso previamente referido da Sérvia e arredores, é sabido que o público já está habituado àquele género de canções e. portanto já não estranha. Mas, imaginem, por exemplo, a Noruega com uma música tradicional. Estando nós habituados a músicas mais atuais por parte deste país, não sei se a reação do público seria a melhor. A Sérvia, por exemplo, falhou a final em 2013 com uma música que não é de todo o género do país.
       Já aqui falei dos países que apostam na tradição e que nos deixam a tradição para trás, mas falta falar naqueles que conseguem conciliar as duas coisas. A Grécia é para mim o melhor exemplo disto. Desde há muitos anos que os helénicos conseguem conjugar tradição e inovação quase sempre na perfeição. O exemplo mais antigo é de 2001 quando os Antique levaram uma música claramente “antiquada” mas que, ao mesmo tempo, nos remetia para o presente. Em 2005, Helena Paparizou ganhou o festival com uma música que ainda hoje é atual mas que nos remete de imediato para a cultura grega. Kalomira, Eleftheria Eleftheriou e os Koza Mostra são outros exemplos daquilo que a Grécia tão bem consegue fazer. Mas o melhor exemplo desta conjugação está talvez no improvável duo Loukas Giorkas e Stereo Mike. Estes dois conseguiram fazer o público apaixonar por uma combinação que ao principio ninguém acreditava que podia resultar: a música tradicional grega e o rap.  

Digam-me lá a verdade … Quem é que vê a Eurovisão pela cultura dos países? Ninguém! A Eurovisão já foi um concurso em que os países levavam músicas que refletiam a sua cultura, mas há muito que isso deixou de ser “regra”. Tudo bem que nós continuamos a achar que temos de levar, mas, só porque nós ficámos no século passado, não podemos obrigar toda a Europa a não evoluir. 


31/07/2014
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  1. Excelente Jéssica, não podia estar mais de acordo, parabéns

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