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Em cada canção, uma mensagem - Primeira letra: Rise Like a Phoenix, de Conchita Wurst



CONCHITA WURST - "RISE LIKE A PHOENIX" (ÁUSTRIA, 2014)















VERSÃO EM INGLÊS:

Waking in the rubble
Walking over glass
Neighbors say we’re trouble
Well that time has passed

Peering from the mirror
No, that isn’t me
Stranger getting nearer
Who can this person be

You wouldn’t know me at all today
From the fading light I fly

Rise like a phoenix
Out of the ashes
Seeking rather than vengeance
Retribution
You were warned
Once I’m transformed
Once I’m reborn
You know I will rise like a phoenix
But you’re my flame

Go about your business
Act as if you’re free
No one could have witnessed
What you did to me

Cause you wouldn’t know me today
And you have got to see
To believe
From the fading light I fly

Rise like a phoenix
Out of the ashes
Seeking rather than vengeance
Retribution
You were warned
Once I’m transformed
Once I’m reborn

I rise up to the sky
You threw me down but
I’m gonna fly

And rise like a phoenix
Out of the ashes
Seeking rather than vengeance
Retribution
You were warned
Once I’m transformed
Once I’m reborn
You know I will rise like a phoenix
But you’re my flame


VERSÃO EM PORTUGUÊS:

Acordar nos escombros
A caminhar sobre o vidro
Os vizinhos dizem que nós somos o problema
Bem, aquele tempo passou

A espiar do espelho
Não, isso não é comigo
Um estranho a aproximar-se
Quem pode ser essa pessoa?

Tu não me conheces, hoje
A partir da fraca luz eu voarei

Erguer como uma fénix
Fora das cinzas
Buscando vingança em vez de
Retribuição
Foste avisado
Uma vez que eu estou transformado
Uma vez que eu estou renascido
Tu sabes que eu me vou erguer como uma fénix 
Mas tu és a minha chama

Vai sobre o teu negócio
Age como se estivesses livre
Ninguém poderia ter testemunhado
O que me fizeste

Tu não me conheces hoje
E tens que ver
Para acreditar
A partir da fraca luz eu voarei

Erguer como uma fénix
Fora das cinzas
Buscando vingança em vez de
Retribuição
Foste avisado
Uma vez que eu estou transformado
Uma vez que eu estou renascido

Vou subir até ao céu
Tu deitaste-me para baixo mas
Eu vou voar

E erguer como uma fénix
Fora das cinzas
Buscando vingança em vez de
Retribuição
Foste avisado
Uma vez que eu estou transformado
Uma vez que eu estou renascido
Tu sabes que vou erguer como uma fénix
Mas tu és a minha chama

O poema inicia com 2 quadras compostas por rimas alternadas, tal como um poema tradicional e mais comum. Antes do refrão, é introduzido um dístico seguido de um verso branco. A semântica é determinada com o objetivo de dar ênfase ao refrão. O refrão é constituído por vários versos, com rimas no meio, mas com um verso branco a finalizar. Os versos possuem poucas sílabas poéticas para dar mais intensidade às palavras. De seguida, mantém-se uma quadra de rimas alternadas e outra de versos brancos. Esta última substitui o dístico para prolongar a ideia do que se pretende transmitir. Antes do último refrão, surge um terceto com uma rima alternada e um verso branco. Aqui a melodia intensifica, como introdução para a parte final da canção. Durante todo o poema podemos verificar um encadeamento de ideias a fim de demonstrar a controvérsia e a mistura de sentimentos.

Esta iniciativa não poderia começar de outra forma senão com este tema. Devo confessar-vos que esta abordagem de escolha das letras eurovisivas que transmitam uma mensagem já estava pensada antes do ESC 2014. Coincidência ou não, não faria mais sentido trabalhar nela neste momento, após a vitória de Conchita Wurst, que foi a conformação de que, para além da canção, também é importante fazer chegar uma mensagem às pessoas. Foi precisamente este o motivo pelo qual escolhi esta letra, uma vez que existem inúmeros poemas autobiográficos levados para a eurovisão, mas nem todos transmitem uma mensagem por detrás disso, por detrás do facto de contarmos a nossa vida e os nossos sentimentos.
Tomas Neuwirth, na sua adolescência, era um rapaz como muitos outros, mas diferente aos olhos dos que o rodeavam. Sofreu discriminação na escola, pela sua orientação homossexual e por se comportar de maneira diferente. Tom, como também era conhecido, deu conta de que tinha um dom: a sua capacidade vocal. Eu diria que tem mais um, pelo menos: a representação, pela forma como age em palco, age como se estivesse livre. Assim, decidiu tentar a sua sorte e mostrar o seu talento num concurso de televisão, em 2007, no qual arrecadou o 2º lugar. Depois, integrou uma boys band, que se desfez no ano seguinte. Tom não se deu como satisfeito com esta experiência, e depois de anos a deitarem-no abaixo, a deparar-se com o insucesso, prometeu que ia voar, e assim o fez. Apesar de caminhar sobre vidro, na sua fragilidade, de ser olhado de lado pelos vizinhos, bem, aquele tempo passou. Após terminar um curso de moda, Tom criou a personagem Conchita Wurst, Conchita pela sua mãe ser mexicana e Wurst (= salsicha) porque é o seu prato favorito. No início deste poema, é descrito como uma pessoa poderá reagir a esta personagem: quem poderá ser esta pessoa? Provavelmente, muitos de nós tivemos esta reação na primeira vez que a vimos, sem a conhecermos. Quer queiramos quer não, há sempre uma primeira impressão que temos das pessoas, que depois pode mudar ou não. Eu, e vocês pensámos o mesmo: quem é esta personagem? E Conchita tem consciência disso. A mulher barbuda, como toda a Europa a batizou durante o ESC, é o seu alter ego, criado baseado em experiências do passado, como ela própria refere. O seu objetivo, aquando a sua aparição no X Factor Austriaco, era “passar uma mensagem importante, de apelo à tolerância relativamente a tudo o que parece diferente”. O que é certo é que, a partir daqui, e após as várias tentativas de reafirmação na adolescência, Conchita começou a ter uma visibilidade nunca antes conseguida. Ninguém a conhecia, e todos tiveram que ver para acreditar que aquela personagem e Tom eram a mesma pessoa, renascida, transformada, e em busca de uma vingança de tudo o que sucedeu no passado. Conchita sabe que as pessoas a julgaram porque não a conhecem, não sabem quem ela é, nos dias de hoje. E por isso, agora já põe de lado o preconceito de que é alvo, e acredita no seu sucesso.
Após a tentativa de representar a Áustria no ESC 2012, finalmente em 2014 foi seleccionada internamente. Entre muita polémica contra a sua participação, Conchita acabou por vencer. Não era a favorita e a sua canção não era muito valorizada. Mas mesmo assim, Conchita ergueu-se, fora das cinzas que a assombravam, e voou como uma fénix, uma ave da mitologia grega, bem visivel no background da sua atuação: a ave de fogo, que quando morre, entra em auto-combustão e renasce das próprias cinzas.
Conchita entrou nas bocas do mundo. Agora é uma figura pública e deu-nos a prova de que podemos ser quem queremos. Como é “Conchita” no trabalho e “Tom” no dia-a-dia, tem a vantagem de poder passar despercebido na rua, quando não está a trabalhar. Só há uma coisa que não muda: o seu talento. Como eu gostaria que ele fosse definitivamente reconhecido, uma vez que de um tema que parece não surpreendente, ela consegue transformá-lo com um desempenho e uma habilidade vocal formidáveis. Oxalá um dia seja valorizado, mas após este reconhecimento e vitória histórica, acredito no seu sucesso. Afinal, o público é a sua chama, e fomos nós, telespetadores do ESC, que lhe atribuimos a vitória. Conchita Wurst trouxe-nos muito à Eurovisão: uma voz espetacular, uma interpretação transformista, uma mensagem muito importante e uma letra que reflete como ela chegou até aqui para vencer e concretizar o seu sonho.  


10/06/2014

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