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A Eurovisão e o Festival da Canção na imprensa nacional - conclusão



CONCLUSÃO

   Foram vários meses passados a analisar artigos, fotografias e capas de jornais e revistas portugueses. Passámos pela época mais sombria do jornalismo nacional, associado ao regime de Salazar e à censura vigente, e chegámos a uma altura em que a informação e a comunicação se fazem através de numerosos canais e a muitas vozes. O Festival RTP da Canção e o Festival Eurovisão da Canção nunca estiveram ausentes da nossa imprensa, mas o destaque dado a estes assuntos conheceu significativas variações ao longo destes 50 anos.
      Como tudo aquilo que começa e é uma novidade, nos primeiros três anos, os Festivais tiveram uma expressão residual nas publicações. Pequenas notícias, uma ou outra entrevista e algumas fotografias - era desta forma que se fazia a cobertura dos eventos. Convém ressalvar que, ainda que as notícias fossem poucas ou mesmo de curta dimensão, elas eram escritas, não com o distanciamento exigido hoje aos jornalistas, mas deixando espaço para o autor colocar quando quisesse a sua opinião. Foi graças a esse estilo de escrita, que se prolongou até ao começo da década de 1980, que ficámos com a sensação de que os Festivais eram a pior coisa que havia no mundo. As canções eram arrasadas, os artistas criticados, a RTP aconselhada a nunca mais se meter noutra do género. Os jornalistas, certamente elementos de uma classe mais culta e erudita, tinham preferências musicais ou televisivas, certamente. Contudo, o grosso da população vibrava com aquilo que via e ouvia nestes concursos. E é no grande público que assentou, e assenta ainda, o sucesso/interesse pelos Festivais.
     De uma emissão televisiva que se via porque não havia outra alternativa a um Festival que parava (e dizê-lo não é, como já vimos, exagero algum) o país distanciam apenas alguns anos. De facto, a partir de 1967, quando o concurso inclui semifinais, o Festival ganha espaço na imprensa, na grelha de programação, na vida das pessoas. Quem tem TV em casa chama amigos e família para assistirem juntos à emissão. O jantar, esse, servia-se mais cedo; as crianças ou iam para a cama mais cedo, para não perturbarem a gala, ou tinham licença para se deitarem mais tarde. Aqueles que não tinham aparelhos em casa enchiam os cafés ou os passeios, em frente das lojas de eletrodomésticos. Os teatros e cinemas começaram a desviar as sessões, os táxis e transportes públicos reduziam a sua circulação nas horas do concurso.
     Na imprensa, vinham fotografias, entrevistas, curiosidades, tabelas para cada um preencher com as suas observações. E, depois do Festival, vinham polémicas, discussões, as bocas que um artista mandou a outro e os dramas dos bastidores.
   Depois, veio o 25 de abril. Mudou o regime, mudou a ordem na sociedade, mudaram as preocupações e as prioridades. O Festival entrou em crise; na década de 1980, com a multiplicação de revistas do social e de televisão, o certame ganhou um novo fôlego, que permitiu que o concurso respirasse com facilidade até cerca de 1986. A partir daí, com os artistas mais famosos a ficarem em casa, com as regras e o formato do Festival sempre a mudar, com as vitórias na Eurovisão que teimavam em não chegar, o conceito festivaleiro começou a cair, num processo que está até hoje à espera de algo ou alguém que o interrompa.
      Em 1996, 32 anos depois da nossa estreia na Eurovisão, conseguimos a nossa melhor classificação de sempre. Alegria, euforia! Mas de nada serviu: no ano seguinte, ficámos a zero. A partir daí, se excluirmos o 12º lugar de 1998, a nossa presença no certame só voltou a ser decente em 2008. Tantos anos depois, é normal que o público não tenha o mesmo interesse e paciência. A oferta mediática também se alargou - há canais privados, há a cabo, há a internet.
     É difícil tornar a reunir o público à volta do projeto eurovisivo. No entanto, as boas audiências registadas entre 2008 e 2011, e mais ainda aquelas registadas em 2013, ano em que a Eurovisão não disse nada a Portugal, são a prova de que ainda vale a pena investir no concurso. A curiosidade em espreitar as canções, as danças e os vestidos dos artistas está sempre presente. Se se conseguir aliar a isso uma boa canção e um intérprete reconhecido e apreciado, a participação nacional no maior festival de música do mundo poderá voltar a ser rentável e algo aplaudido pelo público e pelos media.
      Da nossa parte, o trabalho está concluído. Agora, e no resto do tempo, o trabalho está nas mãos da RTP. Desejamos toda a sorte do mundo à pessoa que for escolhida para defender as nossas cores em Copenhaga. E fica aqui expresso o nosso desejo de que venha a haver mais 50 anos de Festivais, mais 50 anos de artigos, mais 50 anos de paixão.

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