O Festival Eurovisão da Canção 2012 realizou-se em Baku, no Azerbaijão – um país com 9 milhões de habitantes (aproximadamente), que se rege por uma república semipresidencialista. Como forma de desculpa por ter cancelado a edição do Festival Eurovisão de Dança 2009, a EBU viu-se na obrigação de entregar uma vitória ao Azerbaijão, um país que entrou em 2008 na Eurovisão e que obtém uma das melhores médias (em termos de resultados), estando sempre presente no top10. Como diz o ditado – “Amigos, amigos, negócios há parte -, “Running Scared” ofereceu aos fãs eurovisivos uma das piores vitórias de sempre. E a EBU percebeu isso.
Primeiro que tudo foi uma má ideia terem entregue o festival a um país que tem conflitos étnicos (um dos problemas que o Estado-Nação enfrenta actualmente) com a Arménia, um país que não respeita os direitos humanos (não é por acaso que Loreen foi criticada por ter ido ouvir as histórias de vida das mulheres azeris e por a locutora alemã, no momento em apresenta os votos da Alemanha, ter afirmado que a Europa está de olhos bem abertos para a situação geo-política do Azerbaijão), um país que não tinha meios para preparar um certame de alta importância num curto espaço de tempo. A equipa alemã, que realizou a Eurovisão em 2011, é que foi a salvadora de um mísero ano.
Como prova deste insucesso, a principal causa foi a escolha dos apresentadores. Além das piadas secas, os três apresentadores não eram naturais e quase que obrigavam o público a achar-lhes piada. Além disso o inglês era péssimo – até eu fazia melhor figura – e o francês nem vale a pena falar. Catastrófico!
Outro dos pontos negativos desta mísera edição foi o trabalho de câmaras – totalmente descoordenadas que prejudicaram imenso algumas atuações (Islândia, Bielorrússia, Portugal, Croácia, Eslováquia, França, Itália…). Além disso o palco era horrível, nada original, demasiado grande e ficava feio quando as câmaras o mostravam. Saudades que eu tenho do palco de 2008!
Como último aspecto negativo de toda esta edição não posso deixar de referir todas as polémicas – desde os ataques terroristas à delegação da Arménia e aos arménios que queriam assistir ao vivo ao Festival, aos abates de animais para a construção da Baku Crystal Hall, aos ataques de imprensa por parte do Irão e da Islândia, às acusações azeris à Anistia International e ao Human Rights Watch por mancharem a imagem do país, à confusão na Opening Reception Party… Isto é a prova que a Eurovisão não acontece apenas em 3 dias de cada ano.
Em termos de organização, novamente, tenho de salientar quatro aspectos positivos: o postal das votações que mostravam imagens belíssimas do Azerbaijão (até fiquei com vontade de visitá-lo), os extra acts (que a nossa RTP fez o favor de pôr intervalo. Que simpática, uma doçura…), abertura da finalíssima (já que as semifinais nem isso mereceram… Vergonha!) e, antes de cada atuação, a bandeira do país que incidia sobre a estrutura que recebia o evento.
Em termos de qualidade musical, a Eurovisão 2012 foi muito díspar – havia músicas muito boas e muito más. Os chamados “cromos” reinaram este festival – desde as vovós (Rússia), aos loucos por rabos (Áustria), aos manos irreverentes (Irlanda), ao preocupado pelo Euro (Montenegro), à viciada das redes sociais (São Marino) e à anedota de toda a Eurovisão 2012 (Geórgia).
2012 foi um dos anos mais injustos em termos de resultados. O melhor disto tudo foi o facto da melhor canção, a melhor interpretação, a melhor atuação e o melhor instrumental a concurso ter ganho (vá lá, ao menos este ano ganhou a que merecia!). E é só este aspecto é que me deixa totalmente feliz em relação à edição 2012 – a minha favorita venceu –, já que tudo o resto foi uma autêntica desgraça. Mesmo assim admito que estou ansioso pelo Festival Eurovisão da Canção na Suécia, em 2013 – se o Melodifestivalen já tem o sucesso que tem, nem quero imaginar a organização que a Suécia nos vai oferecer! Fantástico!
Começando pelas injustiças, em relação à primeira semifinal (aos não-finalistas), o Montenegro não merecia o 15º lugar (merecia o último), São Marino não merecia o 14º lugar (merecia o penúltimo) e ainda fico perplexo ao ver que a Suíça não passou à final. Mesmo assim não concordo como muitos dizem que a Suíça só não passou por causa da Hungria – os Compact Disco ofereceram um bom show ao espectador, foram mais impactantes na hora das votações e levaram a melhor letra desta edição (que menciona a hipocrisia dos povos). Se me dissessem que a Suíça merecia passar, aí eu perguntava: “Então porque é que a Rússia passou?”.
Em relação à segunda semifinal, como injustiças (aos não-finalistas) temos a não-passagem de Portugal e da Holanda (que tinham músicas superiores à da Bósnia, à da Ucrânia e à da Malta), o penúltimo lugar da Eslovénia, que levava uma das melhores músicas da edição, o último lugar da Eslováquia – Max Jason Mai esteve bastante competente em palco e “Don’t Close Your Eyes” é das melhores músicas rock (não são muitas) que passaram nos últimos anos na Eurovisão –, o 11º lugar da Bulgária (que merecia o penúltimo lugar) e o 14º lugar da Geórgia (que merecia o último lugar).
Quanto aos finalistas de cada semifinal, aqueles que me choco e me pergunto – “Como é que passaram à final” -, tenho de apontar a Moldávia (a coreografia era caricata e a música não tinha potencial), a Rússia (mas isto é um festival de música ou de simpatia?), a Malta (isto é melhor que “Vida Minha” ou “Verjamem”? Ai, minha santa Antónia), a Ucrânia (quando oiço “Be My Guest” fico com medo… que histerismo!) e a Bósnia & Herzegovina (que sono… queria ver se fosse Portugal a levar isto se passava. Tretas!).
Na finalíssima de dia 26 de maio, tenho de salientar o resultado da Estónia, que foi muito justo (ainda se ouvem “músicas de verdade”), da Sérvia (apesar de não gostar, a música mereceu o top3), do Azerbaijão (uma das melhores interpretações da noite) e da Alemanha (simples é sempre melhor).
Como choques aos resultados, aponto a Rússia (é, nestas alturas, que tenho “vergonha” de acompanhar um festival de música que atribui o segundo lugar a idosas desafinadas), a boa classificação da Lituânia (nunca pensei que conseguisse tanto, mas Donny Montell mereceu. É um excelente artista), as más classificações dos países nórdicos que devem ter-se juntado para ajudar Loreen e esqueceram-se do resto da sua vizinhança (Islândia, Noruega e Dinamarca), ao resultado da Espanha (“Quédate Conmigo” merecia, no mínimo, o top5), ao bom resultado da Moldávia (sem comentários… “Lautar” não merecia) e da Albânia (apesar de muitos adorarem a intérprete e a música, para mim gritar não é cantar, e peço já desculpas por ferir susceptibilidades) e, por fim, ao exagero da pontuação turca (a música não é assim tão boa).
Dos resultados que já esperava tenho de referir o lugar da França (a pior atuação da noite de 26, os planos de câmara não ajudaram em nada), da Hungria, da Malta, da Ucrânia, da Macedónia, da Bósnia & Herzegovina e do Reino Unido (notava-se, de longe, que não iam longe), da Irlanda (enjoou ver novamente os manos na Eurovisão), da Grécia (Helena Paparizou wannabe nunca resulta bem). Como lugares justos, além daqueles que já falei, temos a Roménia e o Chipre, que ficaram a meio na tabela, e a Itália, que desiludiu devido aos planos de câmara.
Em relação à participação de Portugal, tenho de agradecer à Filipa Sousa e à toda a sua equipa pelo esforço em dar uma boa imagem de Portugal lá fora. Com uma semifinal muitíssimo difícil, já era de prever a não-passagem; mas, na Eurovisão, normalmente não passa à final quem merece. Não querendo tocar no ponto do Festival RTP da Canção 2012, pois já tive oportunidade de falar, tenho de fazer uma crítica à RTP, que já é um hábito. Foi vergonhoso a falta de publicidade ao certame, à falta de apoios à delegação portuguesa, ao facto de não terem pago a viagem a Baku aos criadores da música... Muita coisa tem de ser feita e o resultado de “Vida Minha” foi uma demonstração disso mesmo! Algo tem de mudar - e não são os fãs, os cantores, os compositores que têm de mudar primeiramente; é, sim, a RTP!
Apesar de inúmeras injustiças, a Loreen venceu e isso é que é mais importante. Em 14 anos a ver o festival, nunca o meu favorito tinha ganho; por isso tenho um apreço especial por “Euphoria”. São estas coisas que fazem ainda delirar mais pelo certame. Ainda me lembro o ano passado que, quando assisti à vitória de Ell & Nikki, afirmei nunca mais voltar a ver o certame… No entanto o amor pelo festival não acaba e só quem é fã sente… A nossa vida é esta: acordar com o festival, respirar com o festival, viver com o festival.
Redigido por: Diogo Canudo
Adorei esta crónica para mim foi a melhor até agora!
ResponderEliminarSó não gostei das criticas a Rússia merecerão sim o 2do lugar, desculpa que te diga se em 14 nunca gostaste da musica que ganhou então não tens gosto, como tu aqui escreveste é a tua opinião, e agora ficas com a minha.
ResponderEliminarConcordo em quase tudo (mexeste na ferida do Azerbaijão e fizeste bem) excepto em 1 coisa: a cantora albanesa cantava com alma e isso é coisa que não é para qualquer um. Se ela gritava (o que eu não acho) tinha que o fazer mesmo, principalmente na parte "Më ler ni të qaj". Ela mereceu e bem o lugar que ganhou (até deveria ter ficado um pouco mais acima).
ResponderEliminarLi outra vez a critica e notei que me escapou outra coisa da qual eu também não concordo: "o 11º lugar da Bulgária (que merecia o penúltimo lugar)"? Na minha modesta opinião ela é que devia ter passado à final em vez daquela coisa "pão sem sal" que representava a Noruega.
ResponderEliminarCrónica boa com duas coisas apenas em desacordo: Albania foi EXCELENTE, a actuação com mais alma (juntamente com Estónia), e isso é qualidade; e Malta foi a surpresa da sua semi-final e na final voltou a tar muitissimo bem, merecendo inclusivé bem mais que o lugar obtido... Contudo parabéns pela crónica ;)
ResponderEliminarA melhor crónica de todas. Está tudo dito. O autor falou dos problemas do azerbaijao, dos resultados, da vitória e da organização. Notei diferenças desta crónica em relação às outras todas. Por isso parabens!
ResponderEliminarNão venham bater na mesma tecla ao dizer que a Rússia merecia o 2º lugar. Portugal até podia enviar avós mais fofas do que estas que nem à final passava. Treta! A Rússia até podia mandar o Joker da Geórgia, a das redes sociais ou o do Euro Neuro que passava. Ponto. São sempre estas injustiças que me ficam a remoer.
ResponderEliminarQuanto que ao 11º lugar da Bulgária, óbvio que foi exagerado. Uma música destas pede algo diferente, não é a intérprete a abanar-se de um lado para o outro que vai dar o verdadeiro sentido à música. A Malta surpreendeu, mas também! Até o Euro Neuro poderia surpreender que passava logo?
Só o facto de o Azerbaijão ter vencido em 2011 tinha-me deixado possessa, então esta edição...! Só o final é que me satisfez. Finalmente a Suécia! Se já a final nacional deles equivale a uma mini-Eurovisão, então para o ano...vai ser lindo! (:
Parabéns pela crónica, está fantástica! (:
Grande festival, com algumas grandes músicas de se recordar, como o caso da Sérvia,a minha preferida e favorita...Mas AS VOTAÇÕES Vergonha!!!...enquanto não se ATINAR E MANDAR VIR com estes países de leste, a eurovisão nunca mais será justo, legal e digno do k lhe é exigido em muitas coisas....apenas estragam aquilo que devia ser um festival com brilhantismo e a celebração da música internacional, e mostram que apenas é um grande circo -_-
ResponderEliminarPS: Grande Crónica Diogo Canudo, muitos parabéns ;) Abraço