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[Crónica] Portugal na Eurovisão: "Tourada" de Fernando Tordo (1973)


       
 Após 9 anos, desde a sua estreia no Festival Eurovisão da Canção, Portugal volta a fazer-se notar pela originalidade e pela crítica bem construída.
       
 Como de costume, no nosso país realizou-se o Festival RTP da Canção para apurar qual a música que nos iria representar no dia 7 de Abril de 1973, no Luxemburgo. A verdade é que, de entre as músicas concorrentes, aquela que foi interpretada por Fernando Tordo foi a que acabou por levar a melhor, ao classificar-se em 1º lugar. Esta foi, sem dúvida, uma BOA escolha para levar ao maior palco europeu.
       
 Aquando da sua participação no Nouveau Théâtre (local escolhido para acolher o festival), o cantor optou por envergar um fato azul claro, completando o conjunto com um grande sorriso na cara.
     
 De notar que, logo no início da música, o som que primeiramente se ouve é precisamente o das cornetas que tocam nas touradas. Logo aqui Portugal inovou, ao levar para o palco luxemburguês um instrumento e um som pouco vulgares. A música (da autoria do cantor) é alegre e divertida, constituída por aqueles “altos” e “baixos” que tornam a música tão especial ao ouvido.
       
 A letra (de José Carlos Ary dos Santos) é novamente um belo poema que o nosso país quis partilhar com a Europa. E é precisamente na letra que está a maior beleza da nossa participação neste ano. A mistura entre a simples poesia e a ironia presente no poema, fez com que esta música fosse (e ainda o seja) considerada por muitos como uma das mais interventivas a nível político na sociedade passada. Quando o cantor diz “não importa sol ou sombra / camarotes ou barreiras / toureamos ombro a ombro / as feras”, está claramente a pôr em contraste aqueles que viviam no luxo e que podiam, por isso, desfrutar do sol, com aqueles que estavam presos pela PIDE e que viam a sombra através das barreiras (grades). Como a festa taurina tinha como assistência, principalmente, gente rica, faz todo o sentido o verso “soam brados e olés dos nabos / que não pagam nada”. Pudera... com o povo a trabalhar como desgraçados é claro que eles não tinham que gastar o dinheiro deles. O ponto alto da letra é quando “com bandarilhas de esperança / afugentamos a fera / estamos na praça / da Primavera". E realmente foi isso que aconteceu, pouco depois: a fera (Salazar) “fugiu” e uma nova Era surgiu no nosso país. A letra é, portanto, um verdadeiro apelo para que o povo faça da “tristeza graça”. Salazar volta novamente a ser criticado quando a certa altura: “diz o inteligente que acabaram as canções”, sendo esta uma marca para que os músicos da época não se deixassem vencer pelo medo imposto pelo Estado Novo.
       
 Confesso que não entendo como é que os homens do lápis azul não entenderam a mensagem da letra e a censuraram. Mas ainda bem que não perceberam, pois se tivesse sido esse o caso a esta hora não tínhamos esta belíssima música a fazer parte dos ideais de liberdade.
       
Aproveito ainda para dizer que a parte final da música, em que o cantor apenas diz “lá láralá  la laralá” e por aí fora, foi muito interessante... Uma vez que, a maior parte do público não entendia a língua portuguesa, essa foi uma excelente forma de atrair o público e de o convidar a bater palmas e a trautear.
       
 Portugal terminou a sua prestação no Luxemburgo num honesto 10º lugar e um total de 80 pontos somados. Assim, como no ano anterior, o Luxemburgo volta a sagrar-se campeão: desta vez, com a canção “Tu te reconnaîtras” interpretada por Anne-Marie David, que conquistou a 4ª vitória para o seu país. Um país tão pequeno e com tanto sucesso… E Portugal maior e nada…
       
Esta edição do Festival Eurovisão da Canção ficou ainda marcada por vários motivos: 

  • Pela retirada de Malta e da Áustria;
  • Pela estreia de Israel, concorrendo assim um total de 17 países pelo bilhete de vencedor;
  • Acusações de plágio;
  • Ameaças terroristas por parte de grupos palestinianos;
  • Foi abolida a regra que obrigava cada país a cantar na sua língua oficial.  
            Armando Sousa 15/06/2011
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  1. Boa crónica, explica bastante bem a letra e o seu significado. Sem duvidas, que esta musica, foi marcante, para a recente história do nosso país. Penso que Ary dos Santos, criou uma obra prima, que delicia, quem a ouve. Fernando Tordo ainda hoje, é lembrado por tudo que fez pela musica portuguesa e também pela musica de intervenção.
    Gostei bastante da crónica, parabéns Armando...

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  2. Francisco Gonçalves17 de junho de 2011 às 11:35

    Muito boa crónica. Parabéns Armando!

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