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Crónica: fazer omelete sem ovos e uma votação (nada) surprendente


Não sei se, entre a passada terça-feira e hoje, se lembraram de ir ao google pesquisar "como fazer omelete se ovos?". Eu não o fiz, mas tenho a certeza que, se o fizer, o primeiro resultado da pesquisa vai ser o vídeo da atuação da Mimicat na Eurovisão.

Estive a pensar seriamente neste assunto nos últimos dias e creio que o que aconteceu para a RTP ter gastado um total de 50 cêntimos na atuação é até bastante fácil de explicar, senão, vejamos. Havia um orçamento definido para os dez anos de participações, que compreendiam os anos entre 2021 e 2030. Sucede que, logo em 2021, enviámos os The Black Mamba e toda a gente dizia que não nos íamos qualificar. Como a RTP é uma espécie de criança que salta de um precipício depois de os amigos dizerem "não tens coragem", e quis provar a toda a gente que estava errada, gastou 90% do orçamento que tinha para dez anos logo no primeiro. Foi bem pensado. A lógica deve ter sido a de pensar que ninguém neste país vê a Eurovisão e, portanto, só aqueles fãs chatos que seguem a coisa é que vão reparar que nos anos seguintes não há orçamento para nada, mas esses fãs (tipo eu) reclamam com tudo, portanto, nada de novo.

Sucede que os The Black Mamba acabaram bem classificados (e bem), a Maro ficou bem classificada e, de repente, a Eurovisão até é líder de audiêcias em Portugal. A Mimicat era a favorita de meio mundo para ganhar o FC, ganhou-o e, logo depois, ouviu da RTP "repara, está giro e tal, mas nós não temos dinheiro. Tu até te safas como artista, por isso, vê lá se só o teu carisma chega para irmos à final". Chegou. Não se iludam. A Mimicat não foi à final pela música que, apesar de genial, não é, de todo, o aspeto mais valorizado no concurso. 

A Mimicat foi à final porque é uma artista fenomenal. Uma das melhores deste ano e, de longe, uma das melhores que alguma vez nos representou. O 2.º lugar na ordem de atuação matou todas as esperanças de uma boa classificação, mas o 23.º lugar não apaga tudo aquilo que a nossa representante fez. Entregou-se como nunca nenhum representante se entregou a esta missão de nos representar da melhor forma possível. Escrevi-o antes da Eurovisão e mantenho tudo o que disse.

Olhando para a edição deste ano, musicalmente falando, achei-a muito pobre. A nível de organização, foi uma agradável surpresa. Para um país que fica sempre nos últimos lugares, o Reino Unido mostrou bastante competência na organização de tudo. Entenderam o que nós queríamos, fizeram bons interval acts e escolheram excelentes apresentadores. Ponto alto do evento? Quando o spokesperson alemão pegou na sua caixa de biscoitos fazendo referência a Ted Lasso. Quem não vê a série está a perder muito.


O que eu mais gostei foi da revolta dos fãs da música finlandesa com a vitória sueca. "Ai, mas o júri devia ser abolido", "o público é que sabe". Amigos, toda a gente sabia que a Suécia ia ganhar há mais de dois meses. Só acreditava no contrário quem nunca tivesse visto a Eurovisão. Abolir o júri significaria termos a Polónia e a Croácia no top 10. Abolir o júri também significaria que, em 2015, teria ganhado a minha favorita, mas isso são outras conversas. Eu sou a favor do júri, apesar de achar que devia haver uma maior ponderação do voto do público (60%-40%, por exemplo). Claro que acho também que o júri tem de ser qualificado e, ao contrário do que fez a RTP, não podem ser pessoas aleatórias e meio surdas que eles encontraram na tarde de sexta-feira a passar pela Marechal Gomes da Costa e convidaram para ir avaliar as músicas.

Dito isto, a grande injustiça da noite foi a Alemanha, que tinha uma música boa, com um staging ótimo e uma excelente voz. Foi a melhor dos big 5, mas vocês não estão preparados para esta conversa. O Reino Unido mostrou range ao ir do melhor ao pior vocalista e do top 3 ao bottom 3. Atuação absolutamente horrível. Conseguiu estar vocalmente pior que a Blanka. Ri muito com o último lugar da Espanha do televoto. Não era merecido, mas eu adoro ver os eurofãs espanhóis no twitter a queixarem-se do lugar depois de acharem, ano após ano, que vão ganhar.

O momento alto da noite foi a grande surpresa das votações, ou seja, os quatro pontos da Grécia para o Chipre. Não se preocupem, eu fui verificar, e o televoto deu os 12 pontos, mas o júri só pode ter enlouquecido. Loucura ou não, obrigada, amigos gregos, pelos 10 pontos para Portugal. É bom saber que há um país com bom gosto no sul da Europa. 

Obrigada, gregos e, acima de tudo, e em nome de toda a equipa e de todos os eurofãs (tirando aqueles chatinhos), OBRIGADA, MIMICAT!

Foto/Vídeos: Eurovision

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