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[Crónica] Quão mau é, na verdade, o filme sobre a Eurovisão?


Na passada sexta-feira à noite, precisamente o dia em que o filme Eurovision: the story of Fire Saga, reunimo-nos (alguns membros atuais e antigos deste site) numa plataforma de streaming para ver o tão falado filme. Fizémo-lo porque muitos de nós iríamos provavelmente adormecer a vê-lo sozinhos.

Respondendo à pergunta que dá nome a esta crónica/análise/o que lhe queiram chamar: é bastante mau. No entanto, tendo em conta o que se esperava, até é bastante agradável. Não me parece que alguém fora da bolha eurovisiva o vá ver e pense "sim senhor, boas duas horas gastas a ver isto, isto é que é aproveitar a vida", mas para nós, que esperávamos ver o nosso programa de televisão preferido achincalhado, até nem foi mau de todo. Esta não é a análise mais interessante ao filme que vão ver, mas sigam-me nela ainda assim e, se ainda não viram o filme, não se importem porque o facto de não ser muito interessante faz com que spoilar alguém não seja assim tão grave.

Já toda a gente conhece o plot: Will Ferrell e Rachel McAdams são dois islandeses que formam o duo Fire Saga. Ela canta muito bem (também eu cantaria se a Molly Sandén cantasse por mim) e ele bastante mal. Porque é que ela faz duo com ele? Ninguém sabe. Ele tem um pai - o Pierce Brosnan - que parece ter a mesma idade que ele, mas os produtores ignoraram isso. Talvez na Islândia sejam muito precoces nisto de ter filhos. Ignorando tudo isto, se calhar a Rachel McAdams a nível da comédia ficava-se por aqui. Estragou um bocadinho a minha ideia dela no meu filme preferido de adolescência - o Red Eye.

Will Ferrell fica fascinado com o ESC quando vê os ABBA vencer em 1974 e sonha representar o seu país. Anos se passam e toda a gente sabe que as duas personagens principais estão apaixonadas um pelo outro, mas nenhum deles fala sobre isso. Anos disto. Os dois andam a tocar em bares (a tocar "Ja ja ding dong", que seria certamente top 5 no ESC se a Suécia enviasse a música).


Posto isto, eles lá conseguem chegar à final nacional islandesa (que eles designam por Icelandic Song Contest) e, no final, tudo corre mal e a Demi Lovato (que tem umas 3 falas no filme todo) ganha o concurso. Importante referir que a personagem dela se chama Katiana, um nome muito islandês. Até aqui o filme é sofrível.

É depois que aparece realmente a melhor parte humorística do filme. Todos os concorrentes morrem numa festa num barco porque o diretor financeiro da RUV não quer que a Islândia ganhe o ESC. Por mim o filme todo tinha este nível de estupidez. Sucede que os momentos de piada são bastante escassos, mas já lá vamos.

Os Fire Saga, únicos sobreviventes, chegam ao ESC e é aqui que começam todas as incoerências que só os fãs conseguem detetar. Certo, mais ninguém vai conseguir perceber que a Itália e a Espanha estarem na semifinal é estúpido, mas também mais ninguém vai ver o filme por isso podiam ter pensado nestes pormenores.

Já na semifinal em si, Graham Norton diz "afinal isto não é tão mau como parecia". Certo, Graham, "Double trouble" ia totalmente ficar no top 10 do ESC. Gostei especialmente do crescimento repentino da echarpe dela. Durante meia atuação acabava onde acabava o vestido, mas assim que ela chegou perto da roda de hamster, cresceu tanto que estragou a atuação toda.


Chocou-me a não passagem da Bielorrússia, mas tendo em conta o facto de nem aparecer na tabela, é capaz de ser normal. Achei um ultraje quando eram os melhores da semifinal. A Rússia parecia mais um NQ do Eurosong. Toda a gente sabe que o Sergey nunca iria com algo tão pouco elaborado. Talvez o Alexey Vorobyov fosse. A Suécia é tão beneficiada que até pode ter sete pessoas em palco. A Espanha nunca iria passar à final e a Itália ficar de fora. Era preciso uma catástrofe. E a entrega de pontos foi incrível. Não queria dizer que fazia um gráfico melhor no power point, mas fazia

Antes disto (vejam como esta análise está tão bem pensada e estruturada que até recorro, como fazia Camões, ao uso de analepses), Salvador Sobral aparece para dar um ar de sua graça. "Amar Pelos Dois" adequa-se exatamente em nada aos momentos que são mostrados aquando da passagem da música, mas ignoremos esse facto. Salvador é um artista de rua com ar de sem abrigo a tocar num piano mais caro que a minha casa. Porque é que ele aceitou entrar neste filme? Sabe-se lá.

Sabem o momento em que o diretor financeiro da RUV diz ao Will Ferrell que eles não podem ganhar porque a Islândia não tem dinheiro para sediar no ano seguinte? Imagino isso, mas com a RTP e a Vânia Fernandes em 2008.

Duas das melhores piadas do filme aparecem já mais para o final: a dos americanos a perguntarem se o ESC é como o The Voice (bem apanhado, Will, bem apanhado) e a de "não haver gays na Rússia".


Mas a minha parte preferida, porque adoro incongruências em filmes e séries, é o momento em que o russo diz "toda a gente odeia o Reino Unido, por isso, 0 pontos". Ora, eles estão na Escócia para a Eurovisão. A Escócia é no Reino Unido. Isto leva-nos a concluir que o Reino Unido ganhou no ano anterior. Tendo em conta o facto de todos odiarem o Reino Unido, parece-me improvável portanto ganhou quem? A Austrália? E o ESC é no Reino Unido, mas o Graham Norton é só comentador? Hmm...

Dito isto, tanto "Double Trouble" como "Husavik" seriam sérias candidatas a um excelente resultado na Eurovisão. A Molly Sandén é uma excelente cantora, mas podia ter ensinado à Rachel McAdams que, se fizer aquela nota mais aguda quase a engolir o microfone, é capaz de não dar bom resultado. Se é um filme que eu gostei de ver? Em última análise, sim. Se quero voltar a ver? Nem por isso.

Mas este filme não é só estupidez e piadas, este filme ensina-nos algo para a vida: se quiseres ser alguém, arranja uma equipa de relações públicas como a da Anna Odobescu.

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