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Nos últimos anos, a Rússia tem sido o país mais polémico no Festival Eurovisão da Canção, devido a inúmeras situações. Este artigo não pretende ser um texto de apoio ou de oposição a este país, mas sim uma reflexão daquilo que pode ser trabalhado no futuro por todas as partes.
Desde 2012 que têm sido constantes as polémicas que a comitiva e o governo russo apresentam aos seguidores do Festival Eurovisão da Canção. O ponto fulcral para ter começado esta inimizade foi a partir da implementação da lei contra a comunidade gay, onde Putin fez questão de afirmar que "é proibido falar como um gay, andar como um gay e andar de mãos dadas com alguém do mesmo sexo". Os fãs eurovisivos, fazendo ou não parte desta comunidade, revoltaram-se e temeram que a Rússia pudesse organizar o evento no futuro, devido às complicações que esta lei podia implicar. Estas considerações até levaram, em 2013, a Eurovision Broadcasting Union (EBU) a enviar uma carta de advertência aos russos que eles devem respeitar as normas do concurso.
Após este incidente, seguiram-se tantos outros em 2014. Primeiro que tudo, a Rússia tentou que os votos da Crimeia fossem provenientes dos seus - mas ficou decidido que seria a Ucrânia a recebê-los. A Crimeia, desde sempre, que tem sido um espaço geográfico polémico, porque está dividido entre russos e ucranianos. Neste mesmo ano, foi promulgada o tratado da anexação da Crimeia e Sevastopol à Federação Russa e que foi reivindicado pela Ucrânia como República Autónoma da Crimeia e de Sevastopol. E, a partir daí, tudo se desmoronou: todos os artistas russos que pudessem apoiar a causa Ucrânia ou pisar este mesmo país seriam considerados como rebeldes anti-russos - exemplo disso foi a cantora Anastasia Prikhodko, que representou a Rússia no concurso em 2009.
No entanto, o escândalo mais espalhafatoso para o concurso da Eurovisão foi mesmo o drama da vitória de Conchita Wurst. As reações à vitória da Conchita Wurst não foram de todo boas. O governo russo temeu que as gerações mais novas fossem influenciadas no futuro por aquilo que viram na televisão. Até Vladimir Jirinovski, presidente do Partido Liberal Democrático, afirmou à televisão estatal russa Rossiya-1 que "a nossa indignação é ilimitada, isto é o fim de uma Europa que ficou completamente louca. Eles têm mais mulheres e homens lá em baixo mas preferiram apresentar um travesti de barba", acrescentando que "há 50 anos o exército soviético ocupou a Áustria e desocupá-la foi um erro, devia ter lá ficado".
Após isso, o Governo Russo anunciou que iria acontecer o Intervision Song Contest, um programa semelhante ao Festival Eurovisão da Canção e que fosse de acordo aos ideais e às leis russas. E o local não podia ser mais escandaloso: Sóchi, perto da Crimeia. Mas estes planos foram por água abaixo: tudo foi cancelado devido à situação política que o país vivia na altura.
E o que a Rússia ganhou em troca? Imensos assobios com a sua participação "Shine" das Tolmachevy Sisters, que deixaram as gémeas cantoras de rastos. Muitos tentam acreditar que a Eurovisão é apenas um concurso musical, mas é para além disso: também é político. É óbvio que as cantoras não têm culpa do que o governo russo tinha vindo a cometer, e foram apenas mais umas peças no tabuleiro de xadrez... mas quem semeia ventos, colhe tempestades.
A indignação dos fãs continuou em 2015, quando a Rússia apresenta "A Million Voices", interpretada por Polina Gagarina - uma música que apela à paz mundial e ao amor universal. Sendo ou não uma resposta da televisão estatal às leis do seu próprio país, as afirmações de apoio que a cantora representante fez sobre a comunidade gay e o episódio de ter dado um beijo a Conchita Wurst deixou o governo russo bastante incomodado.
Mas pára tudo! Em 2016, a Rússia veio melhor que nunca: veio mesmo para ganhar. "You Are The Only One" de Sergey Lazarev, desde o momento que foi apresentada, foi considerada como a clara candidata à vitória. Mas, por muito que os fãs eurovisivos pudessem gostar da música, começaram a aplicar uma política de ódio ao facto de a Rússia poder organizar o concurso em 2017 - a EBU até realizou um comunicado em que prometia que todas as questões de segurança seriam asseguradas caso este acontecimento pudesse existir.
No entanto, a reviravolta acontece: a Ucrânia vence o concurso nesse ano, sem ser a favorita do júri nem do público; e vence com uma música histórico-política que afirma todo o sofrimento que os russos causaram em 1944, na Crimeia. Os russos não perderam tempo: apresentam a sua indignação a este facto e consideraram que o concurso estava a favorecer um país em detrimento deles face a um problema político-militar: "Foi a política que ganhou à arte", afirmou o senador Frantz Klintservitch que apelou ao boicote russo na próxima edição.
A organização de 2017, protagonizada pela Ucrânia, começou logo com um imenso senão: a criação de uma lista negra em que vários artistas russos, intitulados como ameaças à segurança nacional da Ucrânia, seriam proibidos de entrar no país. Apesar de a EBU ter realizado milhares de reuniões para que qualquer artista russo pudesse participar no concurso sem censura, tudo isto foi em vão. "Isto não é mais sobre boa música, isto é um show de pessoas com mentes perversas, propósitos LGBT secretos e por aí adiante", disse Medvedev, o primeiro ministro russo, à imprensa, na altura.
A escolha russa recaiu em Julia Samoylova, que foi logo proibida de participar no concurso por ter violado as leis ucranianas: entrou na Crimeia para dar um concerto. E Jon Ola Sand, supervisor executivo eurovisivo, tentou, mais uma vez, entrar em negociações com a Ucrânia: "Pela primeira vez na história do ESC, estamos numa situação em que um participante pode não ter a oportunidade de viajar para capital-sede. Devemos, então, encontrar uma solução que dê a oportunidade de que a representante russa participe. A decisão foi tomada pelas autoridades locais, que precisam de seguir as leis locais. Entretanto, estamos em conversações com o Primeiro Ministro e o Governo Ucraniano para anularem a decisão." Mas, adivinhem... não serviu de nada.
O resultado disto foi que a Ucrânia foi multada pelos atrasos na organização do festival e pela proibição da participante Julia, e a Rússia por se ter retirado da competição e ter faltado às reuniões agendadas.
Tudo isto que tem acontecido é de lamentar. Qual a conclusão que podemos tirar disto?
Numa primeira instância, eu, como cidadão europeu, espero que, por mais leis e conflitos militares que haja, todos os países respeitem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Já num ponto de vista eurovisivo, é mais do que óbvio que a política não pode entrar dentro de um programa musical televisivo, porque isso não faz de todo um bom entretenimento. Os fãs juntam-se à frente da televisão para celebrar a cultura europeia, uma tradição televisiva que cada vez mais é vista mundialmente. E estes conflitos, além de se afastarem do propósito do concurso, só o destroem - em vez de estarmos a comentar uma música que acabou de ser apresentada, estamos a interrogar-nos das intenções que cada país pode ter sobre determinado acontecimento.
Tudo isto que tem acontecido é de lamentar. Qual a conclusão que podemos tirar disto?
Numa primeira instância, eu, como cidadão europeu, espero que, por mais leis e conflitos militares que haja, todos os países respeitem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Já num ponto de vista eurovisivo, é mais do que óbvio que a política não pode entrar dentro de um programa musical televisivo, porque isso não faz de todo um bom entretenimento. Os fãs juntam-se à frente da televisão para celebrar a cultura europeia, uma tradição televisiva que cada vez mais é vista mundialmente. E estes conflitos, além de se afastarem do propósito do concurso, só o destroem - em vez de estarmos a comentar uma música que acabou de ser apresentada, estamos a interrogar-nos das intenções que cada país pode ter sobre determinado acontecimento.
![Resultado de imagem para eurovision](https://static.independent.co.uk/s3fs-public/thumbnails/image/2015/05/05/11/Eurovision-generic.jpg)
Além disso, os fãs eurovisivos têm de perceber que nem sempre os cantores escolhidos pela Rússia representam de todo as leis do governo e todas as polémicas têm vindo a público. Assobios só nos fica mal, já que somos cidadãos europeus e inclusivos.
Por fim, o governo russo tem de suavizar as críticas que faz ao concurso. Além de alimentarem a imprensa local, estão a desviar-se dos seus propósitos. O principal objetivo devia ser perceber as necessidades que a sua população precisa, e não preocuparem-se com um programa de televisão. Sim, porque, na sua génese, a Eurovisão é um concurso de televisão. Não vamos confundir as coisas, por favor.
Se houver mais comunicação entre todos, em que haja espaço para o diálogo e para dizer sem medo as preocupações que cada um tem, tudo ficará mais fácil. Se houver uma mudança de perspetiva, poderão olhar para a Eurovisão com outros olhos. Se houver uma predisposição de paz e de união entre todos, tudo correrá melhor. A Eurovisão promove a diversão, a alegria e a paz entre todos - não promove a guerra.
Esperemos que em 2017 estes conflitos acabem e que a Rússia nos continue a enviar os melhores artistas musicais que tem no seu país - porque esses, sim, têm feito as delícias a nós, fãs. Até maio!
Imagens: itv.com, doutboilethesauce.com, eurovision.tv, mirror.co.uk e theindependent.co.uk/Vídeos: Eurovision Song Contest
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