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ESC 2017: comentários à segunda semifinal


As semifinais do Festival Eurovisão da Canção 2017 (ESC 2017) chegaram ao fim e já são conhecidos os 26 finalistas da edição. Depois de uma primeira semifinal marcada pelo adeus à Finlândia, eis que surge uma segunda semifinal, com resultados ainda mais surpreendentes e mais confusos que a proposta croata.

Julguei eu que iria assistir a um espetáculo mais esquecível do que a primeira semifinal, com o acréscimo de haver poucas propostas musicas que me despertassem o gosto. Pois é... mas enganei-me redondamente. Se o Opening Act da primeira semifinal foi desadequado e desinteressante, o da segunda foi uma manifestação de cultura eficaz, com o brilho eurovisivo que nos enche de orgulho e que nos mantém ano após ano agarrados ao ecrã. Foi algo pensado ao pormenor! Uma dança bem estruturada, ao som dos maiores sucessos eurovisivos dos últimos anos, traduzidos em musicalidades típicas do país anfitrião, com muitos bailarinos trajados a rigor, como manda a tradição ucraniana. E isto, meu caros, foi a manifestação mais pura e certeira daquilo que considero que deveria ser a Eurovisão: CULTURA! Tenho ainda a acrescentar a postura completamente diferente dos apresentadores nesta semifinal: enquanto que na terça feira acusaram claramente o nervosismo de estar perante milhões e milhões de pessoas, na segunda semifinal, transformaram a tensão em dança, canto e muita animação.  Se são os melhores apresentadores? Não, mas cumprem bem a sua função e disso não nos podemos queixar. Relativamente à produção, notou-se claramente um esforço para se conseguirem melhores planos de câmara, corrigindo alguns erros que se notaram na primeira semifinal. Houve, de facto, mais profissionalismo.


Passemos então àquilo que realmente interessa: às canções! Dizia eu que não havia muitas propostas do meu agrado neste semifinal... pois não é que me surpreendi com algumas canções? Pois é verdade. Esta semifinal surpreendeu-me pela positiva (menos os resultados...), ao ponto de passar a gostar de algumas candidatas que antes não me despertavam particular interesse.

1. Tijana Bogićević - In Too Deep (Sérvia)



Eu nunca fui fã desta aposta. Num certame cheio de pop plástico, não entendo o porquê da Sérvia aderir ao movimento "Vamos todos imitar a Suécia", quando os melhores resultados do país vieram de canções cheias de emoção e elementos culturais magníficos. No entanto, "In Too Deep" era minimamente satisfatória. Após ver a atuação, tenho a dizer que fiquei surpreso: um vestido branco brilhante e ousado, projeções simples, mas adequadas ao tema e uma prestação vocal satisfatória. "Obviamente vai à final!" pensei eu... mas ficou-se pela semifinal. Acho injusto, mas talvez o sentimento pré eurovisão que eu tive, foi mais geral do que pensava e, no final de contas, prevaleceu em relação à atuação.

2. Nathan Trent - Running On Air (Áustria)



Nunca pensei que o rapazito do logótipo da Dreamworks sentado na lua fosse real, mas afinal enganei-me! Não aprecio nada este tema, estou cansado de ouvir canções deste género nas rádios e não é, com certeza, este estilo que me faz prender ao ecrã. Depois de assistir à atuação do Nathan, reconheço-lhe o talento vocal e o carisma. Um ambiente muito colorido e cenicamente maravilhoso, foram os elementos chave que deram o passaporte à Áustria para a final. Claro que a canção terá ajudado, pois sei que há imensa gente que aprecia o género. Apesar de tudo, considero uma passagem merecida.

3. Jana Burčeska - Dance Alone (A.R.J. Macedónia)



O que eu mais temia acabou por acontecer. A Macedónia trouxe-nos uma canção pop incrível, com uma produção exímia, cheia de aspetos positivos. A Jana deu tudo o que tinha em palco, os efeitos vocais estiveram no ponto... e não, ela não tem a melhor voz da edição, mas tem duas características que a maioria dos finalistas deste ano não têm: ATITUDE E CARISMA! Primeiro, enfrentar um palco daqueles sozinha e conseguir enche-lo não é para qualquer artista. Segundo, foi a única atuação na qual gostei e achei que fez sentido ver a sua imagem projetada como fundo. Terceiro, um outfit incrível, brilhante e arrojado. Quarto, até a make up estava no ponto! E mesmo assim, foram todos ao WC aquando da atuação... não entendo. A Macedónia fica pelo caminho, mas se fosse a Suécia a levar esta proposta...

4. Claudia Faniello - Breathlessly (Malta)



Uma não qualificação era mais do que esperada. A canção é datada e faria sucesso... caso estivéssemos em 2006. Em 2017, estas propostas já não fazem muito sentido. Destaco o poder vocal da Claudia. De facto, é o ponto mais forte desta proposta pouco memorável.

5. Ilinca ft. Alex Florea - Yodel It! (Roménia)



Esta é talvez das propostas mais controversas do ano (a seguir a Montenegro, obviamente!). Para ser sincero, esta canção faz muita falta a esta edição da Eurovisão. Todos nós sabemos que o concurso é feito tanto de momentos de boa qualidade musical, tanto de momentos hilários, com ou sem propósito. Este ano, o lado freak da competição coube, entre outros, à Roménia. No entanto, acrescento que a atuação da dupla não me convenceu totalmente. É tudo tão postiço, tão feito para agradar às massas, que chega a irritar! Mas pronto, esquecendo esse pormenor, parabéns à Roménia por nos proporcionar um momento único nesta edição e ter carimbado o passaporte para a final.

6. OG3NE - Lights and Shadows (Holanda)



Os finalistas foram sendo revelados e nada de Holanda... até que de repente um anjo caiu do céu e gritou "CRY NO MORE" e a Holanda é anunciada como finalista! Esta é das tais que me fascinou ao vivo. É tudo tão sentimental, é tudo tão profundo e natural que é impossível não sentir vontade de abraçar as três irmãs. Imaginem estar no paraíso e de repente três anjos surgirem diante de vocês e começarem a cantar em harmonia "CRY NO MORE!"! As OG3NE irão arrasar sábado e quem sabe se não as veremos a disputar os lugares cimeiros. Uma atuação muito simples, focalizada nas vozes rigorosamente controladas e harmonizadas, vestidas com o mesmo tecido, mas de formas distintas. Olhem amigos, foi muito bom. Parabéns à Holanda por trazer, uma vez  mais, qualidade ao certame.

7. Joci Pápai - Origo (Hungria)




Fiquei felicíssimo por ver a Hungria no grupo dos apurados! Esta proposta tem muito que se lhe diga. A letra desta canção acaba por ser uma conversa entre Joci e uma entidade superior, onde ele se lamenta acerca de um amor proibido e refere aspetos religiosos, quase como se fosse uma oração. Isto sim é Eurovisão! É a cultura de uma etnia numa canção de 3 minutos. E em tão pouco canta-se e transmite-se tanta emoção, tanto sentimento, tanta paz. Faz-me lembrar a composição de "1944": uma batida eletrónica que canaliza a mensagem poderosa da canção, ao mesmo tempo que se ouvem sons tradicionais inteligentemente inseridos na canção. Adoro o dramatismo da dançarina, adoro a voz de Joci, adoro o facto de não ser em inglês... adoro, simplesmente. Passagem mais do que merecida.

8. Anja - Where I Am (Dinamarca)




Bom, a atuação de Anja foi praticamente igual à da final nacional da Dinamarca, a não ser o coro, que está menos apelativo, e umas pequeníssimas falhas vocais da Anja, mas que são completamente disfarçadas com a sua incrível voz angelical. Não é propriamente um tema que me fascine, mas não deixa de ser um tema agradável. Não aposto num grande resultado na final, mas a passagem foi merecia.

9. Brendan Murray - Dying To Try (Ireland)



Meus caros irlandeses, pensar que já dominaram a Eurovisão é no mínimo esquisito... este tema é desinteressante, é um lugar comum, chato, fraco... o intérprete? Técnica vocal incrível, mas o timbre não me convence. Não percebo a escolha deste cantor para representar o país. Nestas situações, o que fazer para tentar chegar à final? Ter um bom staging? Certo? Não! A solução é colocar um balão de ar quente em palco para ver se o rapaz voa bem alto... esqueceram-se que o recinto é fechado. Ficaram pela semifinal e muito bem. 

10. Valentina Monetta and Jimmie Wilson - Spirit of the Night (São Marino)



Isto claramente merceia a final, mas ando tudo surdo? A sorte é que a Valentina volta para o ano. Uma canção extremamente ritmada, que os meus avós adorariam ouvir numa disco para sexagenários! Um outfit de cortar a respiração, tanto o da Valentina como o do Jimmie. Um jogo de luzes a representar a qualidade, o expoente da alta tecnologia. Não entendo europeus... repito, a sorte é que para o ano temos a 5ª dose de Valentina... ou então não, porque já li por aí que eles vão desistir... e com muita pena minha, porque não vou poder aplicar mais ironia...   

11. Jacques Houdek - My Friend (Croácia)




Eu odeio este tema. Tirando a voz do cantor, que tem muita qualidade, tudo o que eu vejo nesta proposta é de um extremo mau gosto, desde as projeções, ao contraste de vozes, ao guarda roupa... sinceramente, acho uma passagem muito injusta, tendo em conta os países que ficaram para trás. Consigo perceber, no entanto, o porquê de ter conseguido apurar-se: por vezes o esquisito funciona! E, com isto, não estou a dizer que não goste de propostas esquisitas na Eurovisão, mas esta canção, simplesmente, não me entranha. Acho mau, acho de uma extravagância desadequada, uma valente confusão... por mim, tinha ficado enterrada na semifinal. É que passar a Croácia e não passar a Estónia dá-me ânsias de aniquilar alguém, mas já lá iremos...

12. JOWST - Grab The Moment (Noruega)



Todos os anos temos sempre que achar uma canção onde possamos depositar algum ódio. Este ano, a minha escolha recai sobre a Noruega. Eu acho este tema pavoroso! O tema não tem nenhuma direção, é muito aborrecido... sem dúvida alguma, a passagem mais injusta desta semifinal. Qualidade musical zero, não tenho como encontrar aspetos positivos neste canção. Para além disso, ainda consegue ser de um monotonia extrema. Os noruegueses que agradeçam ao avanço tecnológico, porque foram os efeitos tecnológicos que os puseram na final.

13. Timebelle - Apollo (Suiça)



Nunca gostei deste tema e depois de ver a prestação dos Timebelle passei a gostar ainda menos. Mas que raio tinha a delegação do país na cabeça para construir uma das atuações mais baratas e sem sentido deste ano? Até os agachamentos do ano passado conseguiram ser mais apelativos que o vestido da cantora, fazendo alusão a um canário. De facto a Suíça sabe como arruinar uma canção com algum potencial. Nota positiva para a voz da intérprete. Nota negativa para o resto.

14. Naviband - Story Of My Life (Bielorrússia)



E depois de uma série de prestações pouco conseguidas, eis que surge a luz da Bielorrússia para limpar os erros das candidatas anteriores! Que grande surpresa! Adorei esta aposta, os Naviband têm a melhor  química do ano. Uma performance simples, onde se provou que com pouco se pode fazer muito. Gosto bastante de quase tudo, desde a voz da cantora, ao barco simulado, às projeções, ao sentimento indie do tema. Aspeto menos positivo para a aprestação vocal do elemento masculino da dupla, que precisa de ser melhorada. Parabéns à Bielorrússia por trazer cultura à Eurovisão e celebrar a diversidade. Espero que fiquem no top 10 na final de sábado.

15. Kristian Kostov - Beautiful Mess (Bulgária)




E viajemos agora até à Bulgária, país apontado com um dos favoritos a vencer o certame. E, depois de assistir à atuação, percebe-se o porquê do favoritismo. Foi a melhor atuação desta semifinal! Planos de câmara muito bem conseguidos, uma prestação vocal incrível, uma canção muito bem produzida e cantada com muito sentimento. A Bulgária tem construído uma reputação no concurso e é ótimo ver países diferentes a serem bem sucedidos. Refira-se ainda que Kristian tem apenas 17 anos! Um futuro artístico muito promissor para este jovem. Muito boa sorte na final!

16. Fusedmarc - Rain Of Revolution (Lituânia)



Ao contrário da maioria dos eurofãs, eu não odeio este tema. Não estou, porém, a afirmar que a aposta merecesse um lugar na final! A Lituânia apresentou-nos uma proposta estranha, tanto a nível musical como a nível visual. A voz da intérprete é irritante, embora lhe reconheça talento vocal. Mas nesta aposta pouco convencional, o mais certo era mesmo ficar pela semifinal e justamente. Vê-se fogo a sair do piso do palco, vê-se algum carisma, mas, no final, ficou muito pouco para quem assistiu à atuação. É muito esquecível...

17. Koit Toome & Laura - Verona (Estónia)



E chegou o momento de expressar todo o meu descontentamento face ao destino desta canção na competição. Era mesmo necessário deixar a Estónia de fora dos finalistas? Alguém me explique o porquê da Noruega ter passado com uma canção de elevador e a Estónia, com um tema bem construído, melancólico e bem interpretado ter sido descartada. Aceito que digam que a atuação não foi das melhores. Mas daí a ficar fora da final? Parece-me atroz, sinceramente. Fico com muita pena de não ver o Koit e a Laura na final. Relativamente à atuação, gostei do guarda roupa, do facto de terem conseguido transmitir o verso "We are lost in Verona" em palco e do momento final, onde os dois trocam alguma cumplicidade. Vá-se lá entender a cabeça dos europeus...

18. IMRI - I Feel Alive (Israel)



E chegámos à última canção da noite, tendo Israel o papel de fechar as semifinais desta edição. O tema é eurovisivo, piroso e não muito interessante, mas é descomprometido e dançante e, como tal, mereceu a passagem à final. A prestação ao vivo também foi pirosa, o guarda roupa tenebroso, com uma pirotecnia no final, só para garantir a passagem à final. Este tema não me fascina, de todo, mas parabéns a Israel por ter alcançado a final.

E é isto. O desfile das canções chegou ao fim, os resultados foram revelados e conseguiram ser mais surpreendentes do que a não passagem da Finlândia na primeira semifinal. Foram encontrados então os 26 finalistas do ESC 2017 e um deles se sagrará o grande vencedor desta edição.


Esperança portuguesa?

Muito se tem falado sobre uma possível vitória portuguesa nesta edição do ESC 2017. Salvador e o seu tema "Amar Pelos Dois" têm feito um sucesso incrível dentro e fora de Portugal. Um verdadeiro fenómeno da internet e não só. Despertou novamente o interesse dos portugueses relativamente ao concurso e trouxe-nos de volta a esperança de ver o nosso país a ser amado pela Europa. Haverá algo que nos deixe mais orgulhosos? Obviamente que não! Sei que será difícil vencer, tendo em conta o favoritismo de Itália, mas há algo que já ninguém nos pode roubar: o orgulho e a emoção de ver uma das canções portuguesas mais bonitas a pisar o palco da Eurovisão. Salvador, sábado ama por dois, por três... por onze milhões de portugueses! E para terminar este especial, refiro uma frase que a Isabel Angelino proferiu antes da Vânia Fernandes ter pisado o palco da Eurovisão em 2008, na grande final: "Quem sabe se para o ano não seremos nós os anfitriões!". BOA SORTE SALVADOR! FORÇA PORTUGAL!

Vídeos e Imagens: eurovison.tv





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