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[Crónica] FC: um ano depois ficamos 'à espera das canções'


FC: um ano depois ficamos 'à espera das canções'
Retrospetiva ao Festival RTP da Canção 2015 

Já faz um ano desde o último Festival RTP da Canção. Um Festival marcado por regressos: Simone de Oliveira, Adelaide Ferreira e Sara Tavares (como compositora); pela tentativa de revitalização do certame e, como sempre, marcado por algumas polémicas. Leonor Andrade acabou por “levar a taça para casa”, no entanto em Viena não teve o melhor resultado. 

Este ano a estação pública portuguesa optou por não apostar no formato alegando falta de verbas. Em contrapartida, investiu em mais jogos de futebol. No geral não crítico este investimento. O futebol é o desporto rei, a maioria dos portugueses tem o seu clube de eleição mesmo que não acompanhe todos os jogos, nem que seja apenas para fazer a típica “conversa de café”.

Em 2017, o Festival regressa porque, se a estação optasse por continuar a não apostar no formato ele podia ir a concurso e ser comprado por outro canal de televisão, que talvez quisesse arriscar e transformar o evento. 

Voltando ao tema nuclear desta crónica, passado um ano penso que é importante relembrarmos o certame: o que correu bem? O que correu mal? Que soluções podiam ser adotadas?

Começo por recordar as canções e interpretes a concurso. A Rita Seidi teve das tarefas mais difíceis, sobretudo, por ser a mais nova do grupo. Abriu o concurso com ‘Lisboa, Lisboa’, um tema ‘worldmusic’ em que tudo funcionava na perfeição, mas que já se sabia, à partida, que não iria conseguir uma grande pontuação por não ser um género muito “comercializado em Portugal”. Nunca consegui perceber o tema de Gonçalo Tavares, não é atual e, muito menos, teria impacto em Viena (na minha humilde opinião…). Diana Piedade não teve um tema à altura do seu talento. A Adelaide Ferreira é das melhores intérpretes portuguesas, o instrumental utilizado também não ficou aquém das espetativas, pena ter sido eliminada tão cedo. O ‘Mal Menor’ de José Freitas foi um tema que nunca me cativou, provavelmente por não ser adepto desse género musical. Leonor Andrade venceu o certame com ‘Há um mar que nos separa’. Esta era já uma vitória previsível tendo em conta, não só, a notoriedade que a Leonor conseguiu no ‘The Voice’ como pelo estilo de música que apresentou. Uma canção Pop/ Rock bem ao estilo dos ‘Amor Electro’ que tantos fãs têm (e bem) no nosso país.

Rubi Machado foi, provavelmente, a única intérprete que passou completamente despercebida. Uma performance a medo, o som também não ajudou, por vezes, a própria letra também não era perceptível. Já o regresso de Teresa Radamanto ao Festival RTP foi bem conseguido, um tema com influências do fado, a voz estava perfeita e o resultado final demonstrou o bom desempenho da cantora. ‘Dança Joana’ foi uma agradável surpresa, o tema é energético e apesar de ter sido eliminado, precocemente, já conquistou o seu lugar no panorama musical português. Yola Dinis interpretou uma das canções mais fortes de 2015, no entanto o facto de ser, talvez, demasiado tradicional fez com que não conquistasse o primeiro lugar. Filipa Baptista apresentou um tema de Augusto Madureira, bastante diferente daqueles que o jornalista costuma assinar. A intérprete tem uma boa voz mas não acreditei que chegasse muito longe e foi isso que acabou por se verificar. Simone de Oliveira regressou ao certame com ‘À Espera das Canções’. Um tema que resguardou a intérprete, talvez até demasiado, não permitindo que a mesma demonstrasse a sua capacidade vocal (aos poucos que ainda não a conhecem). Quer se goste ou não, este foi o regresso mais aguardado. É impossivél falar-se do FC sem mencionar Simone de Oliveira. Era uma escolha certa, teria impacto…mas não foi essa a vontade dos portugueses.

Em 2015, a RTP começou um novo caminho no que diz respeito a este formato. Foram realizados esforços para que este voltasse a ser o programa de eleição dos portugueses. Um conjunto variado de compositores e de artistas, capaz de agradar a todos os públicos. A promoção do evento foi adequada. No entanto, o investimento das performances tanto a nível das projeções, jogos de luzes e pirotecnia ficou aquém do esperado. Vimos investimentos melhores em formatos de entretenimento emitidos pela estação. O facto de o FC ter sido realizado “à porta fechada” pode ter contribuído para a falta de entusiasmo do público, mas consigo compreender esta opção…o voltar ao tradicional. 

Este podia ser o caminho mais correto que, com o passar dos anos, podia aprimorar-se, mas voltou a ser interrompido.  Acredito que a estação tenha que fazer cortes, aliás, como todos os meios de comunicação… mas existem sempre outras opções que podiam contribuir para minimizar as despesas, até porque, políticas à parte, o certame não deixa de ser uma montra para o nosso país.  

Porque não uma escolha interna? Sim, é certo que causaria polémica, nunca iria agradar a Gregos e Troianos mas, de qualquer forma, é a realidade com que nos deparamos ano atrás de ano e, quem sabe, se não seria uma aposta ganha. O orçamento que se poupava na realização do concurso poderia ser aplicado na performance de modo a causar um maior impacto, neste caso, em Estocolmo. No entanto, para mim ainda existe outra opção que, talvez até pudesse ser a melhor: uma vez que o canal tem apostado tanto no programa de talentos ‘The Voice’, investimento esse que se refletiu em termos de audiências, porque não dar a oportunidade ao vencedor de representar Portugal na Eurovisão? Esta seria uma escolha que iria de encontro à vontade da maioria dos telespetadores e, convenhamos…a Deolinda arrasava no ESC 2016, só precisava de um tema à altura. 

Estas seriam apenas algumas sugestões possíveis que até podiam não ser compatíveis com a vontade dos fãs do certame ou mesmo com as regras da própria televisão…mas não é isso que está em questão. O que importa é que o Festival da Canção não caia no esquecimento, mas agora só em 2017 por isso, só nos resta acreditar que não vamos continuar ‘à espera das canções’. 

Reveja a última participação de Portugal no ESC:


Imagem: eurovisionworld.com/Vídeo: Eurovision Song Contest 
07/03/2016

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