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Na Luta Contra o Preconceito - Doenças físicas e psicológicas



DOENÇAS FÍSICAS E PSICOLÓGICAS


Todos já ouvimos falar de “Eurovisão”. O Festival Eurovisão da Canção é o concurso televisivo de música predilecto dos europeus – dos pretos, dos brancos, dos heterossexuais, dos gays, das lésbicas, dos transsexuais. No fundo, de todos nós.

Por isso, nesta rubrica não discorremos apenas sobre o preconceito que envolve a aparência física e as cores da pele ou as orientações sexuais dos concorrentes, mas também sobre o preconceito existente para com quem sofre de – estas sim – patologias, nomeadamente alguns artistas que participam no Festival Eurovisão da Canção.

Porque é que um artista com uma doença física aparente vai ao Festival Eurovisão da Canção? Bom, porque pode. Porque, como qualquer indivíduo que tem a necessidade de se expressar e que faz, ou pretende fazer disso carreira profissional, também quer tentar a sua sorte no reputado concurso europeu. E isso não é algo assim tão incomum quanto a pessoa que vê o eurofestival de vez em quando possa pensar. 

Posto isto, podemos perguntar: será que o facto de um país levar um artista que sofre de uma doença física faz com que o país tenha melhores resultados? Ou será que isto surte o efeito inverso – a nação é prejudicada devido à diferença? Mais: será que já houve ou há um aproveitamento desta condição pela parte das emissoras?

Se percorrermos a história eurovisiva, poderemos verificar que em 1992 e em 2000 as canções “Todo Esto es la Musica” e “Colgado de un Sueno” foram cantadas por um artista cego, de nome Serafin Zubiri. Pois é, aqui tivémos duas boas canções (a primeira bem mais orelhuda que a segunda) que, se olharmos para a tabela classificativa, não obtiveram grandes resultados. Algo semelhante sucedeu com duas outras artistas que sofrem do mesmo problema: em 2002, a alemã Corinna May, que levou ao palco de Tallinn a animada “I Can't Live Without Music” – uma canção ainda hoje bem recordada pelos fãs eurovisivos. Já em 2008, foi a vez de Diana Gurstakaya representar a sua nação, a Geórgia, com uma canção sobre a temática utópica da paz, a paz mundial que todos parecemos perseguir, tornando, por isso, “Peace Will Come” numa canção paradigmática do Eurofestival.



Passou à Final Diana Gurstakaya devido à sua doença? Cremos que não. Aliás, basta olhar para a sua performance (e para a semifinal em questão) para perceber que realmente a Geórgia tinha uma boa entrada. A classificação final foi um honroso e merecido 11ºlugar. Já a Alemanha, em 2002, quedou-se no 21º posto.



Mas as participações eurovisivas de artistas com deficiências não se esgotam aqui. De facto, se houve ano em que o Festival Eurovisão da Canção teve mais projecção devido a este tipo de problemas foi precisamente no ano de 2015. Não podemos passar ao lado de três nações que no mesmo ano enviaram três entradas com três artistas com distintas patologias.

No Reino Unido foram escolhidos por selecção interna o duo Electro Velvet com “Still in Love with you”. O elemento feminino, Bianca Nicholas, nunca escondeu que sofre de fibrose cística, uma doença que afecta os pulmões e o sistema digestivo caso se não tome as precauções necessárias diariamente. No entanto, isso nunca a parou – e apesar de ser uma doença que pouco ou nada se vê em palco, podemos afirmar que não foi por isso que o Reino Unido terminou com melhor pontuação.


A Finlândia foi o caso mais mediático. Assim que foi revelado que a banda Pertti Kurikan Nimipäivät representaria o país no Festival Eurovisão da Canção, os Media e os fãs entraram em rebuliço. A música Rock mais curta de sempre no certame – o estilo musical com menos sucesso que mais vezes é enviado ao ESC – não conseguiria alcançar mais do que o 16º lugar (ou último) com apenas 13 pontos. E parece-nos óbvio que este resultado foi baixo, mais uma vez, não devido ao facto de os artistas sofrerem de Síndrome de Down e de autismo, mas devido à própria proposta apresentada. Como já foi referido, o género musical não a favoreceu no Festival Eurovisão da Canção; a performance foi pouco dinâmica e a canção era, no geral, fraca. O júri e o televoto não perdoaram!


Finalmente, chegamos ao exemplo mais controverso. Este ano tivemos, pela primeira vez no palco eurovisivo, uma artista paraplégica, a polaca Monika Kuszyńska, que interpretou “In the Name of Love”, uma terna balada com uma letra que relatava o que se via em palco: uma mulher que ultrapassou de frente os obstáculos que a vida lhe colocou. Apesar de não ser uma das canções favoritas dos eurofãs (nem uma das melhores canções da Polónia ou da edição de 2015, diga-se de passagem), a entrada conseguiu qualificar-se para a Final num modesto 8º lugar – à frente de “Adio”, de Knez (cuja interpretação na Final resultaria no melhor resultado de sempre para o Montenegro), e da música azeri, “Hour of the Wolf”, de Elnur, que conquistaria o 12º lugar, ultrapassando o Montenegro por uns escassos cinco pontos.

Dado que apenas metade dos países a concurso podem votar numa semifinal, esta diferença não seria de estranhar – caso os LED no próprio palco não mostrassem imagens da artista em palco antes de ter sido vítima do acidente que a fez ficar numa cadeira de rodas. Concordo e subscrevo, portanto, a posição de Ramón Galarza no programa da RTP, A Voz do Cidadão, quando fala de um aproveitamento do acidente da artista para ganhar votos no Festival Eurovisão da Canção. Um aproveitamento pela parte da emissora polaca que ganhou uma batalha, mas ficou longe, muito longe de ganhar a guerra.

Monika conseguiu o apuramento, é certo, mas à semelhança dos casos anteriores, a canção não foi bem-sucedida no cômputo geral (23º lugar com apenas 10 pontos). Ou seja, o público e os “especialistas” preferiram votar em canções mais orelhudas ou em baladas mais potentes e deixaram, mais uma vez, uma das piores canções da Final para trás.


Através desta breve análise, o que poderemos concluir? Bom, para além do facto de as canções levadas por artistas com algum tipo de deficiência serem, maioritariamente, canções que não se destacam no lote pela sua qualidade, podemos verificar que os artistas não saem favorecidos (e tendo em conta o argumento anteriormente apresentado), nem tão pouco prejudicados pela sua condição. 

Assim sendo, podemos afirmar que o que importa no Festival Eurovisão da Canção é, mais do que a diferença entre o corpo ou traços psíquicos dos artistas, a performance e a canção. Neste concurso, a diferença é aceite, normal e constitutiva do que se tornou o Festival Eurovisão da Canção: um espaço aberto no qual qualquer indivíduo se pode expressar. Por mais diferente que alguém seja numa sociedade que em pleno século XXI ainda discrimina na rua, na escola, no trabalho ou até nos meios artísticos, não deixamos isso acontecer aqui – no nosso palco – porque simplesmente nos colocamos todos ao mesmo nível. ISTO é a Eurovisão.

Nós somos contra a discriminação, e tu?:



Vídeos: Eurovision.tv
20/12/2015

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