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ESPAÇO FÃ - CRÓNICA DE PEDRO SILVA!



        A iniciativa "Espaço Fã"  continua e, desta vez, Pedro Silva presenteia-nos com uma crónica sobre se Portugal um dia irá ganhar a Eurovisão! Para este fã a Eurovisão é o seu universo, sem ela não consegue viver e toda a música que ouve é da exclusividade eurovisiva! 


             Crónica sobre se Portugal irá ganhar alguma vez a Eurovisão
        Quando Portugal bateu à porta da Eurovisão, em 1964, a RTP escolheu os seus eleitos entre as vozes "instituídas" do momento. António Calvário regressou de Copenhaga com zero pontos, num tempo de atrito político, com direito a manifestação em plena plateia (cartazes anti-salazaristas foram evitados pelas câmaras). Com os anos, o certame afirmou-se como um momento chave para o lançamento de canções, revelação de talentos, consagração de veteranos.
            Entre finais de 60 e inícios de 80, o Festival da Canção, e sobretudo a sua vencedora com passaporte eurovisivo, tinha entrada garantida nos ouvidos portugueses. As canções geravam fenómenos discográficos, a agenda editorial vergava-se ao certame, o single era o formato de referência festivaleira e muitos foram os que conheceram verdadeiras histórias de sucesso, a «Desfolhada», de Simone de Oliveira (1969) (que ganhou a Eurovisão, mas os espanhóis subornaram os júris europeus para impedir a vitória portuguesa), ao «Grande, Grande Amor», de José Cid (1980), do «Vento Mudou», de Eduardo Nascimento, (1967) à «Flor de Verde Pinho», de Carlos do Carmo (1976), da «Menina, do Alto da Serra», de Tonicha (1971), à «Tourada», de Fernando Tordo (1973). Não esquecendo «E Depois do Adeus», de Paulo de Carvalho (1974), canção que acabaria inscrita na história portuguesa, embora num outro capítulo, ao assumir o papel de primeira senha de rádio para o 25 de Abril.
            Nos idos de 60 e 70, a importância do Festival da Canção no mercado do disco era tal, que, além dos vencedores, outros candidatos não triunfantes também faziam carreira. Cavalo à Solta, Flor sem Tempo, Corre Nina, tantas... Em 1981, o «Ali Babá», das Doce (que acabou o concurso português em quarto lugar), foi um dos singles mais vendidos do ano. Vendeu 35 mil cópias, o maior volume de sempre de vendas de um disco associado ao Festival da Canção.
         Em meados de 80, perante a descoberta de um novo fenómeno editorial junto do então explosivo espaço pop/rock para consumo português, o mercado discográfico deixou de ver no Festival da Canção o seu «ai Jesus!» anual. Aos poucos, as grandes revelações começavam a surgir fora deste velho circuito, os veteranos deixavam de compor para o festival, os estabelecidos evitavam concorrer. Os anos 90 ainda conseguiram ver no Festival da Canção um espaço de rampa de lançamento de talentos (sobretudo vocais): Dulce Pontes (1991), Anabela (1993), Sara Tavares (1994) e Lúcia Moniz (1996) conheceram neste palco a sua prova de fogo e definitiva afirmação no meio. Mas a última vez que o mercado conheceu um single eurovisivo foi em 1995 com Tó Cruz. A Vidisco assegurou, em 1997 e 99, a edição dos álbuns dos vencedores dos respectivos anos. Sem impacto... A própria RTP deixou de ver aqui um cartaz atraente e durante muito tempo alheou-se. Hoje o Festival da Canção (de à 40 anos) já nem existe!
            Europa fora, longe do cenário lusitano, os festivais locais ainda proliferam. E acabam, aqui e ali, por gerar candidatos fortes à Eurovisão. Na minha opinião acho que programas como a Operação Triunfo e os Ídolos têm revelado cantores, mas falta um festival de canções que revele autores e compositores. Contam-se pelos dedos das mãos os bons autores e compositores, e aí reside de facto um dos problemas maiores da recente relação deficitária das embaixadas portuguesas à Eurovisão; aliás o festival é importante para mostrar o que de novo se está a passar em Portugal. Mas será que o que tem de facto acontecido em Portugal tem conhecido exposição nos festivais dos últimos anos?
            Neste momento assistimos, na Eurovisão, a uma redescoberta das músicas locais (com resultados positivos sobretudo a Leste). E não seria o fado um eventual valor acrescentado para uma candidatura à vitória portuguesa no futuro? A resposta parece-me óbvia! A direcção da RTP tem de reconsiderar aquilo que está a fazer, o fado (também com violoncelo e adufe) é a música portuguesa mais conhecida no mundo, a partir daqui muitas podiam ser boas apostas (Mariza, Ana Moura, Carminho, entre outras). Resumindo e concluindo: O Festival da Eurovisão é hoje o herdeiro decadente do que foi, há algumas décadas, um "acontecimento" televisivo. Mesmo assim, a última edição mobilizou centenas de milhões de telespectadores. Este "campeonato" de canções digestivas seguiu o sinal dos tempos, acompanhando a conquista do Leste que a Europa política, televisiva e dos negócios empreendeu após a queda do Muro de Berlim. Os concorrentes copiam um modelo universal e, na maioria, adotam mesmo a língua franca do género, o inglês. Para um euro - entusiasta, é o triunfo da ideia de uma Europa unida, ainda que à custa do bom estado dos tímpanos. Repare-se que os países concorrentes fazem parte da União Europeia, ou querem fazer, ou não se importavam de a ela ficarem associados.

          Isto tem assim tanta importância? Talvez não. O que é significativo aqui é que, à primeira oportunidade, os cidadãos voltam-se para os seus vizinhos e não para essa Europa cuja ideia mítica parece hoje muito afastada. Não basta que Nicolas Sarkozy ambicione ser o novo Jean Monnet. De cada vez que ele diz isso, há mais dois países (agora são a Suécia e a Polónia) que reivindicam para eles um estatuto idêntico à da nebulosa União para o Mediterrâneo.
            Se a Alemanha que nos últimos anos fez-se representar por músicas desinteressantes e em 2010 ganhou a Eurovisão, se a Finlândia fica (quase) sempre em último lugar e ganhou em 2006, porque não Portugal?
            Um dia ganharemos a Eurovisão? A resposta parece-me óbvia!!!

Fonte: Crónicas de Eurofestivais e Pedro Silva/Imagens: Google 

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