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Na Luta Contra o Preconceito - Eurovisão e a comunidade LGBTI

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EUROVISÃO E A COMUNIDADE LGBTI

A Eurovisão deixou de ser, há muito tempo, um evento puramente musical. Em jogo estão agora, entre outras, questões políticas, sociais e económicas. Como seria de esperar, e subjacentes a estas questões, estão muitos preconceitos e, consequentemente, atos discriminatórios. Estes atos prejudicam o evento, não só por impedirem a “construção de pontes” entre eurofãs, mas também por cercarem a Eurovisão de medo e opressão. Hoje vamos falar de dois tipos específicos de discriminação: homofobia e transfobia. Quando referimos estes termos, decerto que muitos exemplos surgem nas nossas mentes, mas comecemos pelo início, até porque não é segredo a forte ligação da comunidade homossexual à Eurovisão. Esta já organiza festas para assistir à Eurovisão há anos, tendo os primeiros clubes de eurofãs com estreitos laços LGBTI surgido na década de 1980… E esta tendência só tendeu a aumentar nas décadas posteriores. 

Embora exista uma vasta comunidade LGBTI que segue o evento, este também conta com histórias onde esta comunidade sofreu de atos discriminatórios, tendo sido prejudicada e duramente criticada. Dana e Conchita são nomes que exemplificam bastante bem o sucesso manchado pelo ódio, onde a liberdade conseguiu triunfar mesmo perante pressões políticas. No entanto, até estas Divas terem ascendido ao palco eurovisivo, muita história já havia corrido e, por isso, comecemos a percorrer a história eurovisiva.

Em 1997, o cantor pop islandês Paul Oscar tornou-se no primeiro participante eurovisivo assumidamente homossexual. Paul interpretou o tema "Minn hinsti dans" ("A minha última dança"), numa atuação bastante ousada, à qual nem um sofá faltou. O arrojo não foi bem recebido, tendo o comentador da BBC, Terry Wogan, intitulado a participação islandesa como "o momento pelo qual as aberrações de PVC têm estado à espera desde que a noite começou", numa sátira à indumentária utilizada durante a atuação. Qual foi o resultado? Aparentemente os jurados não gostaram, e a Islândia terminou no 20º lugar, entre 25 participantes. Terá a homossexualidade de Paul condicionado este resultado? Segundo muitos eurofãs esta atuação estava 10 anos à frente do seu tempo, pelo seu arrojo. Curiosamente (ou não!), palavras como “peculiar”, “arrojado” e “ousado” costumam estar muito associadas a atuações LGBTI eurovisivas, sinal de que ainda temos uma cultura bastante convencional enraizada. 


Nem só de maus resultados se fazem as participações LGBTI na Eurovisão. Uma das mais reconhecidas mulheres transsexuais a nível global, Dana International, venceu o Festival Eurovisão da Canção em 1998 com o tema “Diva”. Mas nem tudo foram rosas, bem pelo contrário! Quando, após muita persistência, Dana foi selecionada para representar Israel, surgiram muitas manifestações de desagrado por parte de judeus ortodoxos, que chegaram a realizar manifestações contra a participação de Dana e a enviar-lhe mensagens de ódio (incluindo ameaças de morte). As mensagens perpetuaram-se, e mesmo após a vitória, Dana continuou a sofrer “na pele” as consequências de se ser “diferente”, chegando a recorrer a serviços de segurança para se proteger. Dana sabe, e muito bem, o que é ter uma parte do seu próprio país que a rejeita, mesmo após ter conquistado um troféu em representação da sua nação. Aparentemente, e para algumas pessoas, o ódio consegue “falar mais alto” do que o patriotismo. 


Quem conhece, e muito bem, o que é estar na “pele” de Dana é Conchita Wurst. Quem não se lembra dos comentários negativos, vindos de políticos de Leste, à participação de Conchita? Pois bem, nem este cenário, repleto de cruéis ataques verbais, vindos de vários países da Europa de Leste, impediu a vitória austríaca, que recebeu pontuação máxima de 13 países, incluindo Rússia, Albânia e Azerbaijão. Irónico, não? Nem mesmo Portugal escapou a esta febre de preconceito. A Eurovisão passou a ser notícia, não por conta da notável capacidade vocal de Conchita, mas pelo facto de uma artista drag ter vencido um concurso musical. A barba ganhou mais destaque do que a música, e assistimos a uma avalanche de comentários “pseudohumorísticos”, que fomentaram a homo e transfobia. 


Falando ainda de vitórias, não podíamos esquecer a participação da sérvia Marija Serifovic em 2007, mesmo que interpretada no “armário”. A atuação foi bastante comentada, não só pela qualidade do tema, mas também pela aparência da intérprete, com bastantes insinuações referentes ao género da mesma. Marija assumiu-se como lésbica num documentário em 2013 e, desde então, permanece envolvida na política, pedindo frequentemente uma atitude mais tolerante para com a comunidade LGBTI da Sérvia – ainda terá uma dura luta pela frente!


Segundo as normas, é proibido, na Eurovisão, que os participantes façam qualquer tipo de declaração política durante as suas atuações. No entanto, alguns artistas têm desafiado esta proibição, como foi o caso da cantora finlandesa Krista Siegfrids, que marcou a interpretação da sua música "Marry Me" em 2013 com beijos lésbicos, deixando em pulveroso os debates políticos europeus sobre o casamento homossexual. Quem seguiu o exemplo da finlandesa Krista foi a Lituânia em 2015, com beijos lésbicos e gays entre os seus backing vocals – haja diversidade. Existiram protestos, afirmando que a Eurovisão é um programa familiar, tendo Viena respondido com mais beijos homossexuais, alguns deles até protagonizados pelos espectadores – até porque os homossexuais também têm famílias, e beijos ainda não constituem crime.


Desengane-se quem considera Krista uma pioneira nas questões dos beijos homossexuais! Não podemos deixar de atribuir o mérito aos Ping-Pong (Israel, 2000), com o polémico beijo entre dois dos seus integrantes masculinos. Beijo gay, apelo à paz, bandeiras à mistura, e os Ping-Pong foram abandonados à sua mercê, tendo custeado a sua própria participação eurovisiva. Mais uma vez, Israel voltou costas aos seus representantes, por conta do ódio e da guerra (que acabam por se sinónimos, não?).


Embora não tenha resultado num beijo lésbico, a atuação das t.A.T.u foi das que mais gerou polémica, uma vez que a dupla costumava preencher as suas atuações com miniespectáculos pseudoeróticos. A dupla tanto foi advertida, que acabou por apresentar uma atuação contida, tendo surgido em palco de mãos dadas, que devia ser o máximo de intimidade permitida... Lembram-se daquele longo beijo em 1957? Isso era só para heteros! Mesmo com toda a polémica gerada, não só pelo suposto (forjado!) lesbianismo, mas também pela rudez das cantoras, estas saíram com um honroso terceiro lugar. 


Existem mais participações que merecem ser referidas, não só pela ousadia, mas pela discussão que espoletaram. O trio Sestre representou a Eslovénia na Eurovisão em 2002, tendo os seus integrantes atuado vestidos como comissárias de bordo. Esta participação não gerou muito consenso, tendo suscitado uma onda de protestos anti-gay na Eslovénia, com manifestações nas ruas de Ljubljana. Os protestos chegaram ao Parlamento esloveno e à própria União Europeia, não tendo, no entanto, surtido grande efeito. Outra interpretação extravagante coube a DQ em representação da Dinamarca em 2007. Aparecer em palco com um vestido rosa berrante e penas não é para todos, e embora não tenha alcançado a final, o tema tornou-se num hit junto da comunidade gay. Muitos apontam este mau resultado ao facto de DQ ter enfrentado uma concorrente direta, Verka Serduchka da Ucrânia, que tinha uma atuação mais extravagante e memorável. 


Mesmo com todos os incidentes descritos anteriormente, a Eurovisão procura ser cada vez mais um espaço de aceitação (que o digam os semáforos de Viena), no entanto, não nos devemos esquecer dos protestos anti-gay, dos cantores que têm de esconder a sua orientação sexual, e dos comentários preconceituosos que frequentemente se encontram nas redes sociais ou que são referidos por políticos. Estes maus exemplos fizeram da Eurovisão um evento mais maduro, que procura aprender o valor da tolerância, e proporciona um espaço livre, onde os seus fãs podem expressar a sua individualidade sem receios. Quando ligamos a TV para assistir à Eurovisão, e temos planos de câmara com casais homossexuais a trocar afetos, percebemos que a Eurovisão deixou, efetivamente, de ser um simples concurso musical, e passou a desempenhar um papel preponderante na sociedade. Como eurofãs podemo-nos sentir livres e orgulhosos por pertencermos a uma comunidade que ultrapassa preconceitos e onde artistas trans vencem pressões políticas… Um evento onde a música tem notas de liberdade. “We are unstoppable”!

Nós somos contra a discriminação, e tu?:



Vídeos: Eurodictionary, cafusia, Eurovision.tv, escbelgium4, EurovisionFanTV, webuvision
29/11/2015

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FBI Eurovisão - Segundo texto: Ping-Pong pagaram pelo apelo à paz (2000)

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Atenção! Chamem a FBI Eurovisão, ou calem-se para sempre! Neste artigo irão ser apresentados casos e conspirações, que, apesar dos anos, nunca foram concluídos. Muitos deles nem investigados! Será a Eurovisão um concurso musical exímio ou um evento carregado de politiquices?

Para os mais esquecidos, 2000 foi um ano triste para os eurofãs portugueses, dada a nossa ausência no modernizado palco sueco. No entanto, a inovação não esteve só no cenário, algumas das performances foram, no mínimo, arrojadas, contando com índios e tambores. A Dinamarca “limpou” o concurso, e a polémica ficou em mãos israelitas.

Após dois anos da vitória da emblemática Dana International, os Ping Pong quiseram também chamar a atenção, e também por boas razões. Em 2000, Israel e Síria estavam em guerra, e a delegação israelista decidiu incluir nos ensaios bandeiras sírias, como se estivesse a promover a paz entre os dois países. Porém, o resultado/efeito não foi o mais animador...

A performance gerou uma azáfama tal que a emissora israelita, responsável pela transmissão eurovisiva, renegou o próprio tema. Como cada ação tem a sua consequência, o revolucionário grupo foi obrigado a cobrir as suas despesas decorrentes da participação eurovisiva, tendo o presidente da emissora israelita referido que estes não iriam representar Israel, apenas “a eles mesmos”.


O tumulto começou aquando dos ensaios, onde os Ping-Pong deram a conhecer as suas ideias para a apresentação do tema – nomeadamente, o aceno das polémicas bandeiras, além de realizarem gestos polémicos com pepinos e protagonizarem um beijo homossexual. Segundo o, na altura, diretor artístico da banda e responsável pela coreografia: "Assim que descemos do palco, os faxes começaram a chegar vindos de Israel a dizer para não aparecerem com as bandeiras de Israel e da Síria". Como seria de esperar, a banda recusou o pedido e chegou a arriscar a desqualificação.

Para os Ping-Pong o tema retratava o amor e a paz, tendo usado as bandeiras como mote, dados os confrontos entre os dois país. No entanto, para muitos estas bandeiras representavam um ultraje, que era potenciado pelo resto da atuação.

Nas palavras dos intérpretes, a música e a letra representavam os ideais israelitas, bem como a vontade de não continuar a guerra com a Síria. E que tudo isto se tornou uma mera jogada política contra eles: "Nós representamos um novo tipo de Israel, que quer ser normal e ter paz. Queremo-nos divertir e não ir para a guerra, mas a ala direita não está feliz com este assunto", afirmou um dos elementos da banda. Sendo ou não uma canção que representa a nova mentalidade do povo israelita, o que é certo é que a música conseguiu atingir os lugares cimeiros das tabelas musicais do país, e tornou-se das mais vendidas desse mesmo ano.


Mas afinal quem tinha razão? Cada um deve ser responsável pelos seus atos, e foi a emissora israelita que escolheu os Ping-Pong como representantes. Embora não soubesse qual o rumo que estes dariam à sua atuação eurovisiva, o facto de os sancionaram, obrigando-os a custear as suas despesas, não iria apagar das nossas memórias a sua atuação, muito menos a sua associação a Israel. Esta participação foi tão marcante que, em 2006, foi divulgado um documentário intitulado "Sipur Sameach", no qual é relatada a viagem da banda à Suécia.

Muitos dirão que a Eurovisão não é espaço para politiquices, nem gestos obscenos, ou até beijos homossexuais, mas qual terá sido o principal fator potenciador da reação da emissora israelita? Terão sido somente as bandeiras, ou terá sido todo o arrojo da atuação?

O que é certo é que desde a participação dos Ping-Pong, Israel nunca mais foi o mesmo na Eurovisão em termos classificativos. Enquanto na década 80 e 90, era um país habitual no top 10, nos últimos dez anos falhou cinco idas às finais e o melhor resultado foi dois nonos lugares, em 2008 e em 2015.

Não perca, na próxima semana, um novo mistério eurovisivo...

30/09/2015
Imagem: Abc.net.au/Vídeo: 2000ESC2003

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