1998 – A Alma Lusa e a polémica Dana International
Como é dito pela TV7Dias, desde 1964 que o Festival RTP da Canção vem sendo o acontecimento musical mais importante da música ligeira portuguesa, como também o lançamento das nossas canções para a Europa. “Para além de um desfilar de cantigas, este evento tornou-se um desafio à criatividade e ao talento, revelando cantores, autores e compositores nacionais", escreveu a publicação.
Tudo começou com a vitória de António Calvário, com a sua “Oração”. Trinta e cinco anos depois, coube ao palco do Teatro São Luiz ser o trampolim para a Eurovisão de 1998.
Como é dito nesta edição da revista, 60 profissionais, incluindo operadores de câmara, técnicos de som, iluminadores, aderecistas, técnicos de montagem, eletricistas e pintores, foram contratados pelo canal público para que, na sua noite de aniversário, tudo corresse pelo melhor.
O cenário foi da responsabilidade do arquiteto Conde Reis, sendo que este foi buscar inspiração à simbiose entre a flauta dos Andes e os órgãos tradicionais das igrejas.
A apresentação ficou a cargo de Carlos Ribeiro e de Lúcia Moniz, que foram vestidos, tal como os intérpretes, pelo costureiro João Carlos.
A lista de concorrentes foi a seguinte:
Canção nº1 - Uma Lua em cada Mão – Sofia Barbosa
Canção nº2 - Saudade que Eu Sou – Carlos Évora
Canção nº3 - Só o Mar Ficou – Teresa Radamanto
Canção nº4 - O Encanto da Sereia – Ana Isabel
Canção nº5 - Basta só um Olhar – Ana Rita
Canção nº6 - Aqui ou Além – Janot
Canção nº6 - Aqui ou Além – Janot
Canção nº7 - Só, à Tua Espera – Axel
Canção nº8 - Se Eu Te Pudesse Abraçar – Alma Lusa
As novidades na votação estiveram no júri de pré-seleção, o que levou a uma aproximação das canções às editoras. Quanto à votação final, houve um painel de jurados com cinco elementos, que decidiram, no local, qual seria a votação correspondente a cada concorrente, constituído por Paulo de Carvalho, Sara Tavares, Nuno Galopim, Maria do Rosário Domingues e João Filipe Barbosa.
Carlos Évora (depois conhecido por CC) foi escolhido, com quatro votos, como Melhor Intérprete. Quanto ao troféu para o Melhor Tema a concurso, este foi escolhido por unanimidade do júri. "Se Eu Te Pudesse Abraçar" foi a canção escolhida para representar Portugal. Uma canção com letra e música de José Cid e orquestrada por Mike Sargeant e interpretada pelos Alma Lusa, grupo formado única e exclusivamente para interpretar a canção no festival.
Os membros deste são a vocalista Inês Santos, conhecida do grande público por ter encarnado o papel da artista internacional Sinead O’Connor no programa "Chuva de Estrelas", Carlos Jesus na guitarra, Henrique Miguel no sintetizador, José Triguinho na percussão, Carlos Ferreirinha no cavaquinho e Pedro Soares na gaita-de-foles.
Entre os momentos de animação no festival, tivemos uma homenagem a Vasco Santana, onde pequenos excertos de filmes do ator antecederam cada canção a concurso, e um pequeno espectáculo de Filipe La Féria, que reviveu clássicos da comédia como Charlot e a dupla Laurel & Hardy, num estilo revisteiro.
O autor da música vencedora, José Cid, admitiu gostar muito mais desta canção do que daquela que cantou dezoito anos antes, afirmando que essa era uma “canção de plástico”.
Um dia antes da realização do Eurofestival, numa entrevista cedida ao Diário de Notícias (DN), Inês Santos admitiu que a presença na Eurovisão já mudou a sua vida. “Passei a ser mais reconhecida pelo público e pelos colegas, e tenho cada vez mais trabalho”, reconhece a vocalista dos Alma Lusa. O que significa que, independentemente do resultado que iria obter, a Sinèad O’Connor portuguesa estaria já a esboçar uma carreira segura, com cada vez mais exposição mediática. Comparando os dois canais pelos quais foi lançada, a RTP e a SIC, Inês afirmou que “O Chuva de Estelas foi o primeiro amor, mas há grandes diferenças a nível da produção. A RTP tem de levar uma grande volta… Está com falta de energia.”
Na mesma publicação, mesmo sem afirmar porquê, estava escrito que José Cid estava descontente com o protagonismo assumido por Inês Santos em Birmingham.
Dada a vitória de Katrina And The Waves, em 1997, o festival este ano realizou-se em solo britânico. Mais concretamente em Birmingham, na National Indoor Arena. A apresentação ficou a cargo de Ulrika Jonsson e Terry Wogan. O comentador português escolhido foi Rui Unas.
No que toca a termos técnicos que asseguraram o desfile dos 25 países a concurso, foram disponibilizados pela organização 10 carros de exteriores, que asseguraram a emissão, que foi feita para 33 países europeus, mais a Austrália, o Canadá e a Coreia, 13 câmaras no interior e duas no exterior, para garantir que tudo iria ser emitido ao pormenor. Soma-se a isto um milhão de watts de luz, um centro de imprensa com 400 lugares e três ecrãs gigantes, cerca de 32 quilómetros de cabos, 200 linhas telefónicas e 40 cabines para comentários – 28 destinadas à televisão e 12 para rádio.
Como afirmou o Sunday Times, referido pelo DN, o Festival Eurovisão da Canção voltou a ser “cool”. Isto deveu-se à participação de alguém transexual no concurso, Dana International, a participante israelita, um dos nomes mais badalados neste ano. O discurso depreciativo está muito presente nesta notícia, sendo que afirmam que “Diva”, canção que Dana iria apresentar era a mais “pimbóide que o certame este ano apresenta”.
Este é referido como o ano do televoto, sendo que iria ser o televoto (à exceção da Irlanda e Hungria) a escolher quem ganha. Curiosamente, é referido pelo jornal que cada voto por parte dos portugueses teria um custo de 40 escudos.
Dana International foi a vencedora do festival, com o tema “Diva”. Fez jus ao “escândalo” que foi a sua participação na Eurovisão e instalou ainda mais escândalo. A sua vitória fez desencadear uma “guerra santa entre laicos e religiosos na pátria dos judeus”. O que acontece é que ninguém ficou indiferente a esta vitória, elevando a Eurovisão a outro nível.
Nascida Yarom Cohen, Dana fez correr tinta pelos jornais de todo o mundo. O seu triunfo não caiu bem aos israelitas mais conservadores, que não se conformaram facilmente com o facto de terem sido representados por uma transexual. Houve mesmo grupos radicais a ameaçarem a cantora de morte, depois da sua vitória.
Portugal ficou a alguns pontos da presença garantida em Israel no ano seguinte, visto que precisava de 55 pontos para isso acontecer e apenas somou 37, quedando-se pelo 13º lugar.
Os portugueses, na primeira edição onde foi utilizado o televoto, também escolheram Israel como o justo país vencedor, numa votação apresentada por Lúcia Moniz.
Os Alma Lusa, que supostamente estavam a concorrer para mostrar o que era a boa música portuguesa, aparentemente ficaram revoltados com o resultado. A angústia de Henrique Lopes levou-o mesmo a comparar a Eurovisão ao Circo Cardinali. Já Inês Santos comentou que a semana passada no Reino Unido foi uma experiência memorável.
1999 – Portugal deu Bandeira na Eurovisão
Como já vem a ser habitual, um júri de pré-seleção, desta vez constituído por Nuno Figueira e Paula Velez, da RTP, o maestro José Marinho, diretor musical do Festival, a cantora Anabela e o radialista Armando Carvalheda, apuraram as oito canções para a final do 36º Festival RTP da Canção. Este realizou-se no dia 8 de março de 1999, no Parque das Nações, mais especificamente na Sala Tejo do Pavilhão Atlântico.
O Festival RTP da Canção de 1999 teve como apresentadores Manuel Luís Goucha e Alexandra Lencastre. Esta foi uma edição marcada pela maior dimensão da sala, o que teve resultados no número de convidados, sendo que lá estiveram muitas figuras públicas e comunicação social. Contudo, o público parecia já não ter interesse em assistir ao Festival.
A lista de canções foi a seguinte:
Canção nº1 - Uma parte de mim – Tempo
Canção nº2 - Tu e Nós – Liliana Pinheiro
Canção nº3 - Romanzeira – Francisco Ceia
Canção nº4 - Como Tudo Começou – Rui Bandeira
Canção nº5 - Menina Alegria – Sofia Froes
Canção nº6 - Ser o Que Sou – Célia Oliveira
Canção nº7 - Sete Anos, Sete Dias – Tó Leal
Canção nº8 - No Cais da Solidão – Filipa Lourenço
No decorrer do programa, durante a primeira parte, foram apresentadas as oito canções a concurso. A seguir ao primeiro intervalo, o espetáculo regressou com uma homenagem a Zeca Afonso, apresentada por Irene Cruz, com momentos de dança, declarações do cantor, vídeos da época e momentos musicais a cargo de Filipa Pais, Vitorino, Janita Salomé e Sofia Varela.
Para além disso, e como já vem a ser habitual nas edições, a RTP comemorou também o seu 42º aniversário.
A vitória foi para o intérprete masculino Rui Bandeira, que arrecadou um total de cinco mil contos – um incentivo para descobrir novos artistas, como anunciou Alexandra Lencastre -, e um passaporte para Israel. Viana do Castelo, Bragança, Porto, Viseu e Funchal foram os sítios de onde os júris correspondentes pontuaram “Como Tudo Começou” com a pontuação máxima, 10 pontos. Os segundos e os terceiros classificados receberam também recompensas monetárias.
Para Rui Bandeira, esta vitória foi como um sonho. “Ainda nem estou acordado. Vou deixar passar esta noite, dormir e depois beliscar-me para acreditar”, refere o cantor, que admite ter sido um longo caminho para chegar até onde chegou: “como já tocava e compunha, acabaram por me desafiar para gravar um disco. Foi aí que conheci o Tó Andrade e foi amor à primeira vista. Hoje temos uma amizade extrema e o resultado foi este.”
Curiosamente, Rui Bandeira enviou para o júri da pré-seleção cinco canções, e esta era aquela em que menos acreditava.
Como a maioria dos concorrentes de anos anteriores, o cantor vê na Eurovisão o verdadeiro início da sua carreira profissional no mundo da música: “Acho que ter aparecido na televisão e ter ganho o festival pode ser realmente uma grande ajuda. O futuro a Deus pertence…”
Quando a ambições para o Eurofestival, Rui quer, acima de tudo, dignificar o país e tentar obter a melhor classificação possível: “Talvez não seja demais esperar que com esta canção tenhamos os pontos suficientes para não votarmos a ser repescados”, afirma. Rui teve como principal objetivo ficar posicionado nos dez primeiros lugares, sempre confiante na sua canção, tanto que não descartava de todo a possibilidade de ganhar.
Nem nos dez primeiros nem lá perto. Portugal não foi para além dos 12 pontos, sendo que Rui Bandeira conquistou um não muito honroso antepenúltimo lugar, correspondente à 21ª posição na classificação, que, com certeza, em nada iria facilitar a presença de Portugal no ano seguinte. É de realçar que Rui Bandeira só pôde marcar presença em Jerusalém devido à desistência da Letónia.
A Suécia voltou a vencer o festival, consagrando-se a grande vencedora da 44ª edição do Festival Eurovisão da Canção com 163 pontos, com a canção “Take Me To Your Heaven”. Charlotte Nilsson, hoje mais conhecida por Charlotte Perrelli, evocou no palco aquela nostalgia proveniente dos ABBA, 25 anos depois da sua vitória.
Curiosamente, Charlotte não chegou a receber o troféu pelas mãos de Dana International, visto que esta não aguentou o peso do troféu e caiu de costas quando o ia entregar.
O festival foi transmitido a partir do Centro de Conferências de Jerusalém, num cenário ornamentado com muita luz e muita cor. A apresentação esteve a cargo de três apresentadores israelitas: Yigal Ravid, Dafna Dekel e Sigal Shachmon.
No que toca às inovações provenientes de Israel, esta edição do Festival Eurovisão da Canção ficou marcada pelas fortes medidas de segurança adotadas, visto que, depois da vitória de Dana International no ano anterior, choveram ameaças de boicote a esta edição. Para além disso, este foi o ano em que a orquestra foi dispensada, dando lugar ao playback do instrumental de cada música, assim como a liberdade na escolha do idioma em que as músicas seriam apresentadas.
Quanto à transmissão portuguesa, Rui Unas voltou a ser o comentador de serviço em Israel. A apresentação da votação do júri nacional esteve a cargo de Manuel Luís Goucha.
Encerrou-se a última Eurovisão do milénio com a canção “Aleluia”, onde 23 países cantaram em uníssono pelas vítimas da guerra dos Balcãs.
14/12/2013
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