
ANTERIORMENTE...
Valentina Monetta regressa, finalmente, ao Facebook. Também na Internet, Emmelie de Forest descobre que é a grande favorita do ESC 2013 e mergulha na piscina para festejar. Loreen desabafa com Marco mas depois entregam-se à paixão. Entretanto, Rui Bandeira e Eythor falam daquilo que os une. No hospital, Danny e Molly esperam uma consulta quando conhecem Birgit Õigemeel e Bonnie Tyler. A sua conversa fica interrompida quando Zlata e Farid entram na sala de espera.
7º EPISÓDIO
Marco
tinha ficado nos últimos dias em casa de Loreen e Tooji. Este último não
gostava desta nova presença em sua casa. Além de conhecer pouco Marco (apenas
sabia que ganhara um programa de música na Itália, que tinha muitos fãs e que
ia representar nesse ano o seu país, com o tema “L’ essenziale”), não gostava
de ter mais um indivíduo a perturbar o ambiente de casa. Aliás, achava que
Marco não era um bom partido para Loreen, e aquilo de que ela não precisava,
nesse momento, era de ter outro romance. “A abstinência é a palavra que ela tem
de adotar”, pensou Tooji.
Nesses
últimos dias, eles não tinham quase saído da cama. Comiam na cama, penteavam-se
na cama e até lavavam os dentes na cama! Era uma balbúrdia. Tooji achava tudo
repugnante. Além de não ter ajuda para limpar a casa, era ele que fazia tudo: cozinhava,
mudava a água da piscina, pagava as contas. Se não fosse ele, Loreen já tinha
sido despejada da sua humilde mansão. Por vezes, Tooji até chamara uma criada,
mas não era suficiente: a casa era enorme e era preciso um batalhão de pessoas
para darem conta do recado.
Tooji
encontrava-se na cozinha a comer os seus belos cereais Chocogaitas, até que
apareceram Loreen e Marco, a rirem-se e a tocarem-se. Tooji revirou os olhos,
continuou a comer (apesar de já não ter apetite) e fingiu que os ignorava.
-
Olá, amiguinho do meu coração – cumprimentou Loreen, toda sorridente. – Sabes
quem é que vem cá hoje fazer-nos companhia? – a companhia tinha acabado de
tocar. – A nossa querida Maggiezinha!
-
Ainda bem, que eu já estou farto de tanto mel! A vossa cama já deve ter mais
bactérias que o lixo que andaram a acumular – protestou Tooji, com as
sobrancelhas levantadas e um revirar de olhos, novamente.
Marco
não tinha gostado do que acabara de ouvir. Fez cara feia a Tooji e
respondeu-lhe:
-
Mas passa-se alguma coisa contigo? Não gostas de ver os outros felizes? És
assim tão má pessoa que nem és capaz de ver uma amiga tua feliz? – enquanto
falava, dava passos em direção a ele, com um olhar ameaçador.
Tooji
começou a levantar os braços e encheu o peito de ar. Quando falou, fê-lo numa voz
esganiçada.
-
Já estou é farto de fazer tudo sozinho e vocês só na cama! Arranjem uma casa
vossa!
-
Olha, Tooji, é só para te lembrar que esta casa é minha e tu estás aqui por
favor! – intrometeu-se Loreen, revoltada com o que tinha acabado de ouvir. No
entanto, apercebeu-se de que o que tinha dito não era correto e estava
arrependida. – Desculpa, não merecias ouvir isto.
Tooji
começou a chorar e decidiu abrir a porta de casa. Mas antes ainda disse:
-
Fica descansada que ainda hoje saio de casa. – Saiu a correr da cozinha e
deixou Loreen e Marco embasbacados.
Tooji,
enquanto corria, limpou as lágrimas da sua cara. Abriu a porta de casa, de
forma muito precipitada, e agarrou-se a Margaret Berger a chorar. Esta ficou
super preocupada com o seu amigo.
- O
que se passa, querido? – continuou a abraçá-lo, até Loreen aparecer. Marco
tinha ido para a cama comer.
Loreen
tentou agarrar-se a Tooji, mas este recusou a aproximação. Continuava a chorar,
mas agora aos berros.
- O
que lhe fizeste, Loreen? – Margaret começou a protestar também, porque não
estava a gostar das lágrimas que Tooji estava a soltar e que lhe sujavam as
mangas da camisola.
Tooji
correu para os baloiços que estavam no jardim da casa e continuou a chorar, com
soluços à mistura. Loreen continuou a segui-lo, aproximou-se dele, sentou-se no
baloiço ao lado e olhou diretamente para os olhos dele.
Tooji,
de relance, olhou para ela. Quando viu que os dois conseguiram contacto visual,
afastou o olhar.
-
Desculpa, Tooji. Não quis dizer aquilo. Saiu-me. Foram os nervos. És um grande
amigo. Um amigo para toda a vida. E espero que continues comigo a construirmos
a nossa jornada. Eu e tu. Sempre. Juntos. – O discurso de Loreen fez Tooji
sorrir e abraçá-la. Ele conhecia-a, sabia quando ela estava a ser sincera. E
sinceridade era a única coisa que queria neste momento.
Margaret
Berger, ao longe, via-os a fazerem as pazes nos baloiços, como se fossem duas
crianças de cinco anos. Mas ficava feliz por ver os seus amigos também felizes.
Era a única coisa que queria.
Rui
e Eythor estavam no aeroporto de Lisboa. Depois de observarem o painel com os
horários dos voos, tinham ido para o exterior, aproveitar os últimos minutos
juntos. O islandês estava de partida para o seu país, depois de ter ficado em
Portugal três dias, na companhia do seu irmão gémeo. Com a emoção da
descoberta, tinha acabado por perder a oferta da marca portuguesa para ser o
rosto do novo barco a motor, mas sinceramente nem se importou. A sua viagem a
Portugal tinha-lhe dado algo bem melhor: um irmão, um companheiro para a vida.
-
Nem sei como vai ser voltar à minha vida habitual sem ti… ou melhor, sabendo
que tu estás longe… - confessou Rui Bandeira, visivelmente cabisbaixo. Nesse
dia nem sequer soltara o seu cabelão; tinha-o apanhado com um elástico.
-
Oh maninho… Não penses nisso… Vamos voltar a ver-nos em breve!
- E
isso será quando? – perguntou Rui, de ombros caídos.
-
Depois da Eurovisão venho cá novamente. E, depois dos teus concertos de verão,
podes muito bem ir à Islândia. Não é propriamente um local paradisíaco, mas no
verão até se está lá bem.
Rui
agradeceu o convite. A hora do voo aproximava-se; o seu gémeo deveria ir embora
e tratar das bagagens no máximo em dez minutos. Estava na hora das despedidas
finais. Abraçaram-se longamente e trocaram umas últimas palavras. Rui teve de
fazer um esforço enorme para não começar a chorar. Eythor estava mais
controlado: aquilo que o esperava era muito bom. Ansiava o momento em que
pisaria o palco da Eurovisão.
- É
um até já, irmão.
-
Boa sorte, Eythor. Sê feliz! – Rui começou a procurar o pacote de lenços que
tinha num bolso qualquer. Ia rebentar num pranto daí a nada.
O
islandês virou costas e começou a andar, puxando a mala atrás de si. De
repente, foi travado por Rui Bandeira, que o chamava ao longe. Tinha-se
esquecido de algo.
-
Desculpa lá, mano. Tenho aqui estas palavras cruzadas em inglês, para te
entreteres no avião. No outro dia disseste que gostavas muito disso… -
justificou-se Rui, com um sorriso triste.
-
Oh, não te esqueceste dos meus gostos! És um irmão espetacular! Vou fazer
algumas no voo, claro que sim! Bem, agora tenho mesmo de ir. Quando chegar eu
dito-te qualquer coisa – prometeu Eythor, que depois virou costas. A meio
caminho, tornou a virar-se para trás. Rui estava no mesmo sítio, abalado.
Contudo, acabou por sorrir quando o seu gémeo islandês comentou, em voz alta: -
Ouve lá, manda beijinhos às tuas bailarinas! Um dia repetimos a dança!
Zlata,
mesmo a coxear, conseguiu ir a uma esquadra da polícia para fazer queixa sobre Farid.
O motivo seria agressão física.
-
Está a ver, senhor guarda? Aquele paspalho torceu-me o pé! Foi tudo culpa dele!
Ele deve pensar que eu sou como as outras, que, quando veem um homem cheio de
músculos, ficam logo aos saltos. Mas eu não sou oferecida! Além disso, ele nem
beijar sabe! Acha bem? Uma coisa lhe garanto: se o senhor não beijasse bem, a
sua mulher já não estaria consigo.
-
Mas eu sou viúvo!
-
Então, olhe, ela morreu de susto! Você também deve ser outro que só sabe
lambusar a boca da sua companheira, e nem sabe lavar os dentes adequadamente. –
O polícia estava completamente chocado com Zlata. Nunca pensava que fosse ter
alguém como Zlata a discutir as suas capacidades na arte de beijar uma mulher.
Uma
voz vinda da rua fazia-se ouvir, cada vez com mais intensidade.
-
Zlata, por favor, não me estragues a vida! Foi só um acidente! Tenho de dar o
meu melhor e mostrar os meus músculos na Eurovisão, para todos os fãs. Eles
estão a contar comigo. Por favor! Pensa duas vezes! – Zlata fazia cara feia
quando o ouvia. No entanto, como ele nunca mais se calava, a jovem decidiu ir
ter com ele, deixando o polícia ainda mais boquiaberto e a perguntar se a
queixa iria mesmo ser feita ou não.
-
Mas o que é que tu queres? Eu não sou as tuas amiguinhas oferecidas! Tu comigo
não fazes farinha! Não sou dessas! Torceste-me um pé e agora vais ser processado.
Devias ter vergonha de ti próprio. Já tens idade para ter juízo. – Farid estava
chocado a olhar para a loucura de Zlata. Apesar de ela ter chamado as atenções
de todas as pessoas que estavam ali, toda aquela maluquice o deixava excitado,
e cada vez mais atraído por ela.
-
Eu só quero passar o resto da minha vida contigo!
Farid
disse o que lhe estava na alma. Zlata calou-se imediatamente. Ela também
gostava dele, mas não queria admitir. E a desculpa de que ele beijava mal era
para evitar ter um novo relacionamento. O seu último deixara-a de rastos, em
depressão, e ela não queria magoar-se novamente.
–
És aquela com quem eu mais quero estar. Eu acordo a pensar em ti, eu deito-me a
pensar em ti. Eu não sei o que fazer mais! Se isto não é amor, então não sei o
que é. – Zlata começou a chorar com intensidade, pois nunca lhe tinham dito o
que acabara de ouvir. Nunca se sentira uma mulher atraente e de que todos
gostassem. Fora muitas vezes magoada ao longo da vida. Agora tinha uma hipótese
de ser feliz.
Farid
ajoelhou-se, perante ela e todas as pessoas que estavam a assistir, agarrou nas
mãos dela e, a tremer, perguntou:
-
Queres namorar comigo? – Zlata não teve de pensar muito. Farid estava a ser
super romântico: aturou o mau humor dela todo o dia sem refilar, seguiu-a para
todo o sítio e fez uma declaração de amor em plena praça pública.
-
Sim, claro! Seria estúpida se recusasse este pedido!
Os
dois aproximaram-se ainda mais e beijaram-se. Todos os espetadores bateram
palmas e gritaram de alegria. Zlata e Farid eram um casal e estavam preparados
para enfrentar a Eurovisão juntos. Viver esta experiência com o amor da sua
vida era algo magnífico. Não podiam pedir mais. Estavam destinados um para o
outro.
Valentina
acabava de chegar a Estocolmo. Vinha carregada de malas e esperava que o táxi
chegasse rapidamente para a levar até casa. Ainda que faltassem algumas semanas
até à Eurovisão, a cantora começou a achar São Marino demasiado pequeno para
ela. Queria voar e não podia, não havia espaço. Tinha a certeza de que, se
tentasse mesmo voar, o seu vestido para a Eurovisão iria conseguir cobrir todo
o país.
“Bem,
ao menos ficavam quentinhos, debaixo dos meus lençóis vermelhos lindos”,
pensou. “Mas o raio do táxi nunca mais vem! Lá no meu país podia ir a pé a
qualquer lado!”
Era
meio-dia; estava na hora do almoço. Se calhar o taxista estava a comer. Decidiu,
por isso, que ia buscar comida a um café do aeroporto. Pediu a um segurança que
olhasse pelas malas, entregou-lhe meia dúzia de euros para a mão como
recompensa e foi almoçar. Até se esquecera da dieta. Comeu com enorme
satisfação, mas quase vomitou depois de lhe ter chegado a conta para pagar.
“Ai,
Valentina, tu vais à falência aqui, está visto! É bom que a tua borboleta voe
bem alto na Eurovisão, se não acho que mais vale voltares ao Facebook… Ao menos
esse é de graça!”
Deixou
o dinheiro na mesa, contrariada, e regressou novamente para o sítio onde os
táxis paravam. Agradeceu simpaticamente ao segurança que vigiara a bagagem,
pediu-lhe que assistisse à segunda semifinal da Eurovisão porque talvez a visse
por lá, e tornou a chamar um táxi. Teve sorte – estava mesmo um veículo a
chegar.
Satisfeita,
esperou que o motorista saísse e arrumasse as malas na bagageira. O homenzinho
abriu a porta, pôs as pernas de fora e só depois saiu. Valentina não ficou
muito impressionada.
“Mas
é um velho! Fogo, isto hoje não me está a correr nada bem! Onde andam os gajos
loiros, de olhos azuis, musculados? Fui enganada!”, pensou ela. Nada mais lhe
veio à cabeça porque o motorista, ao querer levantar uma das malas, deu um urro
de dor.
- O
senhor está bem? - perguntou Valentina. – O que se passa?
Valentina
queria percebê-lo, mas o inglês do senhor era muito fraco e enrolado. Só
percebeu que já estava a melhorar e que não ia precisar de nada. Talvez tivesse
sido um jeito na coluna. O homem levou todas as malas para o carro (algumas
tiveram de ir nos bancos de trás, porque não couberam na bagageira) e depois
voltou para o volante. Estava a coxear.
- O
senhor está mesmo bem? - inquiriu a
cantora. – Acha que vai conseguir conduzir?
-
Sim, sim – foi a resposta dele. Perguntou-lhe onde queria ir, e Valentina
indicou a morada. O carro arrancou.
Estocolmo
era uma cidade bonita, e, naquele dia, brilhava por causa do sol forte.
Valentina gostou do facto de ser limpa e bem cuidada. Sim, achava que tinha
feito bem em mudar-se para aquela cidade. Adequava-se mais a ela.
O
carro avançou por umas ruas, virou noutras, e depois aproximou-se de uma zona
mais calma, onde os prédios iam dando lugar a vivendas e a espaços verdes. Ao
passar à porta de um supermercado, Valentina ficou histérica, pois estavam ali
vários jovens, ocupados a carregar grades de cerveja.
“SIIIIIIM!
Loiros, musculados, ricos. Tudo o que eu desejo!”, observou, satisfeita.
O
carro abrandou e por fim parou numa rua calma. Não se via ninguém. A cantora
estranhou; pensava que a sua casa ficava numa rua com mais movimento, mas,
pensado que pudesse estar enganada, saiu e agradeceu. As malas estavam todas no
passeio, em fila indiana. Valentina só tinha de encontrar a casa. Foi então que
constatou, horrorizada, que estava no sítio errado! Tinha sido enganada pelo
taxista!
-
Aquele safado, ele vai vê-las! Vou processá-lo! – Deu um murro numa pedra que
estava por ali e aleijou-se. – AIIIII, QUE TODO O MUNDO VÁ PARA O INFERNO!
Não
quis ficar parada. Andou um pouco a ver se vinha alguém, mas não teve sorte. Já
estava a pensar em ligar o Facebook no seu telemóvel cor-de-rosa para pedir
ajuda. Foi então que viu que estava perto de um cemitério. Arrepiou-se.
-
Não me digas que ele pensou que eu queria ir para o cemitério. Mas que
estupidez! E eu trazia estas malas todas para quê? Para renovar o guarda-fatos
dos mortos?
Como
não tinha nada para fazer, colocou as malas junto do muro do cemitério e entrou.
A rua estava deserta, o cemitério também. Não havia perigo de ser roubada.
Entreteve-se
a ler as lápides e a observar as flores. O céu limpo começou a escurecer e
depressa ficou noite. Estava sozinha e, pela primeira vez, teve medo. Correu
para se ir embora mas não sabia onde ficava a saída. Entrou em pânico. Gritou,
chorou, mexia-se muito porque sentia que a estavam a tocar.
- E
se aparecerem fantasmas? Zombies? Se os mortos acordarem de repente? Que vai
ser de mim? Eu quero ir à Eurovisãããããão, tenho de deixar a minha borboleta
voar! AIIIIIIIIIIII!
Não
conseguiu dizer mais nada. Começou a ouvir barulhos atrás de si. Parecia que a
relva estava a ser pisada, e era como se ouvisse uma respiração ofegante. Não
teve tempo para se virar e ver de quem se tratava. Foi da maneira que não viu
uma criatura enorme e gorda, com a pele em verde muito escuro, que rugiu com
violência. Valentina não resistiu ao susto e caiu desamparada no chão.
-
Tens a certeza de que ouviste um grito, amiga Krista?
-
Tenho, amiga Dana! Nós vínhamos com a janela aberta, eu ouvi um grito que vinha
ali do cemitério. Olha, até estão ali umas malas! Anda lá ver!
-
Mas eu tenho medo! E se houver zombies lá, como vai ser?
Krista
Siegfrieds estacou à porta do cemitério e encarou Dana International.
-
Descansa, querida. Eles a ti não te comem. Eles não gostam de plástico!
Krista
arrancou para o interior do cemitério, deixando Dana parada, chocada e quase
ofendida. Contudo, como sempre tinha ouvido dizer que quem diz a verdade não
merece castigo, seguiu a finlandesa sem grandes manifestações. No interior do
cemitério, além de alguns focos de luz mortiços, as duas amigas conseguiam ver
graças a uma pequena lanterna e também graças ao vestido de Dana, que tinha
vários brilhantes.
-
Sabes, uma mulher prevenida vale por duas! Até parece que sabia que íamos
acabar o dia num cemitério escuro e assustador!
-
Pois é, amiga! Amo e amo esse vestido! Depois tens de me emprestar. Amanhã
quando atuarmos lá na festa dos fãs da Eurovisão quero usar esse vestido!
-
Combinado! – disse Dana, satisfeitíssima por ver a sua roupa a fazer sucesso.
Depois acrescentou: - Quer dizer, para isso temos de chegar lá vivas… Achas que
vamos morrer aqui?
Krista
pôs um dedo à frente dos lábios a pedir silêncio. Corajosas, foram avançando
para o meio dos túmulos. Não se ouvia nada. Estava algum vento, o que tornava
toda a situação muito mais assustadora. Foram andando sem parar; viravam por
vezes à direita, outras vezes à esquerda. Não vendo nada de suspeito,
continuavam.
Ao
fim de dez minutos, quando estavam já a questionar-se sobre se seriam capazes
de encontrar a saída, algo de assustador aconteceu. Dana, que sempre caminhara
colada a Krista, tropeçou em qualquer coisa que estava no chão e caiu, ficando
com a cabeça no meio das pernas da finlandesa. Esta, assustada, deixou cair a
lanterna, que foi embater precisamente na cabeça de Dana.
-
AIIIIII, a minha cabeça! O meu peito!
-
Dana, querida, estás bem? Oh, meus anjinhos casamenteiros, digam-me que ela
está bem! – a israelita apenas gemia. – Não, eu não quero cavar nenhum buraco
para a enterrar aqui! Fogo! Logo hoje, que testei o meu novo verniz cor de
abacate! ARRRGGG, a vida é mesmo injusta!
Recuperou
a lanterna e apontou a luz para a amiga. Dessa forma, conseguiu ver que Dana se
começava a mexer, e, além disso, encontrara a razão da queda. Ela tinha
tropeçado na base de um banco de pedra. Krista, depois de ajudar Dana a
erguer-se, foi averiguar melhor o assento, cuja presença ali lhes tinha passado
despercebida. Apontou a luz para o banco. Entrou em choque. Dana gritou. As
duas puseram-se aos saltos, histéricas, assustadas. Agarraram-se.
-
Será que está morta?
- O
que fazemos agora?
-
Ai, anda embora daqui!
-
Não, espera! Tive uma ideia! Conheci no ano passado um padre, ele pode ajudar-nos!
Quer dizer, agora já não é padre, mas… Vou ligá-lo!
-
Isso, isso, depressa, que eu tenho muito medo!
-
Cezar, ainda bem que veio!
O
romeno, que ia também participar na Eurovisão nesse ano, estava também em solo
sueco para poder participar na festa eurovisiva. Chamou um táxi e colocou-se no
cemitério em quinze minutos. Não teve dificuldade em encontrar as duas
senhoras, porque elas mantinham-se bastante agitadas e gritavam bastante. Ele vinha
muito preocupado.
- O
que se passou?
-
Nós não sabemos, Cezar. Ouvimos gritos, viemos aqui, e encontrámos esta mulher.
Suponho que saiba de quem se trata? – perguntou Krista, ainda aterrorizada.
-
Oh Deus do céu! Mas é… é a menina das alianças! A do casamento da Loreen!
Krista
e Dana esperavam outra resposta.
-
Sim, é Valentina Monetta! Não sabemos o que lhe aconteceu. Ela tem de acordar.
Faça qualquer coisa. Você conhece melhor os cemitérios, sabe rezas, sabe
cânticos… vá lá…
Cezar
endireitou as costas, pôs o peito para fora e acenou afirmativamente. Ia levar
a missão muito a sério. Tirou o seu crucifixo do peito, apontou-o com energia
para o corpo de Valentina, aclarou a voz, e começou a cantar, em voz de ópera:
- “It's my life and I'll share it
all with you. It's my life, we were meant to be together. I'll give my
life to you.”
Repetiu
esta última frase mais umas vezes. Por fim, disse umas palavras que Dana e
Krista não entenderam e por fim, num momento de êxtase para todos, viram
Valentina mexer-se e gemer. Com cuidado, ajudaram-na a sentar-se e deram-lhe um
pouco de água.
-
Está tudo bem, linda. Já passou!
-
Nossa, mas que foi que se passou? Ganhei a Eurovisão? Ai, já vi que não… Não
faz mal. No meu sonho nem sequer tinha passado à final. E é óbvio que vou
conseguir.
Cezar
pediu que Valentina não falasse mais e depois puseram-na de pé, para poderem ir
embora. Até à saída do cemitério, a única coisa que se ouviu foi a repetição
exaustiva de “Crisalide (Vola)”. Era sinal de que estava tudo bem.
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