1992 – As frutas de Dina rejeitadas pela Europa
“Lusitana Paixão”, de Dulce Pontes, foi a grande vencedora da edição de 1991 do Festival RTP da Canção. Na Eurovisão, a canção ficou no oitavo lugar. Quem se seguiria?
A 29ª edição do Festival RTP da Canção decorreu a 7 de março, no Teatro de S. Luiz, em Lisboa. À RTP chegaram 404 composições. O número de participantes voltou a aumentar, dos oito do último ano para 10 concorrentes. A apresentação ficou a cargo de Eládio Clímaco e de Ana Zanatti.
A novidade do ano foi que cinco das canções finalistas foram escolhidas nas eliminatórias efetuadas durante as emissões do programa "ET – Entretenimento Total", de Júlio Isidro, sendo que teriam sido conhecidas pelo público há mais tempo. No programa, foram apresentadas 15 canções, três por cada semana. Em cada emissão uma ganhava e ia para a final nacional. Foram estas:
“Amor D’Água Fresca” – Dina
“Eu Sou Maria Rapaz” – Nani
“Amo o Sol” – Safari
“Outra Noite” – Maria Emauz
“A Tua Cor, Café” – Cristina Roque
As outras cinco canções foram temas da autoria de cinco compositores convidados pela RTP para participarem no certame. Todas as finalistas viram as suas letras publicadas na TVGuia.
“Meu Amor Inventado em Mim” – Rita Guerra (Pedro Osório)
“Um Amigo Sempre à Mão” – Luís Duarte (Paco Bandeira)
“Foi Aparecida” – José Carvalho (Paulo de Carvalho)
“Boa Noite, Tristeza” – Isabel Campelo (José Niza)
A vencedora acabou por ser Dina, autora (juntamente com Rosa Lobato Faria) de “Amor D’Água Fresca”. Esta canção alcançou uma simpática soma de 230 pontos, mais 60 do que o segundo lugar, “Meu Amor Inventado em Mim”, que foi interpretado por Rita Guerra.
“Amor de Água Fresca” teve uma promoção como nenhuma outra canção portuguesa teve, antes de ir para o Eurofestival.
O teledisco da canção foi produzido pela RTP e pela UPAV, sendo que as despesas estiveram a cargo dos produtores. Contudo, note-se que a promoção deste ano esteve muito menos preocupada com a vertente turística da participação na Eurovisão, como costumava acontecer nos outros anos.
A posição de Dina quanto ao festival que se aproximava, e também quanto ao facto de nunca termos ganhado devido a possíveis questões políticas, era a seguinte: “Não tenho a certeza se a política entra nesse meio. Tudo pode envolver política, depende de quem organiza. Não digo que não… mas penso que não, penso que é um festival de canções. O ideal seria ganhar a melhor canção, mas são 23 jurados e cada um pensa de sua maneira.”
Para a cantora, os festivais existem “para promover cantores, autores e músicos.” Quanto à sua canção, Dina estava positiva: “sei que tenho uma canção gira, é alegre e torna-se audível. Acredito na minha canção. Tenho um teledisco fabuloso, fantástico".
Quanto às previsões das classificações finais, Dina preferiu não pensar muito no assinto: “Não quero estar preocupada com isso. Vamos fazer uma coisa séria em tom de brincadeira. Não gosto de me manifestar sobre isso. Ao dar um palpite já estou a pensar nisso. Não gosto de adiantar nada.”
O Festival Eurovisão da Canção realizou-se, neste ano, a 9 de maio, no Palácio do Gelo, em Malmö, na Suécia. Participaram, nesta edição, 23 países europeus. Destaque para o representante sueco, Christer Björkman, atualmente o chefe da delegação do país.
O amor e a preocupação com o futuro foram os temas mais tratados ao longo do desfile das 23 canções, que, segundo o jornal Correio da Manhã (CM), eram de qualidade bastante discutível, como é habitual no Eurofestival. Também a TV7Dias criticou a gala, achando-a demasiado arrastada.
Embora desta feita tenha concorrido apenas como autor/compositor, Johnny Logan voltou a somar mais uma vitória no evento, a juntar às vitórias em 1980 e 1987. A canção, interpretada por Linda Martin, “Why Me”, arrecadou um total de 155 pontos para a Irlanda. Em segundo e terceiro lugar ficaram o Reino Unido, com 139 pontos, e a Itália, com 111 pontos. A Irlanda recebeu pontuação máxima (12 pontos) dos júris da Turquia, Grécia, e Malta.
“Ganhámos, ganhámos...” Johnny Logan segurava a mão de Linda Martin e não tirava os olhos do pequeno ecrã, no momento em que já só faltava a votação do último júri, que acabou por confirmar a vitória de Logan em mais um festival, desta vez como compositor.
“A vida foi feita para amar. A canção que trago ao festival tem essa mensagem que é eterna… o amor nunca passa de moda”, dizia Linda Martin, dias antes da realização do festival, descrevendo a ode ao amor que era “Why Me”, uma melodia empolgante com palavras simples. E a verdade é que não passou mesmo de moda.
Relembramos que em 1984, no Luxemburgo, esta dupla esteve perto da vitória, com “Terminal 3”, também escrita por Logan para Linda Martin, tendo-se ficado pelo segundo lugar.
“Estou felicíssima, foi uma guerra de nervos esta votação. De cortar a respiração mesmo até ao fim… Tenho a agradecer ao meu grande amigo Johnny a sua canção… Logo que a ouvi a primeira vez apaixonei-me por ela, tem imenso a ver comigo. Sou uma romântica inveterada”, expressou a cantora, depois de concluída a gala. Em declarações registadas pela TVGuia, o compositor dizia que esta vitória marcava a sua retirada dos Festivais: "já ganhei três vezes, isto é: ganhei as vezes suficientes!"
Quando a Dina, segundo o CM, as suas frutas “curiosamente inexistentes na versão inglesa da canção distribuída em Malmö, não se deram muito bem na salada das eurocanções.” A representante de Portugal, ficou posicionada no 17º lugar, com 26 pontos. A cantora, face a este resultado e aos resultados gerais, mostrou-se indignada, afirmando amargamente que o júri do Eurofestival de 1992 é “quadrado”: “Decididamente este júri é quadrado, ou não sabe ou não quer perceber de música, nem de novas correntes e novos sons musicais…”, afirmou Dina, poucas horas depois da divulgação dos resultados, à revista Nova Gente.
“Num naipe de canções boas e novas como a da França, da Alemanha, que era uma das minhas preferidas, ou mesmo a da Grécia, que à mistura com o som de raiz étnica tinha uma composição brilhante, o júri preferiu não arriscar pontuando na “chapa 3” já mais que usada por Johnny Logan. Afinal, o que é que nos traz de novo este festival? Nada! Ganhou uma canção igual à de 80, que é uma bonita canção. Não discordo… Mas isto é um festival de canções, tem de haver audácia, criatividade, novidade e o júri tem de perceber isso. Como compositora foi o que mais me chocou, porque como intérprete estou tranquila, fiz o mais correcto, dei o melhor e depois de me ver na imagem acho que estive bem, e bem bonita. (risos)”, afirma Dina, descontente com a forma como o júri atribuiu a pontuação às atuações.
A cantora apontou ainda as coisas boas que levou desta experiência: “Uma das coisas que me agradou foi ver a receptividade da minha canção. A imprensa falou dela de uns moldes bastante agradáveis, considerando-a uma melodia europeia, fresca e nova. A nível promocional é sempre bom… claro.”
Os projetos futuros da cantora e compositora não tiveram comparação com a representante do ano anterior. A cantora refere-os, em tom irónico para com os irlandeses: “Para já vou fazer uma tournée pelo Luxemburgo. Quanto a outros projectos, eles estão em marcha. Mas é assim, a máquina promocional e a de marketing bem accionada funciona sempre e quanto a isso os irlandeses já aprenderam… Mas será mesmo isso que interessa? Nesse caso qualquer dia estamos todos a fazer canções iguais… E depois vamos ver como é que o júri se vê livre desta…”
Este ano ficou também marcado pela demissão do responsável da UER, depois de 15 anos ligado ao festival. Segundo o CM, estava em estudo uma nova fórmula a imprimir no Eurofestival a partir de 1993, que, à partida, envolveria a participação de um maior número de países. O que seria?
1993 – O sonho até ser dia de Anabela
A 30ª edição do Festival RTP da Canção aconteceu a 11 de março de 1993, no Teatro S. Luiz. Esta edição foi marcada pela estreia de alguns novos artistas, desconhecidos do grande público até então. A apresentação, pouco competente, segundo algumas revistas, ficou a cargo de António Sala e Margarida Mercês de Mello, substituindo os anteriores Eládio Clímaco e Ana Zannati.
Desfilaram neste palco, que chegou a casa de portugueses de norte a sul, oito concorrentes:
Canção nº 1 - "Praia sem marés" - Isabel Campelo
Canção nº 2 - "Quero muito mais de ti" - Cristina Roque
Canção nº 3 - "Renascer de um trovador" - Piedade Fernandes
Canção nº 4 - "No dia seguinte" - Paulo Brissos
Canção nº 5 - "Talvez noutro lugar" - Liza Mayo
Canção nº 6 - "O poeta, o pintor e o músico" - Cid, Bragança e Ca. Lda
Canção nº 7 - "Pó (de) melhorar" - Grupo Até Já'zz
Canção nº 8 - "A cidade (até ser dia)” - Anabela
O prémio foi entregue à jovem Anabela, pelas mãos de José Eduardo Moniz, com a sua “Cidade (Até Ser Dia)”, que somou um total de 167 pontos.
A transmissão foi brindada por outros momentos musicais, a cargo de Helena d’Água, Helena Vieira e Rita Guerra, que cantaram canções de sempre: “A Mula da Cooperativa”, “Fado do 31”, “Maldita Cocaína”, “Rua do Capelão”, “Adeus Aldeia”, “Vocês Sabem Lá”, “José Aperta o Laço”, “Porto Sentido” e “Desfolhada”. O momento, intitulado por Canções do Século, foi uma retrospetiva musical, cujo responsável foi Pedro Osório, contando ainda com a presença do ator Carlos Daniel no intercalar dos acontecimentos mais marcantes do século.
Apontando uma pequena curiosidade engraçada desta edição do Festival da Canção português, na pré-seleção do festival, o júri desentendeu-se devido à indumentária de uma das concorrentes, que era apontada como uma das favoritas para a grande final, segundo a Nova Gente.
Ana Paulino apresentou um modelito desenhado por Luís Barbeiro, segundo a publicação, provocante. Rita Guerra atribuiu um ponto à canção, o que, para Fernando Tordo, que admitiu a maldade do estilista, e para Carlos Mendes, foi um ato de imaturidade, criancice e falta de cultura musical por parte da cantora.
O desaparecimento da URSS, o fim da Checoslováquia e o desmembramento da Jugoslávia fizeram com que houvesse um boom do número de países com intenção e desejo de participar pela primeira vez na Eurovisão.
Nesta edição viram-se então obrigados a fazer uma pré-qualificação para os países que nunca tinham participado no evento, que se realizou a 3 de abril, em Liubliana, na Eslovénia. Os países a participar nesta eliminatória foram: a Croácia, a Hungria, a Eslovénia, a Estónia, a Bósnia-Herzegovina, a Eslováquia e a Roménia. Só os três primeiros classificados puderam participar na Eurovisão de 1993: Bósnia-Herzegovina, Croácia e Eslovénia.
O Eurofestival de 1993 realizou-se a 15 de maio no Auditório de Green Glens, na pequena cidade de Millstreet. A realização do certame numa cidade com cerca de 1.500 habitantes revelou uma certa vontade de inovar a conduta de organização, pretendendo assim descentralizar o evento. Foram investidos cerca de 450 mil contos na remodelação deste auditório, por onde já haviam passado mais de 650 intérpretes e músicos.
A audiência estimada para a transmissão do Eurofestival aponta para mais de 350 milhões de pessoas.
Na 38ª edição do Festival Eurovisão da Canção, com apresentação a cargo de Fionnuala Sweeney, a Irlanda venceu em casa.
O tema irlandês, “In Your Eyes”, foi interpretado pela cantora Niamh Kavanagh, de 25 anos, uma voz que se destacou na banda sonora original do filme “The Commitments”, de Alan Parker. A canção da Irlanda venceu com um somatório de 187 pontos, conquistando desta feita o quinto troféu do primeiro lugar na Eurovisão para o país.
Durante uma conferência após ser sabido que Niamh era a vencedora, a cantora admitiu que “não estava preparada para ganhar”, tendo inclusivamente ficado em “estado de choque” com o resultado final.
Linda Martin, vencedora anterior do festival, ficou igualmente contente pela vitória da Irlanda, festejando o acontecimento com “uma taça de champanhe” no evento.
Ao longo da divulgação das votações, a canção irlandesa manteve um constante despique com a canção do Reino Unido, “Better The Devil You Know”, interpretada pela inglesa Sonia.
No que toca a Portugal, a cantora de 16 anos alcançou um “sempre honroso” 10º lugar entre 25 concorrentes, entrando no pequeno grupo das canções portuguesas mais bem sucedidas de sempre, ficando à frente de cantores com muitos anos de experiência e de países que ganharam o festival em anos anteriores, como a Espanha, Luxemburgo, Itália e Israel.
Segundo o novo regulamento do festival, o 10º lugar alcançado por Anabela concede a Portugal o direito de regressar ao concurso no ano seguinte.
Anabela foi a mais jovem concorrente no certame, revelando, contudo, uma presença bastante profissional, segundo o Correio da Manhã, manifestando estar perfeitamente à vontade a interpretar o tema da autoria de Paulo Dacosta (pseudónimo de Paulo de Carvalho), Marco Quelhas e Pedro Abrantes.
Os destaques vão também para o maestro Armindo Neves, que dirigiu a orquestra, sendo que a participação neste festival lhe ofertou um convite para atuar em Dublin.
Portugal foi pontuado pela Alemanha, Dinamarca, Grécia, Islândia, Áustria, Suécia, Luxemburgo, Finlândia, Reino Unido, Chipre, Noruega e França. Recebemos ainda os 12 pontos por parte da Espanha e da Holanda. A votação total atribuída a Portugal teve um total de 60 pontos.
A opinião de Anabela, na sua tenra idade, foi que esperava mais, uma vez que “passou para o microfone o que tinha para oferecer.” No entanto, a cantora diz que valeu a pena: “O balanço foi positivo. A canção foi muito bem recebida, vai ser editada em vários países e eu fiz uma série de contactos preciosos com músicos e jornalistas, gente que me acarinhou muito e que eu gostaria de rever.”
É de realçar também que esta edição do festival quebrou o recorde do maior número de países a participar, evidenciando, como não poderia deixar de ser, os três países estreantes saídos do desmembramento da Jugoslávia: a Bósnia-Herzegovina, a Eslovénia e a Croácia.
Note-se que o júri da Bósnia e Herzegovina foi fortemente aplaudido, tendo em conta que o país vivia então num estado de guerra civil. Aliás, a própria música com que a Bósnia participou nesse ano envolvia a temática do sofrimento do país que enfrentara uma cruel guerra sem precedentes na Europa pós-Segunda Guerra Mundial.
1994 – Chamar a Música e a maldição do 8º lugar
Depois de uma belíssima prestação por parte de Anabela, restava saber se a sorte iria continuar do lado dos portugueses. Preparava-se, então, mais um Festival da Canção.
A 31ª edição do Festival RTP da Canção realizou-se no dia 10 de março. Antes disso, aconteceram duas eliminatórias, em Lisboa e no Porto, e apenas oito participaram na final que aconteceu no Teatro São Luiz.
As canções e intérpretes da primeira eliminatória, no Porto, foram as seguintes:
Canção nº 1 - “Desculpa Lá o Mau Jeito” – Blue Ton Ton
Canção nº 2 - “Todos Nós Alguma Vez” – Pedro Miguéis
Canção nº 3 - “Tanta Gente Sem Rumo” – João Carlos
Canção nº 4 - “Este Alentejo” – Sara
Canção nº 5 - “Trovas do Demo e D’El Rei” – Jorge Afonso e Peninha
Canção nº 6 - “Dia Após Dia a Magia de te Amar” – Marco Quelhas
Canção nº 7 - “Chamar a Música” – Sara Tavares
Canção nº 8 - “Conselho em Si” – Nuno Miguel do Ó e Esteves Cabrita
Canção nº 9 - “Espelho de Luar Antigo” – Daniel
Canção nº 10 - “Imagens de Música” – Ed Sant’Ana
Em Lisboa, os concorrentes que tentaram a sua sorte foram:
Canção nº 1 – “Se Fores Poema” – Fernanda
Canção nº 2 – “Diz-me Adeus e Parte em Paz” – Tina
Canção nº 3 – “Ai, Dona Inês” – Tó Carlos
Canção nº 4 – “Sonhos Dourados” – Criasiana
Canção nº 5 – “Lisboa Minha Linda Cidade” – José Carvalho
Canção nº 6 – “Vale a Pena Cantar” – Natália Domingos
Canção nº 7 – “Malmequer do Campo” – Isabel Campelo
Canção nº 8 – “Menina Morena Ladina” – Laureano
Canção nº 9 – “O Vento Sabe o que Quer” – Inova Fora Nada
Canção nº 10 – “Jogos de Amor” – Marco Quelhas
A apresentação da grande final esteve a cargo de Ana Paula Reis e Nicolau Breyner. A animação intermédia do festival foi feita por Alexandra, Anabela (vencedora do ano anterior), Carlos Guilherme e Paco Bandeira, que interpretaram várias canções populares, como já vem a ser habitual neste festival, ainda que mudem os protagonistas dos momentos.
Os vencedores das duas eliminatórias foram o grupo Inova Fora Nada, com a canção “O Vento Sabe o Que Quer”, e Sara Tavares, com “Chamar a Música”. Desta feita, estes eram os grandes favoritos à vitória nessa noite.
A voz inconfundível de Sara Tavares levou a melhor, e “Chamar a Música” foi a grande vencedora da noite. “Não sei o que é que está a acontecer-me, mas é fantástico, é indescritível, é uma coisa que sonhei. Não, na verdade nem sequer sonhei. Foi tudo tão rápido”, confidenciou Sara à Nova Gente.
Esta foi a primeira vez em que o júri foi unânime e escolheu a mesma canção para ser a grande vencedora, fazendo com que Sara tivesse a pontuação máxima, 220 pontos. Com letra de Rosa Lobato Faria e música de João Mota Oliveira, a cantora foi a “rainha da noite”.
Rosa Lobato Faria sentiu que Sara era, realmente, especial: “Aquela menina tem uma luz especial, qualquer um vê. Tal como todos, ouvi a Sara na Chuva de Estrelas e pensei de imediato que, se uma das canções que fizera para o Festival fosse apurada, seria exatamente aquela a voz para a defender. Não me enganei… ela é especial. Esta é Sara, uma menina de quem se gosta. Uma voz deferente que, em Abril, perante uma plateia de milhões de telespectadores, a partir da Irlanda, vai «murmurar um madrigal, inventar um ritual…» chamar a música!”, dizia a autora, confiante.
O 39º Festival Eurovisão da Canção realizou-se no dia 30 de abril de 1994. Este festival foi apresentado por Cynthia Ní Mhurchú e Gerry Ryan.
Desta vez, a tentativa da organização de descentralizar o festival foi posta de parte, sendo que a Eurovisão realizou-se em Dublin, na Irlanda, mais especificamente no Point Theatre.
Visto que eram mais de 40 os países interessados em participar, a EBU adotou um novo método de seleção dos participantes. Os 18 melhores países do ano anterior tinham a participação no evento garantida e a eles juntaram-se os países que fizeram a sua estreia neste ano.
Surpresa das surpresas? A Irlanda ganhou pela terceira vez consecutiva! Entre a plateia ouvia-se: “meu Deus, ganhámos outra vez! Não pode ser… Fazer isto custa uma fortuna!”
O dueto irlandês, Charlie McGettigan e Paul Harrington, com a canção “Rock’n’Roll Kids”, nem podia acreditar no que estava a acontecer: “Fomos surpreendidos. Nunca esperámos vencer porque a Irlanda já tinha ganho duas vezes seguidas e achámos pouco provável que o troféu ficasse de novo em casa”, disse Paul.
A verdade é que as preferências, uma semana antes, já caíam por cima desta canção. Para além de “Rock’n’Roll Kids”, a canção da Alemanha, “We’re Givin’ a Party”, do grupo Mekado, também foi desde o início considerada uma potencial vencedora. No fim, acabou por ficar em terceiro lugar.
A Irlanda tornou-se assim o país com mais vitórias na Eurovisão, contra as cinco da França e do Luxemburgo e, claro, o único que venceu três vezes consecutivas.
No que toca aos resultados de Portugal, nada de muito fora do comum aconteceu. Sara Tavares prontamente chamou à atenção dos jornalistas, que a consideravam uma forte candidata ao primeiro prémio.
No entanto, “Chamar a Música” quedou-se pelo oitavo lugar, que ficou aquém das expetativas criadas à volta de Sara Tavares.
Rosa Lobato Faria, a autora, ficou surpreendentemente agradada com os resultados. Para si, estes foram “excelentes. Ela acabou por superar as minhas expectativas. Ficámos entre os dez primeiros.”
Nesta edição do festival participaram pela primeira vez a Estónia, a Hungria, a Lituânia, a Polónia, a Roménia, a Rússia e a Eslováquia.
Os países de leste chegaram para provar que não vieram para a Eurovisão brincar. Tanto que a Polónia, na sua estreia, com Edyta Górniak, alcançou o segundo lugar. Também a Hungria conseguiu um excelente resultado na sua primeira participação, um quarto lugar, representado por Sylvester Jenei.
Falando em países de Leste, havia um grande frenesim nos bastidores: votariam uns contra os outros ou iriam unir-se? Pois bem, verificou-se uma “solidariedade geopolítica”.
Pode dizer-se que a Irlanda fez um bom trabalho na organização do festival. Foram montadas 500 lâmpadas arquitecturais que permitiram a simulação de uma cidade durante a noite. Para além disso, cinco projectores gigantes e duzentos ecrãs foram utilizados, de modo a que a visão do espectador sobre o espetáculo fosse melhor. Esta também foi a primeira vez que os telespetadores puderam ver o porta-voz de cada país nas suas televisões.
30/11/2013
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