Diogo Canudo: Olá, caros leitores! Aqui estamos, mais uma vez, para vos alegrar os Domingos! Esperemos que tenham gostado da primeira tertúlia, a da semana passada! Aqui estou eu e a minha fantástica, magnífica, excêntrica, fabulosa e... pouco chique colega, Andreia Fonseca!
Andreia Fonseca: Pouco chique? Sempre tão simpático este meu colega! Olá caros leitores, obrigado por acompanharem esta segunda tertúlia eurovisiva. Depois de comentarmos as mudanças da vida dos cantores após os Festival da Canção, qual vai ser a capa desta semana?!
Diogo: Sabes que eu sou conhecido por ser a pessoa mais simpática do mundo, um anjinho caído do céu! Olha, eu não sei o tema, sabes, é que eu tive muitas party's e não tive tempo para estudar nada. Ahah, aqui a profissional és tu, ó Clara de Sousa!
Andreia: Bem, e como tem de existir alguma seriedade nesta iniciativa, inicio eu o tema. A capa desta semana tem por título “A nossa canção merecia melhor lugar”. Apesar de ser uma capa de 1966, é uma frase intemporal no que toca às nossas participações eurovisivas. Excepto quando os nossos representantes nos envergonham, fica sempre este sabor amargo após o término do concurso musical que encanta meio mundo.
Diogo: Acho que nem um sabor amargo fica… É mais um sabor de revolta… Com tantos bons artistas em Portugal, grandes produtores e óptimos letristas, quem é capaz de levar “Foi Magiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa”? Só Portugal, mesmo!
Andreia: É que só mesmo com magia é que aquela música passava à final! Ou nem isso... Mas voltando ao tema central... A capa referia-se à participação da Sra. Madalena Iglésias, com um tema que ainda hoje se faz ouvir em terras lusas por tudo quanto é festa e romaria. Se merecíamos melhor? Penso que sim! Mas não são os gostos musicais discutíveis? O que para nós merece um lugar cimeiro, para os jurados pode ser um tema banal. Por isso, o que nos faz considerar que merecemos mais que os outros? Será só patriotismo? Pessoalmente, penso que não!
Diogo: Acho que Portugal e os Portugueses são pessoas muito iludidas. Acho que o tema principal para o fracasso de Portugal na Eurovisão é mesmo a questão da música. Não estou a pôr em causa a qualidade musical, pois há brilhantes temas como “E Depois do Adeus”, “Lusitana Paixão”, “Senhora do Mar (Negras Águas) ”, entre outros... A questão aqui central é: será que as nossas músicas são para o comércio externo? Todas as músicas portuguesas que foram à Eurovisão são demasiado patriotas, o público português só pensa em si próprio, nunca pensa: será que os estrangeiros vão gostar desta música? Nenhuma música, nenhuma mesmo, é comercial ao ponto de vender na Europa… Na minha opinião a que mais se aproxima é a da Lúcia Moniz – “O Meu Coração Não Tem Cor”, o que, de facto, trouxe o melhor lugar para as terras lusas!
Andreia: O facto é que temos uma necessidade exagerada para cantar os nossos feitos (passados! Uma vez que não vejo ninguém a fazer uma música sobre Portugal ser classificado como lixo!) e isso já é um tema muito explorado. Todos já sabem sobre os descobrimentos, a nossa tradição marítima e até a nossa tendência para o saudosismo… O próprio tema da Lúcia Moniz tem contornos patrióticos, uma vez que é a celebração da alma portuguesa. Por isso, letristas portuguesas… Esqueçam o passado! Se alguém quer uma aula de história, vai tê-la num curso especializado. Mas também é verdade que já levámos músicas que não falavam deste tema e ficaram, igualmente, mal classificadas. A música da Rita Guerra não era nacionalista e viu-se a fraca aceitação por parte dos outros países. Por isso, chego à conclusão que Portugal pode levar o que quiser que a sua sorte não deve mudar.
Diogo: Sim, tens total razão, Andreia. Mas também acho que existe outro grave problema para o fracasso na Eurovisão. Desde o início da Eurovisão várias regras e debates têm aparecido sobre cantar na língua nativa de cada país. Agora, todas as línguas são aceites no concurso; mas, antes, não o era. E este tema faz-me pensar muito… Todos sabemos que a língua mais universal é o Inglês. Hoje em dia, quase todas as pessoas sabem falar inglês, por isso é o meio mais fácil para que as pessoas compreendam a letra. A RTP continua a querer levar músicas em português, isto para os estrangeiros é chinês autêntico, logo temos maus resultados. Por exemplo, tenho um pressentimento que, se a Maja Keuc não cantasse em Inglês em 2011, nunca teria passado à final, ou pelo menos passaria com muita ajuda do júri. Aqui também dou outro exemplo, apesar da Sabrina, representante de Portugal em 2007, não ter passado à final, cantou em várias línguas e conseguiu ficar até num razoável lugar na semi-final (só não passou por um ponto). Isto faz-me questionar muito… Será que se levássemos “Senhora do Mar (Negras Águas) em inglês, ganhávamos?
Andreia: Fizeste uma boa observação, mas segundo esse prisma como justificas a vitória da Sérvia em 2007? A música não era cantada em inglês e venceu. Aliás a “Senhora do Mar” tentou seguir os seus passos, só que sofreu de dois grandes males… Era uma fórmula repetida e, principalmente, era PORTUGAL. Ainda sobre a questão do Inglês, os 2B e as Nonstop cantaram os refrões em inglês… Não é suficiente para espalhar a mensagem? Ou o sotaque era tão mau que nem com dicionário se percebia?!
Diogo: Primeiro, cara colega, não se deve meter todos os macacos no mesmo saco. Nunca se pode comparar um “Molitva” com uma música rasca qualquer! “Molitva” foi das poucas que trazia uma mensagem, uma força e uma atitude da cantora muito dignas! E, se virmos bem, consoante as estatísticas, nos últimos anos a língua inglesa tem vingado sobre todas as outras. “Molitva” foi uma canção vencedora e também uma excepção! Em relação aos 2B tiveram graves problemas técnicos, por isso nem metade das palavras inglesas se percebiam… As NonStop, apesar de cantarem em Inglês, só foram lá fazer figura de coelhinhas. Além da língua em que se canta, deve-se ter em conta a atitude que o cantor leva para o palco! E só assim “Molitva” ganhou!
Andreia: E aqui está a fórmula secreta… Para vencermos, temos de ter uma boa letra (de preferência perceptível para a maioria dos espectadores), uma boa melodia, um bom intérprete (que saiba pronunciar palavras em inglês) e uma boa apresentação em palco. Certo? Só não percebo, então, como intérpretes sem qualquer capacidade interpretativa e vocal levam o troféu para casa! Mais do que termos boas músicas, planeadas mediante fórmulas secretas, temos de ganhar poder económico e político (uma autêntica utopia atendendo ao nosso estado actual)! Eu sei que é triste admiti-lo, mas só assim paramos de afirmar que “merecíamos um lugar melhor!”.
Diogo: Eu bem te percebo, Andreia… Muitos artistas “rascas” ficam melhor classificados que os “GRANDES”. Mas também sou sincero, após a Eurovisão só se safam quase os “GRANDES” e não os “rascas” que têm boas classificações. Muito disso deve-se ao facto da vizinhança. Portugal, como não tem “amiguinhos coloridos”, nunca obtém uma boa posição, mas isso é certo! Acham que, alguma vez, o Azerbaijão, a Ucrânia e a Rússia ficariam pela semi-final? Claro que não, é tudo só pontos da vizinhança. Aliás, até está provado, em estudos feitos, que se não fosse os vizinhos a votarem, a Helena Paparizou nunca tinha ganho a Eurovisão em 2005, apesar de a música ser estrondosa e uma das melhores vitórias de sempre. Estudo feito!
Andreia: Sendo assim, só nos restam duas hipóteses… Ou mudamos o nosso país de localização geográfica (uma muito boa era na zona Leste) ou então permanecemos com esta maldição, até a RTP decidir não investir mais (como se agora investisse muito!) na nossa participação! Verdade se diga, que se a RTP desistir, não faltam “pretendentes” para ocupar o seu cargo. O Festival Eurovisão da Canção é um dos maiores eventos mundiais, por isso não falta quem o queira transmitir. Voltando às nossas músicas, e ao triste fim que quase todas têm… Não faltará a Portugal alguma noção de espectáculo? Sinceramente, nós tivemos uma actuação brilhante com a Vânia, mas nunca vi o nosso país a ter uma performance em palco como, por exemplo, os representantes gregos têm. Mesmo com o 2B, em que tentámos cantar e dançar, não parecia certo! Estava lá a dança mas não estava o espectáculo (muito menos a parte do “cantar”)!
Diogo: Sinceramente, Andreia? Acho que devemos permanecer na maldição, até a RTP decidir não investir mais. Porque podemos até ser da Zona Leste, mas se a estação televisiva não investir na performance em palco, também não vamos longe! Quem me dera um dia ver a minha RTP a investir milhões, como no Azerbaijão o fazem! Ainda me lembro do alarido com a actuação da Safura! Quem me dera também ser representado como uma actuação esplêndida que Eric Saade ofereceu, este ano, à Suécia. Quem me dera, quem me dera, quem me dera…
Andreia: Infelizmente, penso que nos ficamos pelos desejos e ânsias…
Diogo: Ao menos é alguma coisinha! Então, concluindo, se Portugal quer ser bem representado tem de levar músicas comerciais, nada patriotas, cantar em inglês, levar uma boa melodia, letra e, principalmente, o intérprete. Além disso, a estação televisiva devia investir mais para o sucesso em palco do artista e, por fim, como piadinha, ser da Europa do Leste!
Andreia: E está feita a fórmula de sucesso! Não me parece que a RTP a vá aplicar, mas fica aqui comprovado que nós a alcançámos! Quanto a si, leitor, não desespere! Podemos não vencer a Eurovisão, mas ela sempre nos proporciona algumas horas bem passadas em frente à TV. Por mim, despeço-me esta semana, com a pequena esperança de um dia rever este texto e pensar "Afinal sempre acabámos por conseguir!" mesmo que não se recorra a esta "receita de sucesso"!
Diogo: E aqui, também me despeço. Esperemos que tenha gostado desta tertúlia e se a quiser continuar, pode comentar! Esperemos que vos tenha ocupado o vosso Domingo! E para a semana há mais um novo tema, uma nova capa e novas críticas!
Boa!
ResponderEliminarEu acho a fórmula boa, mas é preciso dinheiro para a colocar em prática... Fora com a RTP!
ResponderEliminarÉ fácil falar, mas a RTP tb não pode entrar em loucuras! Se vocês sabem tanto, vão para lá!
ResponderEliminarBoa tertúlia! Continuem
ResponderEliminarBoa tertúlia! Bem escrita e com um óptimo toque de humor! Adorei!
ResponderEliminarQuem me dera ver o Eric a representar Portugal!
ResponderEliminarQue bela dupla!
ResponderEliminar"A nossa canção merecia melhor" aqui está para mim o titulo mais que correcto para a participação Portuguesa em 1966.Ainda hoje"Ele e ela" são um marco na história do Festival!!!
ResponderEliminarPara mim esta tertulia está perfeita...bora lá a continuar rumo ao sucesso!!!
Uma vez mais o meu:BRAVO!!
Fantástica tertúlia, mais uma vez! Parabéns pelo excelente trabalho. Continuem assim!
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