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Crónica ESC 2017: "Uma vitória com uns pozinhos do Além"


A edição do ESC deste ano foi particularmente especial. Sigo o ESC há dez anos, e nenhuma edição me deixou tão ansiosa como esta! Sentia que estava a assistir aos jogos do Euro 2016! Havia qualquer coisa que me dizia que era este ano que aconteceria algo para o nosso lado. Parecia uma ligação cósmica que nos ligava a eventos passados, cheia de misticismos e sinais vindos do Além.

O pós-ESC 2016 (início do ano eurovisivo para mim) começou extraordinariamente bem. Portugal sagra-se campeão europeu de futebol!


Eu não sou muito de presságios. Simplesmente penso que se as coisas tiverem de acontecer, acontecem. No entanto, a partir desse momento, comecei a olhar para a coincidência do Euro 2004 e para o facto de a Grécia ter ganho o Festival da Eurovisão no ano seguinte, que também fora na UCRÂNIA!


Naquela altura era só uma coincidência e, à medida que as finais nacionais dos vários países foram acontecendo, fui ficando com a certeza de que este ano não seria o ano de Portugal, pois na minha opinião, haviam músicas extraordinariamente boas, capazes de ganhar o festival “com uma perna às costas”!

Contudo, a ânsia de ver o que a RTP andava a preparar era cada vez maior! De todo o tempo que sigo a Eurovisão, nunca a seletiva portuguesa me tinha suscitado tanto interesse como este ano (não que eu não siga o Festival RTP, mas confesso que o interesse por outras finais nacionais ou até mesmo o próprio Festival da Eurovisão é muito maior). Com tanto alarido que a RTP fazia em torno do assunto “Festival da Canção”, comecei a criar expetativas sobre o mesmo e a pensar se era este ano que mudaria alguma coisa em relação às edições passadas, e se seria este ano que passaríamos à final, sequer! 

Os pormenores do evento começaram a ser revelados e a minha primeira reação foi: “Ok... Ainda não é este ano que vamos à final”. Entretanto são revelados mais detalhes e, de entre todos, houve um que se destacou: “Serão permitidas canções cantadas noutra língua para além da portuguesa”. Aí comecei a pensar que algo poderia acontecer de diferente neste ano. Não quero menosprezar a língua portuguesa, pois acho que é uma das línguas mais bonitas que existe no planeta. No entanto, estava farta de ver o nosso país a ficar-se pela semifinal e achava que provavelmente o melhor seria tentar levar uma música noutra língua para que os espectadores pudessem perceber pelo menos a mensagem. 

Chegamos ao dia do veredito final. 5 de Março, o dia da escolha da música portuguesa para a Eurovisão. Apesar da grande agitação que tinha sentido aquando da preparação para o festival da RTP, a verdade é que me senti desiludida com as canções que estavam a concurso. Não gostava de nenhuma e os pensamentos negativos sobre a nossa participação em Kiev voltaram a surgir. 

Quando a música vencedora foi revelada, a minha primeira reação foi “O que é isto? Como é que vamos conseguir passar à final com esta música de embalar e um cantor que parece que está a ter um ataque de cócegas?” Pois bem... Acontece que eu estava completamente enganada!


Após a vitória de Salvador Sobral no FC, surpreendi-me imenso ao ver Portugal a subir cada vez mais nas casas de apostas online. Sim! Aquele país que estava sempre escondido nos lugares de baixo, estava a subir cada vez mais! Primeiro veio para 22º uns dias antes da final e, no dia a seguir à final do Festival RTP já estava em 5º. O meu primeiro pensamento foi “Ao menos já estamos na final”, que, de certa forma, até era o objetivo principal. Nunca me lembro de ver tanta azáfama noticiários à volta do tema “Eurovisão”. Só por isso, o Salvador já tinha ganho!

Começámos a aproximar-nos de maio e, consequentemente da semana das emoções. Com essa aproximação, assistimos ao boicote da Rússia. Por mais que custe a muitos a admitir, só temos a agradecer o facto de aquele país não ter participado, pois ter-nos-ia tirado muitos votos, sim, porque todos sabemos que a Rússia é muito beneficiada pelos países de leste no que toca a votações no ESC.


Finalmente a semana mais importante do ano chegou, e com ela vieram muitas alterações para Portugal nas casas de apostas, pois começavam a aproximar-nos da vitória. Primeiro em quinto, depois para quarto e quando o evento começou estávamos em terceiro.

Apesar do grande favoritismo, quis manter-me com os pés bem assentes na Terra, pois a desilusão podia ser sempre muito grande. Gostava da música, mas considerava que havia melhores.

Chegamos ao dia da 1ª semifinal. Nove de maio, o dia em que iríamos saber se a maldição que nos tinham posto, que persistia há seis anos, se quebraria, e por isso, estava muito ansiosa pela canção número nove, número da canção portuguesa. Por incrível que pareça a camisola do Éder, no Euro2016, também tinha o número 9. Aliás, o Éder e o Salvador tinham o mesmo penteado. Seria mais um sinal? A verdade é que aquando da atuação de Salvador, toda a gente se calou para ouvir aquela “canção bonita”, como o cantor e a irmã, Luísa Sobral, lhe chamaram desde a altura do Festival, em Portugal.

Era a única canção da semifinal cantada numa língua que não o inglês, a única que não tinha coros, bailarinos, pirotecnia, ou qualquer efeito; e a única em que o cantor não usava o palco principal. Apenas estava ali, naquela “bolacha”, só ele, o microfone e milhares de espectadores à volta. A única talvez que me tenha arrepiado verdadeiramente, e, mais importante, a única que talvez estivesse maioritariamente de acordo com o tema do festival deste ano, “Celebrate diversity” (em português, “celebrar a diversidade”).


Não queria estar confiante, mas por aquilo que se ouvia, certamente passaríamos à final. Não descansei enquanto não ouvi ao quinto “envelope” o nome “PORTUGAL”. Aí tive a certeza de que o sonho de trazer “o caneco” estaria mais próximo.

Quinta-feira, dia 11 de maio. Portugal não participava para passar, contudo tinha curiosidade de ver quem seriam os nossos principais adversários e, de entre os favoritos à passagem para a final, houve um que me surpreendeu. A não passagem da Estónia. Toda a gente ficou admirada. Como é que um dos grandes favoritos à vitória, nem sequer passou da semifinal? É a prova viva de que não se pode ter muita confiança, pois essas coisas são sempre imprevisíveis. 








O dia da final chegou. Nunca acreditei verdadeiramente na vitória de Portugal, ou melhor, acreditava que era possível, mas considerava sempre que havia melhores, pois afinal era de Portugal que se tratava. O único país em competição há mais tempo que nunca havia sequer chegado ao top 5.

Estava seriamente convicta de que a vitória iria para “o macaco” e Francesco Gabbani, da Itália. Desde o Festival Di Sanremo que achei sempre que a vitória iria para aquele país do Sul da Europa. Foi uma música que me despertou interesse desde o primeiro minuto, para além de que a letra era extremamente forte e, conjugava muito bem com a sensação de “frescura” que a música transmitia. Até no dia da final, quando vi a arena toda a dançar com o Francesco, pensei “Ora aí está o legítimo vencedor”. 


13 de Maio de 2017. Dia dos “três F’S”: Fátima, Futebol e Festival. Como disse no início desta crónica, não sou muito de presságios, mas a verdade é que este dia tem um significado místico muito importante para Portugal. Este ano foi o Centenário das Aparições de Fátima. O papa veio a Portugal para assistir às comemorações. Toda a gente estava com receio pois tratava-se de uma grande operação de alto risco, pois o Papa havia sido ameaçado e, por isso, haviam fortes medidas de segurança para garantir a segurança de Sua Santidade. Nesse mesmo dia à tarde, o Papa Francisco regressa a Roma. Tinha corrido tudo bem. Por incrível que pareça, mal o Papa levanta voo de Portugal, Itália começa a perder terreno nas casas de apostas e Portugal sobe para segundo lugar, ultrapassando a Bulgária e aproximando-se de Itália. Coincidência? Ajuda do Além? Não sei... Mas a Esperança aumentava... 


Está assim completo o primeiro “F”. Segunda etapa do dia: Futebol. Jogo do Benfica que decide se a equipa é tetracampeã ou não. Foi com muito orgulho e satisfação que soube que o meu Benfica tinha ganho o jogo e se tinha sagrado “TETRACAMPEÃO”! Apesar de gostar muito do Benfica, as minhas atenções estavam inteiramente voltadas para Kiev e, por isso, a esperança estava a aumentar ligeiramente. Dois dos três F’s estavam cumpridos. Só faltava ganharmos o microfone de vidro.

Eis que chega a altura de a canção número 11 subir ao palco e mostrar aquilo que vale. Tal como acontecera na primeira semifinal, toda a gente pedia para calar, pois a música de Salvador, parecia um momento chegado do paraíso, sem batidas fortes e apenas com a voz angelical, que só ele a sabia fazer. 

Eis que se ouvem todas as 26 músicas e chega o momento da votação. Sinceramente, a partir do momento em que o Salvador “espalhou a sua voz” pela Europa, achei que iríamos ficar nos dois lugares cimeiros da classificação do júri, contudo, a pior parte veio na votação do televoto.


Nunca me tinha sentido assim. Um nervosismo imenso tinha entrado em mim. Acho que desta forma, só mesmo nos jogos do Euro2016, aquando dos prolongamentos, ou do desempate em penalties. Parecia que o meu coração me ia sair a qualquer momento, de tanto palpitar!

Quando vi a nossa vitória no júri, só queria que não dissessem o nome de Portugal aquando das classificações do televoto, pois se tínhamos chegado até ali, não podíamos desistir a meio, e por isso, havia que ganhar! Foi uma grande surpresa quando vi a Itália em sexto lugar, ou seja, só podíamos mesmo ser nós a sair vencedores. Tudo bem que a Bulgária até se saiu bem e tudo mais, mas nós estávamos à espera daquele momento há 53 anos! A Bulgária só está há meia dúzia de anos no festival. Tínhamos de ser nós a trazer o caneco! Nem que tivéssemos que “comprar aquilo tudo”! 


Quando ouvi “the winner of the Eurovision Song Contest 2017 is PORTUGAL”, nem queria acreditar! Aliás, ainda hoje não estou bem ciente de que o festival vai ser em Portugal. É como se me tivessem anestesiado a partir do dia seguinte à vitória. Mas naquele dia, a vitória soube mesmo muito bem. Contudo, temos de ter em conta as palavras que o Presidente Marcelo disse a seguir ao Festival: “Eu fiquei com receio dos Portugueses, porque eles agora pensam que ganham tudo...” Pois bem, Sr. Presidente, acho que o que havia para ganhar já está ganho. Agora só daqui a dez anos, para repormos outra vez as contas no sítio.


Conclusão da história: Coincidências? Misticismos? Ajudas do Além? Pensem o que quiserem! A vitória é nossa! O caneco está cá e vamos ter “SÓ” o maior evento de música da Europa (ou do Mundo) em Portugal!


Com esta vitória do Salvador, espero mesmo que haja um “ponto de viragem” na música e no concurso, pois como ele disse no final do festival, “Music is not fireworks, music is feeling!” (em português: “A música não é fogo de artifício, a música é sentimento!”). Ok... Ninguém morre se houver um bocado de fogo-de-artifício, ou de efeitos. Até porque Eurovisão sem efeitos e tecnologia, não era a mesma coisa... No entanto, aquilo que eu gostaria de ver no festival, seria uma maior diversidade de estilos musicais, e não apenas música pop.

No que toca ao balanço da equipa organizadora, apesar dos contratempos que se fizeram sentir durante os meses que antecederam, souberam responder bem às necessidades. Ok... Não foram nenhuma Suécia 2016! Mas no geral corresponderam às expectativas.
Resta-nos ver como acontecerá por cá em 2018!

Até lá!

Imagens: Eurovision.tv, escportugal/Vídeos: BBC, Eurovision.tv, RTP




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