É por isto que lá devíamos estar - Primeira razão

AS TRADIÇÕES NÃO DEVEM ACABAR

       Sou uma rapariga da cidade. Nasci num meio urbano, gosto de movimento, de pessoas, gosto da beira-mar, da azáfama do dia-a-dia, de luz, de sonoridades. Nasci nos tempos modernos, mas também dou muito valor às tradições, aos antepassados. Cresci num meio citadino mas sempre influenciada pelo meio rural, proveniente das minhas origens, dos meus ascendentes. Lá, a tradição ainda é o que é. Todos defendem que se devem manter todas as práticas de geração em geração. E assim é durante todo o ano. Quando procuro um refúgio fora da cidade, entro naquele meio onde me deparo sempre com os mesmos costumes, e é notória a paixão daquela gente, ao sentirem que esses valores não se perdem ao longo dos anos.

       Na minha paixão pela música, e no campo eurovisivo, vejo as coisas exactamente da mesma forma. Desde a sua estreia na Eurovisão em 1964, Portugal ficou de fora em quatro anos: 1970, 2000, 2002 e 2013. E não existem certezas da sua presença daqui em diante. Ora, isto é ou não é uma tradição? Foram 46 participações, 46 anos a divulgar a nossa cultura lá fora. É por isso que acredito que todas estas desistências ocorreram por motivos válidos. Neste momento, estamos sim com graves problemas financeiros, estamos com um povo cada vez mais desinteressado e desanimado, face às dificuldades que se atravessam. Mas apesar de todos estes fundamentos, que têm pano para mangas, existe um valor com tamanha preciosidade que nunca, mas nunca se deveria extinguir: a rotina de, naquele sábado de maio, às 20 horas, toda a família se reunir no sofá para torcer pelo seu país. 

      

       Com isto, quero eu dizer que o esforço para manter esta tradição deveria ser maior. Muitos podem ter a opinião de que não sei do que falo, que não estou no direito de apontar se se fez tudo o que estaria ao nosso alcance para dar continuidade à participação portuguesa no certame. É verdade que não sou especialista no assunto, não estou nesse meio, mas acredito que existem diversas formas e esforços que tornariam possível a manutenção desta importante tradição. Vejamos como no ano passado foi realizado, em Baku, um bom espectáculo, e como este ano, na Suécia foi possível manter a qualidade, com muito menos recursos. 

       Os maus resultados do país e a desmotivação dos telespectadores também assombram a desistência da participação em 2013. Neste caso, haveria uma necessidade de olharmos para os países nórdicos, em que tudo pára para assistir a um Melodifestivalen ou a um Melodi Grand Prix. Faz-me recordar os tempos em que cá também era assim. Ainda há pouco tempo, num programa de televisão, Inês Santos recordou que, na sua infância, no dia do Festival RTP da Canção, as suas tias corriam durante a tarde para o cabeleireiro para se arranjarem e estarem em casa, a tempo e horas, de assistirem esbeltas ao espectáculo. Era um dia especial, um dia de festa. E que bom seria manter este fascínio, esta adrenalina, este gosto empolgante. Ao invés de desistir, seria importante mudar todo o formato do festival. Apostar em algo mais semelhante ao que se faz nesses países nórdicos, mais moderno. Adaptar o Festival da Canção à nossa geração, e desligar um pouco do registo da era de 70 que, apesar de terem sido épocas de sucesso e motivação, já está um pouco ultrapassada. Como eu e todos os eurofãs adoraríamos assistir a um FC no Pavilhão Atlântico, por exemplo, tal como aquelas enormes arenas, com enchentes ano após ano. E talvez seria esta uma forma de as receitas ajudarem a delegação portuguesa a viajar para a cidade anfitriã da Eurovisão. 

       Neste momento, e para que não se apodere de todos os fãs eurovisivos a desilusão do dia em que a RTP anunciou oficialmente a sua desistência do ESC 2013, seria importante mudar esta mentalidade, criar novas estratégias para voltar a prender o público à televisão e renascer a magia do Festival Eurovisão da Canção…para que esta tradição nunca acabe. 

Imagens: Google

15/06/2013