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Crónica sobre as participações de Portugal na Eurovisão: "Portugal no Coração" de Os Amigos (1977)

     
            A 22ª edição do Festival Eurovisão da Canção decorreu no dia 7 de Maio de 1977, em Londres. A verdade é que o evento estava planeado para acontecer a 2 de Abril do mesmo ano, mas a greve de fotógrafos e de técnicos da BBC impediu que tal acontecesse. Neste ano nenhum país se estreou, tendo a Tunísia demonstrado o seu interesse em participar. Como retiradas tivemos a Jugoslávia. A Suécia, após um ano de ausência, voltou ao Festival. 


            Por cá, e para tentar remediar os maus resultados que o nosso país tinha obtido no concurso, foram escolhidos Os Amigos e a canção “Portugal no Coração”. Um grupo interessante, constituído por cantores profissionais que tentaram (à sua maneira) representar da melhor forma este Portugal. A música de Fernando Tordo até nem era má de todo, mas faltou-lhe qualquer coisa. Era um pouco morta para aquela altura, em que outros estilos musicais estavam mais na moda. O facto de também estarem a cantar seis cantores, ao mesmo tempo, faz com que se perca a noção de quem está a cantar o quê e também de se poder avaliar as capacidades vocais de cada um. Penso que foi isso que fracassou. O atropelamento de vozes não funcionou nem bem, nem mal. Simplesmente não funcionou… A letra de José Carlos Ary dos Santos, e tal como já aconteceu em participações passadas, é um hino ao nosso país e ao nosso povo. O sujeito do poema que compõe esta letra afirma que os portugueses devem dar as mãos e serem amigos, porque partilham o mesmo pão. É também de notar, nesta letra, as várias referências ao 25 de Abril que ainda estava bem vivo (apesar de já terem passado 3 anos). Algumas delas são: “Portugal foi a razão/ por que um dia morreu meu irmão”, numa clara referência à Guerra Colonial; “Portugal já tem idade/ para o povo entender liberdade”. Inclusive, na própria apresentação no ESC, todos os cantores tinham um cravo vermelho (ou nos vestidos ou nas mãos). As últimas três estrofes do poema são uma autêntica repetição, que cansa um pouco quando se ouve. Ao longo da letra o nome “Portugal” é repetido 9 vezes. Isto é que é patriotismo e orgulho na nação! 

            
            Também ainda não foi desta que alcançámos a tão desejada vitória (e quando será??). Portugal, apesar de todos os seus esforços, classificou-se em 14º lugar com 18 pontos. Ficou precisamente a 33 pontos de ocupar o 10º lugar do festival e que lhe permitiria ficar “relembrado” no top 10, daquele ano. O lugar que todos queriam ocupar foi entregue à França. A cantora Marie Myriam acabou por vencer com a canção “L’Oiseau et l’Enfant”, arrecadando 136 pontos. A França acabou, assim, a sua série de vitórias no ESC. Com um total de 5 vitórias, este país alcançou a última com Marie Myriam. Esta cantora é luso-francófona (nasceu em Braga), por isso Portugal deve também ter-se sentido (e também, ainda nos dias de hoje) um pouco orgulhoso pela vitória dela no Festival. Afinal de contas, sangue lusitano corre-lhe nas veias! 

            
            A Suécia, que tinha regressado este ano acabou por ficar com o último lugar e com apenas dois pontos (mas mais vale dois do que nenhum).
            O Festival, deste ano, ficou ainda marcado pelo regresso da regra que ditava que cada país deveria cantar na sua língua oficial (esta regra esteve ausente entre os anos de 1973-1976). As únicas excepções a esta “lei” foram a Alemanha e a Bélgica, que já tinham escolhido as canções antes da regra entrar em vigor. Desde o início da Eurovisão que se constatou que as “línguas” mais bem sucedidas sempre foram o francês e o inglês. O que se pode observar pela tabela classificativa é que dentro do top 10, apenas 4 músicas não foram cantadas em inglês ou francês (a da Espanha, Grécia, Suíça e Finlândia).
             Pessoalmente sou a favor de que cada país cante na sua língua nativa. Afinal a diversidade linguística serve para isso mesmo: mostrar que, apesar de a língua ser diferente, todos se podem entender através da música, independentemente da língua utilizada.


            Escrito por Armando Sousa, 13/07/2011

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